Viver é bem melhor que sonhar, assim como fazer é bem melhor do que só falar. Disse Caio Fábio que a teologia de alguém expressa o estado de espírito daquela pessoa, sua vida, o drama que enfrenta naquele momento. Minha teologia, então, aponta para a LIBERDADE.
Meus dramas momentâneos são basicamente dois: o primeiro, mais sério, é a doença de mamãe, o segundo, não menos sério é o meu desemprego. Preferira apenas divagar sobre esses assuntos em vez de ter que conviver com eles diariamente. Mas não posso.
Falta-me agora a habilidade da minha infância para transformar em palavras verdadeiras e simples experiências subjetivas desse meu labutar diário.
Talvez em uma redação da escola escrevesse,
"estou muito triste, pois ouvi papai dizer que mamãe está morrendo. [Ou simplesmente], mamãe ficou de repente muda e esquisita, todos meus irmãos e eu rezávamos desesperadamente para Deus curá-la, mas ninguém mais acredita que isso vai acontecer... Ela só piora a cada dia mais e mais."
A quilômetros de distância só me resta o consolo de conviver com o sentimento de culpa por não poder estar perto para abraçá-la, para chorar junto com papai e dividir a carga com meus irmãos. Não que alguém me cobre isso, nem mamãe, com a habilidade que as mães normalmente têm para nos manipular emocionalmente faria isso, pelo contrário, seria a primeira a tirar qualquer grilo da minha cabeça. Porém, a cada dia contabilizo essa minha dívida familiar e peço a Deus para perdoar-me.
Outra grande dívida vou acumulando frente a minha esposa, graças a meu desemprego. Tento amortizá-la desempenhando bem ou mal o papel de “dono-de-casa”. Às vezes forço a barra e tento contabilizar o débito com minha família no Brasil na conta da minha amada, como se estar aqui na Alemanha não tivesse sido uma escolha só minha. Fato esse que só aumenta meu passivo, pois morar aqui foi uma decisão anterior a conhecê-la. Como convivo com esse segundo problema bem de perto, não adianta muito pedir a Deus pelo perdão no final do dia, pois na manhã seguinte ele já me tortura antes mesmo de eu acordar. Talvez na redação do grupo escolar simplesmente colocasse o título, “Deus me dê um trabalho” e escreveria 10 ou 15 linhas expressando minha profunda tristeza, outras exaltando a onipotência divina, sua bondade paterna, e arremataria com algum dizer despretensioso que deixasse escapar a fé simples de uma criança que sabe que Ele tem tudo sob controle.
Mas não tenho mais a valentia das crianças e talvez por isso mesmo esses problemas me assombrem tanto. Também por me faltar a singeleza e a ingenuidade infantis apelo para minhas teologias. Onde foi que a fórmula falhou? Onde está o “outro Deus”, tendo em vista que o conceito tradicional mostrou-se falso? Onde foi que li errado na Bíblia? Qual foi o autor que menosprezei e o que era mesmo que me dizia e preferi evitar?
E assim todos os mapas que lia, todas as placas que apareciam pela caminhada a fora, todos sonhos e pesadelos noturnos apontavam em uma só direção: Liberdade.
Não que a liberdade fosse a solução destes meus problemas. Mais do que isso, ela fazia parte da causa, do problema e da solução.
Fatalmente o primeiro paradigma que tive que romper foi com meu conceito latino americano e "calvinista" de destino ou no popular, “Deus quis”. Deus não quis e não quer isso! E isso não diminui em nada seu poder, pelo contrário só reforça-o. Deus não quer meu desemprego e nem a doença de mamãe. Por definição, acima de tudo, Deus é Amor. E assim removendo um pilar, o novo começa a tomar lugar: o conceito de liberdade. Não existe palavrão mais ofensivo para um moralista do que esse: liberdade (o que na verdade e uma aberração, pois só pode haver moral e ética se houver liberdade).
E aí está o verdadeiro poder de Deus, na liberdade ética. Na escolha moral. Na opção voluntária e consciente pelo bem, pelo amor. E isso não só em sonhos ou palavras, mas em vida e em atos. Traduzir vida em palavras e sonhos é um talento que só as crianças e os poetas tem, mas transformar palavras e sonhos em vida é a plena liberdade dada gratuitamente pelo Criador a todos homens especialmente a cada cristão.
Fotos: Mamãe e a gente nos idos de 70
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Hoje pela madrugada enquanto não conseguia mais recuperar o sono, após a Anna-Lisa (minha filha) ter me acordado às 3 da madruga da Alemanha, fiquei tentando escrever este Post. Provavelmente neste mesmo tempo mamãe estava se encontrando com o seu Salvador e Senhor. Ela foi hoje liberta.
Não entendo muito coisa desta doutrina mas o meu devocional matutino foi Mc 12:18 sobre a realidade da Ressurreição! É fato que Deus planeja muita coisa em nossas vidas. Certamente bem mais do que imaginamos ou de fato cremos.
Pela hora do almoço quando voltei para casa, após sair para passear com Anna-Lisa e vermos a primeira neve deste ano, ouvi o recado de meu pai na secretária do falecimento de mamãe, que sofria de Demência de Pick a uns 2 a 4 anos. Meu irmão me ligou logo em seguida. Hoje viajarei para o Brasil com minha irmã para o sepultamento. Continuem orando pela gente.
Será a primeira vez em 10 anos que estaremos todos novamente reunidos. E a última vez com mamãe. Dou graças a Deus pelos 70 anos que ela esteve neste mundo e pelos 38 que pude desfrutar de seu amor maternal e aprender um pouco de sua fé.
As palavras de Jó me vem ao Coração: o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR!
Obrigado pela amizade que apesar de virtual é bem real e calorosa.
Roger,
ResponderExcluirAntes de mais nada, conte com minhas orações pela saúde de sua mãe e para que Deus abra as portas de um trabalho para você. Não sei até que ponto essas duas coisas estão entrelaçadas no plano de Deus, mas sei que Ele não está indiferente a nenhuma delas.
Quando "teologamos" pela internet, tendemos a ver uma mente do outro lado e interagimos com as idéias do outro. A frieza da tela, que impede ou dificulta o ver o outro como pessoa integral empobresse o debate. Com seu post, conheci um pouco de sua alma e mais seu irmão me sinto agora.
Não quero fazer teologia em cima de sua experiência. Não quero discutir livre-arbítrio e predestinação sobre este ponto. Quero apenas, como irmão em Cristo, dizer que meu coração está contigo, e que tudo que que lhe darei de teologia agora é:
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Rm 8:28
Se quiser enviar o nome de sua mãe e a cidade que ela mora no Brasil, faça isso por email: clovisjose@gmail.com
Em Cristo,
Clóvis
Roger,
ResponderExcluirEu gostaria de dizer que tudo isso vai passar, mas não posso dizer que não deixará cicatrizes.
Nossas tribulações nos fortalecem na fé, contudo, pelo menos no meu caso, apenas depois que elas passam e vivo dias melhores. Enquanto estou no meio do furacão fico brava, angustiada e jogo tudo em cima de Deus (tudo mesmo!).
Às vezes nem queremos a felicidade, só queremos não sofrer.
Não tenho palavras de consolo, apenas de solidariedade de mais uma sofredora neste mundo.
Desejo, do fundo do meu coração, que Deus demonstre mais uma vez (e muitas outras milhares de vezes) o amor Dele por você e por toda a sua família.
Grande beijo!
Muito obrigado, Clóvis e Nani,
ResponderExcluirexiste um grande mistéio por trás disso tudo. Alguns conseguém até enxergá-lo.
Hoje pela madrugada enquanto não conseguia mais recuperar o sono, após a Anna-Lisa (minha filha) ter me acordado às 3 da madruga da Alemanha, fiquei tentando escrever este Post. Provavelmente neste mesmo tempo mamãe estava se encontrando com o seu Salvador e Senhor. Ela foi hoje liberta.
Não entendo muito coisa desta doutrina mas o meu devocional matutino foi Mc 12:18 sobre a realidade da Ressurreição! É fato que Deus planeja muita coisa em nossas vidas. Certamente bem mais do que imaginamos ou de fato cremos.
Pela hora do almoço quando voltei para casa, após sair para passear com Anna-Lisa e vermos a primeira neve deste ano, ouvi o recado de meu pai na secretária do falecimento de mamãe, que sofria de Demência de Pick a uns 2 a 4 anos. Meu irmão me ligou logo em seguida. Hoje viajarei para o Brasil com minha irmã para o sepultamento. Continuem orando pela gente.
Será a primeira vez em 10 anos que estaremos todos novamente reunidos. E a última vez com mamãe. Dou graças a Deus pelos 70 anos que ela esteve neste mundo e pelos 38 que pude desfrutar de seu amor maternal e aprender um pouco de sua fé.
As palavras de Jó me vem ao Coração: o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR!
Obrigado pela amizade que apesar de virtual é bem real e calorosa.
Um beijo fraterno,
Roger
Roger
ResponderExcluirDevido à correria de ontem, com o episódio do Thomas e minha estada em São Paulo, só abri o Bloglines agora.
Receba meu abraço muito apertado, apesar de cibernético. Não existem palavras para esses momentos, só solidariedade e orações. Deus abençoe você e toda sua família.
Roger,
ResponderExcluirReceba minhas condolência pelo falecimento de sua mãe. Quando a minha faleceu, jovem aos 33 anos mas depois de muito sofrer com um câncer, senti que ela tinha sido liberta e disse graças a Deus.
Sei que só o Espírito Santo pode consolá-los, então oro a Ele por isso.
Em Cristo,
Clóvis
Roger,
ResponderExcluirMeus pêsames =/
Que o amor de Deus cubra a vida de vocês.
No Amor e na Verdade que nos une,
Vini
Querido Roger,
ResponderExcluira separação é a uma experiência dura, expõe-nos aos limites de nossa existência.
Obrigada por compartilhar com simplicidade seus sentimentos tão íntimos.
Minhas palavras não consolarão, esse papel é do Espírito, mas quero dividir com você aquilo que recebi quando enfrentei a perda de um filho:
I Tessalonicensses 4: 13-18. O conhecimento da ressurreição traz consolo e esperança;
Jesus, nosso sacerdote, conhece nossas fraquezas. Sabe o que é padecer, pois foi gente como a gente é. Por isso nos ajuda em nossas dores e problemas e limitações. Ele te consola e te anima.
Estou orando por vc e sua famíla.
Um abraço de Raquel
Roger querido,
ResponderExcluircreia, estou contigo nessa. Seja em oração ou pensamentos não te deixarei um só momento. Conheço tua dor, e sei que a dor qdo dói na gente dói muito mais que em qualquer outro.
Receba meu carinho e minha amizade em todo instante, e saiba que Deus está contigo e com os seus.
Sê forte sempre.
Roger, meus sinceros sentimentos.
ResponderExcluirQue o espírito Santo Consolador esteja contigo em todo esse triste momento.
Em Cristo,
Ednaldo.
Roger,
ResponderExcluirReceba meus sentimentos. Que o Deus de toda a consolação esteja com você e sua família, nesse momento difícil.
Graça e paz.
Irmão Roger;
ResponderExcluirQue nosso Deus e Salvador Jesus Cristo te abençoe e guarde, neste momento delicado de sua vida.Amém.
Meus sentimentos.
Em Cristo,
Eduardo Neves.
Grande Roger como vc escreveu sobre a Liberdade, mas nela de uma forma teológica, quero te parabenizar pelo conteúdo exposto por você. Quanto ao falecimento de sua mãe creio que entre a nossa vontade e a do Soberano Senhorsempre valecerá a Dele, pois como vc muto bem expressou Ele é amor e quem ama sabe o que ´e melhor para a pessoa amada. Para Deus dar um basta no sofrimento dela era necessário, pois Ele a mava como a uma filha querida.
ResponderExcluirQuanto a segunda colocação sua cumpri-me lembrá-lo que este é o espinho que Deus colocou em você. E talvez para lembrá-lo sempre de que Ele é o Senhorn e Criador de todas as coisas, e por isso só Ele é conhecedor do que o melhor para nós. E Ele espera de cada um de nós é a certeza que não no deixará desamparado de forma alguma. E você, como eu, conhecemos tantos textos bíblicos que nos provam isso. Um fraternal abraço. Assis
Meu Amigo,
ResponderExcluirFoi uma alegria enorme pra mim poder encontrá-lo em nossa cidade natal e saber quase por acaso que o vínculo que nos liga transcende o fato bastante corriqueiro de sermos filhos comuns de uma cidade relativamente grande, e o fato ainda mais difundido de estarmos unidos pela mesma fé; vai além, nossos pais têm suas raízes fincadas na mesma terra, uma cidade tão modesta quanto desconhecida: Tarumirim. Corre em nossas veias esse mesmo sangue modesto, e o fato de você estar morando na Europa não é capaz de reparar essa situação.
Registro aqui meus sentimentos em relação a sua mãe, sem deixar de celebrar contigo a "realidade da Ressurreição".
Que o Pai Nosso, mas também a Mãe Nossa, a Ave Maria que tua mãe sempre respeitou e amou, a tenha nos braços e nos lábios.
Um abraço caloroso.
Aguardo você e sua família para um almoço e uma conversa mais longa da próxima vez.
Roger,
ResponderExcluirCom minha mãe acamada por um avc há 4 anos e meu pai envelhecendo a olhos vistos, além de um desemprego incômodo de meses, solidarizo-me com você; peço a Deus que seja teu consolo neste momento triste de despedida (momentânea) de sua mãe e te dou um forte abraço fraterno
Roger,
ResponderExcluirFui agora mesmo, depois de ler o seu post, pegar minha Bíblia. "Para tudo há momento, e tempo para cada coisa sob o céu", me disseram as tão conhecidas sagradas letras de Eclesiastes. Preferiria ficar calado a falar, mas minha alma se inquieta para lembrar você daquilo que Fernando Pessoa deve ter dito quando pensava em morte: "A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final".
Se o nosso conterrâneo Beto Guedes canta que "tudo o que move é sagrado", por que não dizer que, no vazio, o Espírito de Deus ainda paira sobre a face das aguas? Aliás, não é no silêncio que a ressurreição acontece?
Já disse, mas quero mesmo é ficar calado. Inclusive depois que passei o olho em Mc 12,18ss. Que coisa linda! "Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos".
Ninguém morre. Em Deus, Abraão, Isaac, Jacó e sua Mãe vivem para sempre. Não fomos feitos para morrer. Na dúvida, haverá, sim, um ponto final, como notou Pessoa, porém nada impede de que outra vida seja escrita logo depois do suposto ponto final.
Uma história de sua querida mãe se foi. Você e sua família podem escrever outras, porque ela ressuscitará cada vez que dela se falar. Foi assim com Jesus, será assim com ela e um dia com todos nós.
Que sua ela descanse em paz.
Com pesar.
Roger, vim aqui para lhe visitar e me deparo com essa triste notícia, e não gosto de gastar palavras quando o assunto é luto: não há palavras. Há o meu sentimento é sincero.
ResponderExcluirSou a mais nova de uma família de idosos, e tenho acopanhado, um a um, a morte de todos meus familiares, sempre com aquela triste pergunta: quando será o próximo?
Também me debato com um desemprego aos cinquenta e um anos, idade em que gostaria de estar tranquila.
Fique com Deus e com meus sinceros sentimentos.