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sexta-feira, 26 de março de 2010

Folhas de figueira

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Estolas encenam espiritualidade mas saem fugitivamente de cena ao ouvirem os passos mansos do jardineiro.

Engomadas e coloridas saúdam-se gravatas pela manhã de domingo e digladiam-se subtilmente entre si ideologias políticas. Já os ternos escuros totalmente explícitos, nos púlpitos e altares, tentam impor a ortodoxia de suas próprias teologias sobre a casualidade liberal dos jeans, nas galerias e últimos bancos.

Vestidos extravagantes disputam colocação social e sutiãs de renda consolam os peitos de umas que desejariam desesperadamente ter o estado civil das outras.

Sapatos e tênis de marca pisam sádica e impiedosamente nos "no names". Agasalhos caros e grossos se apertam de dó pelos humildes e encardidos de segunda mão.

Calcinhas do tamanho do Brasil auto proclamam-se santas e desprezam intolerantemente os fios dentais de cores berrantes que insistem em chorar seus pecados.

Calças de linho depositam ofertas gordas e visíveis no gazofilácio que são ao mesmo tempo esmagadas pela leveza da oferta de um véu, que deixa cair todo o seu sustento.

Uma gravata borboleta voa anacronicamente pelo salão.

Camisetas suadas em peitos de chamas oram em busca de um socorro, camisas de tergal de mangas compridas, erguidas e igualmente suadas louvam estridentemente.

Distante disso tudo, nuas, crianças inocentes engatinham no chão do berçário e brincam umas com as outras.

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