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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Para início de conversa

Vou usar o Rubinho, e a velha questão da “fé e da dúvida”, levantada em seu Blog como gancho para dar início a esse novo espaço.

Fé é a certeza, a Bíblia deixa isso claro. Logicamente não existe espaço para dúvida, em se tratando de fé.

O problema todo se localiza em que nem toda certeza é fé, ou mais sério ainda, nem toda certeza é realmente certa. Daí o antigo debate teológico e filosófico entre a fé e a razão.

Dúvida e razão casam-se bem. Normalmente a dúvida é o sinal de fome do intelecto. (Exatamente hoje cientistas europeus estão dando início a uma pesquisa no valor de US$ 8.000.000.000, tida como o experimento mais caro do mundo, para satisfazer essa fome de saber).

Teria a fé um elemento intelectual? Evidentemente sim. Mas também é óbvio que ela não para só no intelecto, se não seria puro saber, e não fé. Além disso, sabemos que a fé se aventura em assuntos, lá não muito racionais para boa parte das pessoas. A fé tem um forte elemento espiritual. Assim como o amor é espiritual.

A fé exige, certas vezes, uma confiança incondicional. Quanto mais forte, firme e maior a fé, maior é essa confiança e essa incondicionalidade.

Pensemos agora no Evangelho, onde a fé entra como princípio, doutrina básica: À luz do relato bíblico vemos que a confiança que Deus exige do ser humano é bem variada com elementos variados. Todavia, o básico, a característica comum associada a essa fé, está sempre em crermos na existência de (um/o) Deus e em sua bondade infinita. Fora isso a pregação do Evangelho mostra-se bem diversa. Por exemplo: João e Jesus pregaram que o povo se arrependesse e cresse no Evangelho. Mas esse “Evangelho” não poderia ser o mesmo que Paulo pregou da “cruz de Cristo”, pois Cristo não havia ainda sido crucificado, nem o da ressurreição, pois Ele ainda não havia ressurgido.

Outro exemplo: os primeiros discípulos (como Tomé) creram em Jesus ressuscitado, pois eles tiveram uma experiência empírica com o Senhor ressurreto. Ou seja, uma fé, naquilo que viram e experimentaram. Não uma fé irracional. Com certeza aqueles primeiros discípulos não exigiam que outros que não tiveram a mesma experiência que eles, cressem assim cegamente. Afinal eles mesmos não acreditaram no início... Por isso, segundo o Novo Testamento, os milagres acompanharam a pregação, como confirmador (empírico) da mensagem.

É verdade, certas experiências com Deus produzem uma fé, que não deixa mais espaço para a dúvida (em determinada área). Mas como não somos oniscientes, permanecem ainda muitos pontos de interrogação em outras áreas. E boa parte dessas dúvidas é saudável. Algumas de fato não levam a lugar nenhum e outras podem até mesmo levar ao tropeço.

Porém o maior perigo não está na dúvida, mas na certeza. Pois os certos, geralmente não mudam de opinião. E correm o risco de também não mudarem de assunto, tornando-se assim em perfeitos fanáticos. De gente assim, seitas de todo tipo, em todo mundo, estão cheias.

7 comentários:

  1. Bom prólogo! Quero mais! Vocês não vão parar agora, né? Vamos lá: fé, dúvida, crença, razão, confiança, espiritualidade, experiência, ... cavem mais que tem mais coisa aí!!!
    Ah, Roger, eu sabia que vc não ia se afastar da net... e não era fé!!!

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  2. Rubinho,
    te invejo por conseguir criar um Blog longe destas questões religiosas. E só atracar nelas de vez em quando.

    Já o Alysson, o Luiz ou o Beto, eu invejo pois são escritores literatos, com talento nato para trabalharem e brincarem com nossa língua mãe. O Brabo, nem se fala...

    Outros como o Felipe, Vítor, Volney, Lou e Alex, são teólogos. Gente que já estudou e leu bastante coisa da matéria desde criancinha.

    Mas quando deixo a inveja de lado, e enquanto tiver gente assim por perto, não tem jeito mesmo de parar.

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  3. Bem aventurada a fé cheia de dúvidas. Mais um bom blog no pedaço :-)

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  4. Tenho crido que a teologia é mesmo libertadora por definição. Ela deve ser o produto de experiências libertadoras.

    Valeu pelo novo espaço.

    Abração.

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  5. Gostei muito Roger!
    Começou perfeitamente!

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  6. Roger,

    Parabéns pelo texto e pela coragem de iniciar este novo projeto! Espero estar mais perto agora.

    Aliás, sobre o que você escreveu aqui, gostaria de comentar algumas coisas.

    Quando se olha para uma definição, como essa descrita no primeiro versículo do capítulo 11 de Hebreus, a primeira coisa que nos vem à mente é uma pergunta. Se há um texto nos dizendo que fé é alguma coisa, é porque alguém perguntou “o que é fé?”. Portanto, a fé já nasce com um questionamento, com uma dúvida.

    Opa! Mas aqui tem uma palavra contrária à dúvida, que é “certeza”. Certeza de quê, afinal? “Daquilo que esperamos”, nos responde as Escrituras. Prova? De quê? “Das coisas que não vemos”, nos responde novamente as Sagradas Escrituras.

    Como pode haver dúvida e certeza juntas? Apenas através da fé. Através desta palavra, da fé, nos sentimos tocados por algo que ultrapassa as nossas dúvidas e certezas. Por mais necessário que seja, ter dúvida apenas ou ter certeza apenas não é o mais importante. É preciso dúvida, é preciso certeza, e as duas convivem juntas numa relação de aprendizado do que é fé.

    Se fé não estiver para além de todas as nossas dúvidas e certezas, sinto dizer que aquela luz no finalzinho do túnel ainda não foi visualizada por nós. Falta algo na nossa vida por causa disso. O amanhã fica mais e mais sombrio.

    Não prendamos a fé à certeza, porque isto se torna idolatria. Não prendamos a fé à dúvida, porque isto se torna indiferença. Simplesmente deixemos a certeza transformar-se em dúvida e a dúvida transformar-se em certeza. Assim, estaremos regando aquela sementinha de mostarda, sobre a qual Jesus falara (Lc 17,6), que crescerá e dará frutos.

    Um abraço.

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  7. Já estou gostando dessa nova plataforma, só de ver o rosto de vocês ao lado dos comentários já é uma alegria a parte.

    Tuco, Alysson, Vitor e Felipe, obrigado pelas generosas palavras.

    Estamos aqui também para apoiá-los nessa saga de fé intelectual e questionadora de ser um cristão consciente.

    Grande beijo,

    Roger

    PS: Vítor, seu penúltimo Post no Bereanos já me fez escarafunchar nas bibliotecas aqui e descobrir os livros do Rudolfo. Quaquer dia eu encaro, nem que seja um capítulo dele.

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