Existe na sociedade um ódio generalizado, e esse ódio sempre existiu, pelos publicanos – os cobradores de impostos.
Em nosso contexto hoje, a classe se assemelharia muito aos senhores que se encontram sob investigação pela polícia federal, em Curitiba. Os ditos corruptos e corruptores.
Sabemos que cobrar imposto pode parecer algo tão maligno como o próprio ato de sonegá-lo. Ética costuma ser uma mera questão de ótica…
Se o governo oprime o povo, a tendência geral é a população, sem nenhum peso na consciência, fazer de tudo para burlar o aparato burocrático que trata de recolher os impostos aos cofres públicos. Se o governo não oprime, a população faz o mesmo. Conseguir burlar o fisco pode até parecer uma virtude, afinal ladrão que rouba de ladrão tem 10 anos de perdão. O que não seriam as firmas que só possuem caixas postais nos paraísos ficais, as propinas, os documentos adulterados e todo esforço de quem tem e de quem não tem, se não meras tentativas bem sucedidas nesse sentido?
Por outro lado assistimos no aparato público, em suas várias instâncias e setores, agentes criando mecanismos para usufruírem de benefícios ilícitos, desde os mais inofensivos e menores até aos mais cabeludos e milionários. São esses agentes públicos, o publicanos, que usando e abusando de uma autoridade conferida pelo estado, tratam de se enriquecer de forma ilícita. Ou se não tornam-se ricos, pelo menos, roubam do contribuinte.
Não é de se estranhar que são alvos do ódio.
Se fossem apenas “homens públicos de bem” certamente contariam com a simpatia do povo. O problema é que não são…
Então ajudaria a discussão, o processo pelo qual o Brasil tenta ser passado a limpo, negarmos a maldade dos atos corruptos?
Ajudaria dizer que corrupção não é pecado?
Evidentemente que o pecado evoca a pena… e esse é o medo que se cria, afinal “quem não tem pecado que atire a primeira pedra”. Quem seria capaz de conduzir esse processo? Quem teria as mãos limpara para tal?
No campo filosófico e acadêmico (e também aqui nesse Blog) tudo não passa de uma discussão de palavras, teórica. No meu caso, eu uso como mero instrumento de cidadania, de expressão, de reflexão e até mesmo terapêutico diante de nossa impotência em superar a magnitude dos problemas que nos angustiam. São um direito e uma liberdade que gosto de usufruir. Mas para quem precisa lidar de forma concreta e prática com esses assuntos, tudo assume outra dimensão: Um juiz precisa fazer cumprir a lei. Um oficial precisa encarcerar um acusado. Um legislador precisa adequar as leis, de forma justa, à realidade da sociedade. Um investigador precisa chegar à verdade dos fatos. Todos eles são pagos para cumprir suas funções de forma eficiente. Provavelmente todos eles possuem seus sonhos, ideais e ambições em seus trabalhos.
Ou seja, um estado legal de direito não conseguiria subsistir sem suas leis. Dura Lex sed Lex. Não há muito que se idealizar quando se trata de realidade pura e simples.
Por isso acredito que por mais que Jesus fosse amigo de publicanos e pecadores, e creio que Ele foi infinitamente misericordioso com todos, Ele não deixou transparecer que a conduta pecaminosa dEles fosse okay. Antes de Jesus se manifestar em carne, Deus havia arraigado seus valores legais (e morais) na cabeça de uma Nação por séculos. Evidentemente que essa Lei não poderia transformar o ser humano. Daí a obra redentora do Cristo. Mas a verdade, o espírito, daqueles valores estava lá presente.
Jesus não veio como uma espécie de Hippie apregoando “paz e amor”. No contexto inserido que foi, da sociedade judaica, tendo como precursor João Batista, só consigo enxergar Jesus em concorde com a Lei.
Isso não significa que agora voltaremos ao judaísmo e faremos da Lei Mosaica nossa bandeira. Não. Mas também não podemos pegá-la e reduzí-la a uma peça de museu. Que vez por outra visitamos na vida. A lei permanece um referencial importante de nossa conduta.
Com toda graça do Cristo em acolher um publicano, não consigo todavia imaginá-lo fazendo vista grossa diante de desonestidades e injustiças em nome da tolerância e do politicamente correto.
Só consigo imaginá-lo acolhendo para salvar e salvando para acolher. Mas não poso imaginá-lo deixando, abandonando o homem à mercê do pecado. Vejo-o perdoando pecados. E instruindo para que não se peque mais.
“E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.”
Esse texto reforça minha convicção ns Anarquia como sistema político desejável pelo o cristão para a sociedade. Reforça tb minha visão de que, na impossibilidade prática da Anarquia, precisamos de uma sociedade civil que controle o Estado e um Estado que controle a sociedade civil. Não é o "Mercado", nem a "Lei" que trazem a justiça e a paz, mas esse tênue e frágil equilíbrio de forças: Estado/sociedade civil.
ResponderExcluirSalvo engano.
Rubinho, concordo plenamente. Dentro da sociedade civil, a Igreja, especialmente na Europa, e os profetas, em Israel, já ocuparam papel predominante nesse controle.
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