Mais uma última eu o vi:
Foi em um destes verões quentes d´aqui. Quando a noite estava ainda clara e o sol brilhava teimosamente. Resolvi dar uma passada na bilblioteca do bairro, algo que faço religiosamente, para me deixar seduzir por um daqueles tesouros de papel.
Como não tinha um alvo específico me contentei em folhear a Spiegel. Em outras ocasiões adentrava aquele templo tendo já em mãos o mapa da mina, que me guiava a Thomas Mann, Goethe, Weber ou a um outro clássico.
Foi quando o vi entrar com seu olhar sério, mas descontraído, que deixava transparecer uma ingenuidade castanha clara, típica dos seus dezoito anos.
Ele era esbelto, alto, não fraco e belo. Fiquei contemplando-o por alguns minutos num mixto de inveja e paixão. Pensei em me aproximar e puxar conversa, afinal tínhamos como mestre comum a mesma criança que nos conduzira pela mão até a adolescência. Certamente ele me ouviria com prazer. Poderia lhe alertar sobre algum perigo futuro. Talvez falasse pouco, lhe abraçaria e deixasse que ele mesmo se abrisse. Seria melhor mesmo ouví-lo.
E falei rigorosamente para ele de coisas essenciais, das quais não se deve em hipótese alguma abrir mão: do valor dos sonhos, dos santos e da amizade. Ressuscitei nele a calma e a coragem. Lhe falei algo sobre amor e perdão. Outras coisas das quais já não me lembro mais, lhe transmiti com um olhar e um forte abraço. De forma respeitosa beijei sua face com se beija a de um mestre querido.
Fiquei orgulhoso de reencontrá-lo ali, ainda que se mostrasse fraco e cheio de dúvidas. Não querendo mais atrapalhar sua leitura, peguei um romance de Alexader Dumas e me despedi com um aceno. Já estava na hora de ir para o treino de voleibol.
Ah! Um momento sublime, desses que só as câmeras digitais do coração conseguem registrar. Né?
ResponderExcluirIsso mesmo. Um registro difícil de ser revelado.
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