Mito de saudades são ecos de um lugar, de uma terra distante
Rito de idades são inimigos aliados nessa mesma guerra pedante
Rio de vaidades, desaguo no futuro, me solto, me volto na revolta
pra roubar verdades de uma vida perdida que hoje só me falta
Da simplicidade do arroz com feijão
que meu paladar já não pode mais saborear
do assobiar da panela de pressão
do samba, da bossa, do clube da esquina que o rádio não sabe tocar
Da Célia de Souza, da Sagrada Família
Do Flamboaiã e dos Ipês com suas flores coloridas
Do português falado na televisão e na rua
Do jeito alegre, da malandragem, da contrição e da ingenuidade
Do abacateiro, da mangueira, do angu e da taioba, do quiabo e da mandioca
Da cana, do pé de café, da bananeira e da jabuticaba no pé
De uma infinidade de coisas que não me canso de listar
De um passado bem presente, um fantasma a devorar
Você aprende o horror do abandono de um mundo
Sem saber que era você mesmo quem sumiria no fundo
A imensa dor pulsante de deixar bons e verdadeiros amigos
E adentrar pela estreiteza de becos escuros e seus largos perigos
Trocando o afeto do calor da família
pela frieza do inverno de uma solitária ilha
Que a mim mesmo me submeti sinto pelas maldades
Para num insano poema tentar, quiçá, pelo menos a mim mesmo iludir, minto saudades
É. Saudade dói.
ResponderExcluirParabéns pelo texto.