Às vezes me enamoro das palavras. Contemplo-as com a doce ilusão de nelas encontrar a redenção de minha vil e breve existência.
Vejo-as empacotadas em livros e fico embasbacado a imaginar se ali não estaria o mapa do tesouro, quiçá o próprio tesouro, que enriqueceria todo meu intelecto, minha mente, a ponto de calar todas as minhas angústias.
Assisto apavorado as palavras sendo usadas e abusadas nos lábios dos incautos. Vejo elas sendo distorcidas e adulteradas pelas penas dos estultos. Admiro a facilidade e a leviandade com que aproveitam de todo um vocabulário, de toda uma gramática para dali tirarem o proveito próprio. Choro ao, no final, perceber que as palavras depois de distorcidas e adulteradas perderam algo mais do seu sentido, de sua beleza, de sua pureza…
No meu afã em resgatá-las aprendo que são ainda mais fortes do que eu. São elas que me sustentam pelos braços e me carregam pela vida. Vão me apoiando cada passo, cada movimento. Vão dando sentido à caminhada e ao mesmo tempo esboçando a rota ainda a ser vencida.
Às vezes sinto que elas se distanciam e saio à sua procura. Descubro então que seus retratos estão por todas as ruas e becos. Os seus sons se ouvem por todos os lugares. Mas são meras representações vazias…
Me refugio da civilização, vou para o deserto. E é ali que as reencontro. No silêncio da paz do espírito.
E sou novamente beijado e saciado por elas. Me entrego e relembro que sempre foi assim e é na escuridão que se faz a luz.
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