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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um prazer tão grande no ódio

Será que amar o inimigo quer dizer que não devemos puni-lo? Não, de maneira alguma. […] Na minha opinião, portanto, é perfeitamente correto que um juiz cristão sentencie um homem à morte ou que um soldado cristão mate o inimigo em combate. Sempre pensei assim, desde que me tornei cristão e desde muito antes da guerra, e meu pensamento não mudou em nada agora que estamos em paz. Não vai adiantar citar "Não matarás". Existem no grego duas palavras: uma geral para matar, e outra específica para assassinar. Quando Cristo pronunciou esse mandamento, ele usou a palavra equivalente a assassinar nos três relatos: em Mateus, Marcos e Lucas. Disseram-me que a mesma distinção existe no hebraico. Nem todo ato de matar é assassinato, da mesma forma que nem todo ato sexual é adultério. Quando os soldados se dirigiram a João Batista perguntando-lhe o que fazer, ele nem de longe sugeriu que abandonassem o exército; tampouco o fez Cristo quando conheceu um sargento-mor romano — que eles chamavam de centurião.

[…]

"Bem, se podemos condenar os atos do inimigo, puni-lo e mesmo matá-lo, qual é então a diferença entre a moral cristã e a moral comum?" - Imagino que alguém dirá.Toda a diferença do mundo. […] Talvez sejamos obrigados a matar, mas não devemos alimentar o ódio nem gostar de odiar. Podemos punir, se isso for necessário, mas não devemos gostar de punir. Em outras palavras, os sentimentos de ressentimento e de vingança devem ser simplesmente exterminados de dentro de nós.

[…]

Talvez isso se torne mais fácil se lembrarmos que é dessa forma que ele [Deus] nos ama. Não pelas belas qualidades que julgamos possuir, mas simplesmente porque cada um de nós é um "eu". Pois, na realidade, não existe mais nada em nós que seja digno de amor: nós, que encontramos um prazer tão grande no ódio que abdicar dele é mais difícil que largar a bebida ou o cigarro...

C. S. Lewis em Cristianismo Puro E Simples

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