“A pessoa escreve para criar um mundo no qual se possa viver” Anaïs Nin.
Sim, eu também vivo dessa ilusão. Pois também intuo que este mundo não é meu e dele não sou. Sou aqui um estrangeiro.
Sou estrangeiro na Alemanha, sou estrangeiro no Brasil. Ainda estou a procura de minha pátria, minha cidade, do meu verdadeiro lar.
Como refugiado, peregrino por terras hostis, arrisco a pele. Assisto ameaças, perigos e o ódio. Mais do que mero expectador protagonizo a jornada rumo àquela cidade que nos foi preparada.
Bem mais do que um turista a recolher belas lembranças aqui e acolá, perpasso roteiros nebulosos, sombrios e medonhos. Definitivamente não somos deste mundo.
Quando digo mundo, não me refiro à beleza da criação. Não me atormenta a grandeza do firmamento, ou a diversidade das plantas e animais. Pelo contrário, as maravilhas da natureza me apontam a glória maior do que ainda está por vir.
Também não me assustam as civilizações e seus feitos, as diversas culturas e nações. O ser humano como coroa da criação carrega o “imago dei”. Nos revela de forma variada, as variadas formas da graça divina.
Mas me refiro a um mundo caído. Que se esqueceu de Deus. Ou que lembrando-se dEle, prefere ignorá-lo, repudiá-lo ou manipulá-lo.
“Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Todos pecaram. Não há um sequer. Poucas sentenças bíblica trazem mais clareza ao estado real das coisas como esta. Não deixa espaços para ilusões ou sentimentos ufanistas. Destrói e acaba com nossos ingênuos otimismos ou positivismos. Este mundo está desesperadamente perdido e condenado. Para este não há esperança.
“Deus amou o mundo”, apesar de tudo, e esse é o paradoxo bíblico que vem logo a seguir da sentença de condenação. Por isso a esperança de novos céus e nova terra, onde habitam a justiça. E é para lá que nos movemos.
A resposta “para fazer de novo”, “fazer de forma redimida, perfeita e gloriosa” já está lá, pronta, para a pergunta cantada do poeta, “se foi pra desfazer, porque é que fez?”.
Neste, passageiro, não se pode viver eternamente. Mas naquele, a vida não terá fim. Lá, tenho minha cidadania. É sobre isso que escrevo.
Penso que somos sementes do que ainda seremos na eternidade. Uma travessia necessária e cheia de percalços, mas com garantia de chegada e de permanência na plenitude.
ResponderExcluir