Você já reparou que o Nazareno se autodenominava muito mais vezes como o “Filho do Homem” do que como o “Filho de Deus”?
São Paulo assim pensou:
“que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.”
Independentemente de sua filiação humana ou divina, debate esse que sacudia a igreja nos primeiros séculos, Jesus se via como “filho”.
Não sei quanto a você, mas eu odeio quando alguém que não seja meu pai me chama de filho. É a expressão máxima do patronizing, do tutoramento, aquela voz com ar de superioridade como quem quer te proteger, mas ao mesmo tempo subestimando suas mais nobres capacidades, sua autonomia e liberdade. Filho...
Mas Jesus não estava nem aí: como se não já bastasse na trindade fazer o papel de filho resolveu passar por isso também como homem.
Os pais normalmente querem seus filhos independentes, seria com Deus o contrário? Ou reformulando: Será que os pais querem de fato seus filhos independentes?
Vamos agora olhar essa questão por outro prisma. Como Deus absoluto, infinito no tempo e no espaço, Jesus, não tinha muitas escolhas. De alguma forma ele se formou no seio de Maria com um destino traçado: o Messias. Boa parte de sua Odisséia já estava relatada de forma homérica nas escrituras sagradas do judaísmo. Restava-lhe apenas cumprir a risca o plano. Em algum momento de sua existência como homem ele tomou total consciência de sua identidade, de seu papel, do trabalho a ser feito. Obviamente essa descoberta se deu muito cedo, pois ainda criança dizia: vim para cuidar dos negócios de papai.
A carga genética que Jesus trazia (se é que podemos expressar-nos assim, de maneira tão atual um acontecimento de mais 2000 anos) deveria, no mínimo, espelhar a de seu pai terreno José – Jesus, o filho do carpinteiro.
O problema que muitas vezes nos assombra é que esse mesmo carpinteiro de Nazaré foi radical com um dos seus melhores discípulos no que tange às perspectivas meramente humanas (Mt 16:23):
“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.”
Às vezes nos apressamos em categorizar tudo que é humano como maligno. Mas não é isso que Jesus está a dizer. O ponto crucial aqui está em desprezar a perspectiva divina retendo só a humana.
E nessa passagem vemos de forma clara o lado humano de Jesus. A possibilidade real de sua própria escolha, ao chegar o tentador na pessoa de um de seus melhores amigos. O plano poderia ter ido por água abaixo... mas, isto seria impossível.
Esse é o paradoxo que nos cerca. Jesus poderia (teoricamente) ter fracassado. Suas tentações, a cruz e tudo mais não foram teatro. Obviamente Deus não permitiu que Ele fosse tentado acima de suas forças– e conosco é assim também. E suas forças tinham limites, tanto que Ele morreu. Ele poderia ter pecado, mas isso seria impossível. Ele era o Filho de Deus, exclamou o centurião no Gólgota.
Como homem, Jesus estava limitado no tempo e no espaço. Aqui, conosco, suas escolhas deveriam ser pautadas através de fatores diversos como oração, meditação, estudo das escrituras, mas também raciocínio, vontade, conselhos ou circunstâncias. Jesus melhor do que ninguém era dono do seu próprio nariz. E por isso mesmo poderia ser humilde suficiente para lavar os pés dos discípulos, não aceitar ser coroado como rei ou renegar sua mãe e irmãos em função de sua família de fé. Jesus era livre para fazer suas próprias escolhas e porque fazia suas próprias escolhas era livre.
Mas a sociedade não quer uma pessoa assim. Querem um filho que seja sempre criança, que esteja sempre sobre tutela. Deus não age desta forma.
Por isso que na ressurreição o Pai reafirma sua paternidade sobre Jesus (Rm 1:4). E Ele como que protagonizando a parábola que há pouco saíra de seus próprios lábios, retorna para a casa de seu Pai, agora como homem adulto: eu e o Pai somos um e quem me vê a mim vê o Pai.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirIsso é perseguição. Primeiro o Lou, depois o Alysson, agora vc. Essa tal da liberdade anda me perseguindo.
ResponderExcluirTuco,
ResponderExcluirperseguição... é muito forte!rs
se não estivesse na net eu diria que é apenas uma inconfidência.
Libertas quae sera tamem.
Abração,
Roger
PS:Mal posso esperar o dia dos pais chegar para roubar seu texto do "fundão"!Ah é... já vou deixar ele engatilhado aqui por via das dúvidas.