Há várias
noites tenho tido um sonho repetitivo.
Ele se
inicia quando me vejo às pressas de viagem para o Brasil para o velório de um grande
amigo.
Chego
direto do aeroporto para o velório. O cemitério está cheio de velhos conhecidos
e vem aquela sensação contraditória de tristeza pelo luto e gostosa de revê-los
e poder abraçá-los novamente.
Os
primeiros que encontro são os amigos da igreja, depois da universidade, depois
do colégio técnico.
Depois
começo a abraçar antigos vizinhos de rua e parentes. E choramos muito pela
perda daquela querida pessoa. Meus irmãos estão lá. Choramos e rimos nervosos e
aliviados com as costumazes piadinhas dessas ocasiões que servem como válvula
de escape para toda a tenção do peso da morte.
É nesse
ponto do sonho que me ocorre um sentimento – e pelo fato do sonho ser
repetitivo -acompanhado de uma assustadora sensação de Déjà Vu: embora eu
tivesse tido ao chegar ao velório plena certeza de quem era o amigo falecido,
agora eu já não tinha a menor ideia de quem era o morto!
É com esse
sentimento quase que vexatório de amnésia que me aproximo do caixão. Vejo na
multidão gente amiga daqui da Alemanha. Abraço minha mulher e filhas. Choramos
muito e nos beijamos.
Então, em
minha mente, não consigo entender a total surrealidade da presença delas ali naquele
velório. E olho morrendo de curiosidade e terror para o caixão, para saber
afinal de contas quem tinha morrido...
E acordo banhado em suor.
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