A frustração que F. Viola deixa transparecer nas páginas de seu livro tem o mesmo sabor acri-amargo que já percebi na expressão de muitas pessoas que cresceram nas fileiras de uma igreja evangélica. É aquele velho sentimento de amor e ódio, que todos nós de uma forma ou de outra cultivamos em relação àqueles que idolatramos e um dia vieram a nos decepcionar, como por exemplo, nossos pais ou um outro modelo qualquer.
Livrar-se desse sentimento é uma missão quase impossível.
Por isso tantas igrejas que se iniciam de um desgarrado - ou desgarramento - cai fatalmente nos mesmos erros um dia condenados se não em piores. A psicanálise explica bem esse fenômeno.
O elemento que F. Viola destaca em seu livro a cada capítulo como sendo “paganismo” que se infiltrou bem cedo na igreja não passa de um fator que nada tem a ver com religião em si. Ele está infiltrado em toda a sociedade em todos grupos, em todas instituições e organizações. Ele pode ser bem visto nas escolas onde domina o velho esquemão: “os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem”. Ele é uma espécie de pacto entre dominador e dominados para que o sistema continue funcionando. Ele é um compromisso que envolve interesses individuais ou de grupos, jogos de poderes, vaidades, ciúmes, invejas e coisas do gênero para que o status quo não seja abalado.
Por causa desse pacto, por exemplo, não rompemos de vez com sistemas políticos pré-estabelecidos como um senado ou uma câmara de vereadores, por mais que nos seja evidente sua ineficácia e contra-produtividade.
A solução? Se existe alguma, com certeza não é algo padrão que possa ser formulado, copiado ou vendido.
Apesar do diagnóstico, a meu ver, falho de F. Viola, os sintomas detectados estão certíssimos. É evidente que atacar os sintomas não resolverão nunca o problema. O pastor, a pregação, o prédio, o dízimo, o seminário, o coral ou banda de louvor e as roupas bonitinhas de domingo, por exemplo, são apenas a formalização manifesta desse pacto de poder, expressa de acordo com as contingências ou os padrões culturais de cada época ou sociedade.
A solução? Se existe alguma, com certeza não é algo que possa ser formulado, padronizado, copiado ou vendido. Não será algo extraído de meia dúzia de versículos bíblicos, para ser transmitido em seminários, vendida em livrarias ou publicadas na net.
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Roger, li o livro já faz um tempo, gostei em parte. Reservei-me a não concordar com ele quanto a alguns pontos específicos.
ResponderExcluirNem tudo o que ele chama de traço pagão na igreja de fato é.
Algumas das práticas e tradições encontradas na igreja são, sim, meros traços culturais e de adequação social, o que não faz deles algo pernicioso.
Mais do que abolir determinadas coisas na igreja, deve-se é levar as pessoas a terem consciência de seus significados. Não adianta mudar tudo de uma hora pra outra sem incutir nas pessoas o fato de que tais mudanças tem significações profundas na mensagem do Reino.
Já li o livro e concordo contigo.
ResponderExcluirbjussssssss