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sábado, 9 de junho de 2012

O Bué da felicidade

Existe um culto à felicidade, uma eufórica ilusão com o estado de espírito feliz.

O que conta são os dias ensolarados! Os nublados, os chuvosos, os de neve são para os maníacos depressivos. A melancolia das águas são para os fracassados, basta ao mundo o calor dos sanguíneos.

Não vou culpar a sociedade atual que, como nunca, foi, e é, bombardeada por essa mensagem, através de publicidade de todos os tipos. Também não colocarei isso na conta da cultura frívola brasileira. Talvez essa praga já estivesse presente em todas as culturas, em todos os tempos e, simplesmente, seja um dentre todos os vícios da raça humana.

Mas não se enganem, senhoras e senhores, o riso é uma manifestação exterior para camuflar uma tristeza interior. Pessoas risonhas são, ao contrário do que se pensa, não tão felizes, como querem demonstrar.

Não me refiro aqui, naturalmente, ao riso sincero das crianças. Nem àqueles dos velhinhos, que já foram despidos de toda ilusão. Mas me lembro daquilo que os provérbios bíblicos postulam:

“Até no riso terá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza.”

A farsa da alegria é o que mantém uma indústria como Holywood viva. Ali, onde, “no final tudo dará certo” e, “se não der certo é porque não chegou ainda no final”. Nos alimentamos desse embuste, deste sonho, dessa peça teatral, porque a vida nua e crua se passa lá do outro lado da calçada da fama.

Não importa a dificuldade do que se esteja vivendo, o que vale é manter em pé a fachada de vocacionado para o sucesso. E isso trará resultado, e traz. O mundo abraça aqueles que são seus!

Por isso as igrejas (e obviamente suas teologias) estarão empenhadas em promover o sucesso. Deus, o Todo Poderoso, é aquele “cujos planos nunca falham”. Não importa o que a realidade esfregará na cara de líderes e fiéis, eles “viverão pelos olhos da fé” e serão “mais que vencedores”.

O triunfalismo é tão gigantesco e gritante que silenciou a pequenez da já silenciosa Cruz.

Nas reuniões, quem terá acesso à palavra é quem pode testemunhar alguma experiência risonha e bem sucedida de vida com Deus. Ai daqueles que vierem com as lágrimas das derrotas, dos fracassos, das curas não alcançadas, dos desempregos crônicos, dos relacionamentos irreconciliáveis, e de coisas parecidas que trazem o perigo de afugentar o rebanho infantilizado.

Por que expressarmos a tristeza que, na voz do poeta, é infinita? Cultuemos então a felicidade, porque essa sim terá o seu fim.

Que nosso riso deixe isso bem claro: aqui, nesse coração de pedra, a tristeza não tem morada.

Talvez, com um pouco mais de talento artístico alcançaremos melhor sorte que a de humoristas e palhaços que terminam no alcoolismo. Infelizes, mas com um riso pintado no rosto.

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