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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A violência não precisa ser combatida

Violência é um termo ambíguo, pois pode ser bom ou ruim. Jesus por exemplo foi violento ao expulsar os vendilhões do templo. Para ficar em um só exemplo. Talvez o mais clássico. A Bíblia está repleta de violência, tanto no velho como no novo testamento. Tanto seu uso para o bem, como para o mal.

A natureza também está cheia de violência e evidentemente a sociedade. O ser humano é por natureza violento.

O uso da força não é necessariamente pecado.

Bons e amplos estudos sobre o assunto pode ser encontrado em Paul Tournier que escreveu um livro todo explorando os limites entre a boa e a má agressão. Ali, este médico cristão lembra que a violência é uma força psicológica tão presente como a libido. Que à semelhança desta se reprimida, pode também causar disfunções psíquicas. Outros autores que exploraram magistralmente a temática são René Girard e Jaques Ellul. Ellul lembra que as teorias de Mahatma Gandhi da não violência frente a um possível ataque japonês ou ao combate do nazismo na Segunda Guerra Mundial não precisaram ser postas à prova.

O que estes autores enfatizam é o óbvio de que, ao contrário do que Tolstoy acreditava, o estado e as instituições deveriam fazer uso da força para exercer a justiça e o governo dentro de seus campos de competência. Até mesmo os indivíduos necessitam de se valerem da força em ocasiões determinadas para que com isso cumpram até mesmo sua vocação cristã.

Ao estudar o sermão do Monte John Stott nos explica que Jesus não combateu ali o uso da lei de talião, o olho por olho e o dente por dente. Que é um princípio universal de justiça e retribuição do mal exercido, que não deveria ir além do mal causado. O que Jesus destaca, segundo esse autor, é que o cristão não deve se vingar ou fazer justiça com as próprias mãos. Ou em uma sentença, a “não resistência ao mal” não é uma desculpa para a covardia.

Então o mal precisa ser combatido. Denunciado. Resistido. “Resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós”. O crime precisa ser combatido, obviamente punido.

Como deve ser essa resistência?

Sim, estamos em combate. No plano individual (e na maioria das vezes estamos lidando com indivíduos) este combate é pacífico (nossa luta não é contra carne ou sangue). Nossa batalha se dá no âmbito espiritual. Um exemplo desse combate foi dado por Martin Luther King, ao reivindicar os direitos civis para a população negra americana.

Mas nem sempre nossa resistência ao mal pode ou deve ser pacífica. Existem momentos que o uso da força se faz necessário. Talvez no plano individual sejam os momentos mais raros, exceções, mas legítimos e também necessários. O uso da força torna-se então mais frequente quando se trata do Estado. O uso da força muitas vezes é o que garante a ordem na sociedade.

Todavia isto também não é o aval para todo tipo de abuso de poder.

Devemos pedir sabedoria do alto para aprendermos a distinguir um momento do outro. O momento de levantarmos a voz e fecharmos os punhos na luta por dias melhores para nosso semelhante; e o momento de simplesmente nos calarmos e sofrermos para que também dias melhores venham.

“Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”. Jesus

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