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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Diálogo com o jovem Naor, adepto confesso da Teologia da Prosperidade*

Transcrevo** abaixo o segundo comentário que o jovem Naor (16 anos) fez ao nosso texto “Silas Malafaia e a Conferência Profética Passando o Manto”. O primeiro comentário desse irmão já havia sido respondido por mim no espaço próprio, mas agora, com os argumentos que ele declina, entendo que podemos construir um diálogo mais construtivo, que é nosso interesse neste "blog".
Segue, portanto, "ipsis litteris", o comentário do irmão Naor, com as minhas considerações em seguida, na forma de tópicos:

“Alex,desculpe estava com pressa na hora de escrever.rsrs.
O Apostolo Paulo afirma que muitos pregam o evangelho por contenda,e por ganancia,mas o importante é que Jesus seja pregado.
Sou adepto da Teolgia da Prosperidade(com bases biblicas).Quando Jesus diz que o Reino dos céu é dos pobres,acredito que Ele esteja afirmando sobre pobres de Espirito,humildes etc.
Sou contra a FAMOSA a afirmção:VENHA PRA JESUS ELE TE ENRIQUECERÁ..Pois Jesus nos fala para buscarmos primeiro o reino dos céus,e as demais coisas nos serão acrescentadas.
Jesus fala mais sobre dinheiro nos evangelhos do que outra coisa,e também fala mais sobre o inferno do que sobre o céu.
A prosperidade em que acredito é a emocional,sentimental e financeira.
O salmista afirma que nunca viu o justo mendigar o pão e Jesus também afirma que veio para dar vida e vida em abundância(em todas areas de nossas vidas).
Concordo que não podemos amar ao dinheiro e a Deus ao mesmo tempo isto é pecado de cobiça e idolatria,mas creio que Deus sim levanta ministros para levar sua palavra ministrando cada um em sua area ex.cura,libertação,prosperidade etc.Claro todos com bas na Palavra.
Eu tenho visto os frutos do ministerio do Silas Malafaia,sou contribuinte,e Deus cada vez mais tem me abençoado,tambe´m fui muito impactado com os livros de MURDOCK(esqueci como escreve o nome dele suahusahusa, por isso digo para olharmos os frutos,por que Jesus disse que uma arvore boa não produz frutos maus,e uma arvore má não produz frutos bons.
Vidas tem sido levadas a Cristo,e em tudo o que eles tem ensinado usam como base a palavra.
Sim vemos muitos se pertendo,e cobiçando o que não agrada a Deus,mas não posso crer em Deus que não abençoa o seu povo,vemos na biblia que Deus sempre a abençou seu povo com milagres na area financeira,e sim tem pessoa que Deus não deixa rico,por que Ele não deseja.
os pregadores da prosperidade são exagerados,quando falam deste assunto,mas não chegam a ser heresias,como também muitos tradicionais,só valoriza a pobreza em extremo,o certo eh o temperado:No mundo Tereis aflições,mas tende bom animo pois eu venci o mundo,como disse jesus,e Pualo que disse de tudo ter esperimentado,e saber estar bem em todas as situações.
Meu pai é um Pr.Assembleiano,e acredito que você saiba que els são bem resistentes a esta Teologia,e ele(não que ele seja alguém importante)esta de acordo com que o Sila tem Ministrado,e temos experimentado prosperidade em nosso lar.

Desejo sim crescer com Cristo Alias tem somente 16 anos,e em nenhum momente te julguei por que eu disse:vamos produzir frutos,assim me incluindo também.

Jesus abençoe..

xD”.

Minha resposta, em atenção a cada proposição do irmão Naor:

“O Apostolo Paulo afirma que muitos pregam o evangelho por contenda,e por ganancia,mas o importante é que Jesus seja pregado” [sic].
Creio que o jovem Naor não quis dizer que o Pr. Silas Malafaia prega o Evangelho por contenda ou ganância, mas é razoável entender que seu emprego do texto paulino serve para tentar justificar a pregação a todo custo, como costumam fazer muitas pessoas. É mesmo recorrente usar o texto de Fp 1.15-18 para dizer que vale tudo em nome da propagação do Evangelho, como se Paulo estivesse aprovando o pragmatismo, o evangelho de resultados, dos fins que justificam os meios, à moda de Maquiavel. Mas o texto paulino não diz isso. Se observarmos com atenção toda a passagem de Fp 1.12-26, veremos que Paulo se refere a motivações errôneas, e não a conteúdo errôneo. Paulo jamais vendeu doutrinas e princípios cristãos. O que ele diz é que alguns pregam com sentimentos de inveja, fingimento e porfia, e não que seja válido pregar evangelho adulterado, porque ele mesmo, o apóstolo Paulo, disse que não se poderia aceitar outro evangelho (veja Gl 1.6-9, por exemplo). Em suma: se alguns pregam o Evangelho de Cristo, mas por motivações equivocadas, o importante é que o nome de Jesus seja anunciado, sabendo, por outro lado, que cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus, e isso não é brincadeira, conforme II Co 5.10. Paulo nunca aprovaria a pregação de evangelho diferente! Creio que está claro assim. O argumento do Naor nesse caso foi pragmático.

“Sou adepto da Teolgia da Prosperidade(com bases biblicas).Quando Jesus diz que o Reino dos céu é dos pobres,acredito que Ele esteja afirmando sobre pobres de Espirito,humildes etc” [sic].
Gosto da sinceridade do irmão Naor: reconhece ser adepto da Teologia da Prosperidade. Mas há uma contradição, pois a Teologia da Prosperidade, ligada que é à Confissão Positiva, não tem as “bases bíblicas” referidas pelo irmão Naor. Concordo com a proposição de que os “pobres” são os “pobres de espírito”, os humildes, os que se enxergam como pecadores, os pequeninos, conforme Mt 5.3 e 11.25. Também creio que a “opção pelos pobres”, ensinada pela Igreja Romana, está fundamentada em bases erradas. No entanto, uma coisa não sustenta a outra. Dito de outro modo: o fato de eu crer que a Salvação se dirige a pobres e ricos não faz com que eu acredite que a prosperidade seja o mesmo que riqueza material, nem me induz a buscar bênçãos materiais como distintivo de espiritualidade cristã ou aprovação divina à minha vida. O argumento do Naor nesse caso foi silogístico, pois é como se tivesse dito: “se os pobres de espírito não são os pobres no sentido material, logo o Evangelho faz com que a pessoa deixe de ser pobre. Esse argumento não tem lógica, e por isso eu o chamo de argumento silogístico, lastreado que está em afirmações sem sentido.

“Sou contra a FAMOSA a afirmção:VENHA PRA JESUS ELE TE ENRIQUECERÁ..Pois Jesus nos fala para buscarmos primeiro o reino dos céus,e as demais coisas nos serão acrescentadas” [sic].
Neste item eu concordo inteiramente com o irmão Naor. Creio que a promessa de enriquecimento instantâneo, como ingrediente da Salvação, não merece maiores comentários. O argumento do Naor nesse caso é bíblico, e, por ser bíblico, anda longe da Teologia da Prosperidade.

“Jesus fala mais sobre dinheiro nos evangelhos do que outra coisa,e também fala mais sobre o inferno do que sobre o céu” [sic].
Gostaria que o jovem Naor me mostrasse como chegou a essa conclusão. Ele contou os textos em que Jesus fala de dinheiro? Contou quantas vezes Jesus fala de céu e inferno? Não entendi a relação entre falar mais em dinheiro e falar mais em inferno...O argumento do Naor nesse caso é infundado.

“A prosperidade em que acredito é a emocional,sentimental e financeira” [sic].
A afirmação de que a prosperidade abrange os aspectos emocional, sentimental e financeiro parece muito boa, se extraída, afastada do contexto da Teologia da Prosperidade. De fato, quem não admite que a prosperidade bíblica possa abarcar todos os aspectos da vida humana? Todavia, a frase, tomada isoladamente, não justifica a priorização que se faz do dinheiro, da saúde e do bem-estar. A Teologia da Prosperidade confunde prosperidade com riqueza e ausência de doenças e sofrimento. A Teologia da Prosperidade não tem piedade dos que sofrem, dos que padecem enfermidades e ficam sem cura, dos que morrem sem a solução de problemas. A prosperidade bíblica deve ser entendida como o efeito de uma vida pautada por princípios sagrados (veja o Sl 1), cumprimento das obrigações sociais, pagamento de impostos, respeito aos contratos, valorização do trabalho, esforço, busca de melhores condições de vida. Mas isso não anula a possibilidade do sofrimento, da cura que não vem, dos acidentes e incidentes, da falência, da falta de emprego ou morte na família. O argumento do Naor nesse caso é deficiente.

“O salmista afirma que nunca viu o justo mendigar o pão e Jesus também afirma que veio para dar vida e vida em abundância(em todas areas de nossas vidas)” [sic].
Aqui temos dois textos bíblicos mencionados: Sl 37.25 e Jo 10.10. Nenhum dos dois prega o evangelho da prosperidade. Quando Davi afirma que, em sua experiência de vida, jamais viu o justo mendigar o pão, nem a sua descendência padecer necessidade, ele está se referindo à providência divina, que nos livra da miséria, mas não diz que o justo não pode ser pobre (há vários exemplos bíblicos de justos que foram pobres, como a conhecida “viúva pobre”, de Lc 21.1-4, e a própria família de Jesus, como se depreende de Lc 2.21-24 c/c Lv 12.6-8). Vale dizer que pobreza é diferente de miséria. Quanto ao outro texto, de Jo 10.10, Jesus se refere à plenitude espiritual. O argumento do Naor nesse caso é hermeneuticamente errado.

“Concordo que não podemos amar ao dinheiro e a Deus ao mesmo tempo isto é pecado de cobiça e idolatria,mas creio que Deus sim levanta ministros para levar sua palavra ministrando cada um em sua area ex.cura,libertação,prosperidade etc.Claro todos com bas na Palavra” [sic].
Naor, não existe dom de ministrar prosperidade. Nenhuma lista de dons no Novo Testamento aponta para ministério de prosperidade. Pode procurar. Isso é invenção de certos pregadores norte-americanos. Pense nisso. Por mais que seja agradável ouvir promessas de cura certa e prosperidade financeira, isso não passa de “palavras fictícias” quando a palavra não procede de Deus (II Pe 2.3, na Almeida Revista e Atualizada). Jeremias enfrentou corajosamente falsos profetas que prometiam paz e prosperidade, quando Deus falava de juízo e necessidade de arrependimento (veja Jr 8.11, por exemplo). O argumento do Naor nesse caso não é bíblico.


“Eu tenho visto os frutos do ministerio do Silas Malafaia,sou contribuinte,e Deus cada vez mais tem me abençoado,tambe´m fui muito impactado com os livros de MURDOCK(esqueci como escreve o nome dele suahusahusa, por isso digo para olharmos os frutos,por que Jesus disse que uma arvore boa não produz frutos maus,e uma arvore má não produz frutos bons” [sic].
Em seu livro A Lei do Reconhecimento, Mike Murdock prega disfarçadamente preceitos próprios do Gnosticismo e do Esoterismo. A primeira frase do livro consiste em dizer que o maior problema da humanidade é a ignorância – essa afirmação é gnóstica, e, conforme a Bíblia, entendemos que o maior problema da humanidade é o pecado, pois gera a morte (Rm 3.23; 6.23, por exemplo). Quanto à lei do reconhecimento em si, associada à tal lei da semeadura financeira, não passa de preceito esotérico, como a lei da atração, no bojo das supostas leis místicas que governariam o Universo. Nada disso é bíblico, mas próximo, isto sim, da Confissão Positiva e da Nova Era.
Eu admirava muito o Pr. Silas Malafaia, que, aliás, é de minha denominação (!). Eu o admiro ainda por sua grande capacidade de expressão, articulação e conhecimento bíblico e teológico. Mas passei a discordar de seu trabalho quando ele aderiu à Teologia da Prosperidade, quando passou a discordar de si mesmo, ao defender muito daquilo que antes combatia com tanta veemência. É como se houvesse dois pastores com o nome de Silas Malafaia...
Mas o principal argumento nesse caso é relativo aos frutos, que Naor menciona tendo em vista o texto de Mt 12.33-37, com o paralelo de Lc 6.43-45. O jovem Naor diz que tem sido abençoado ao contribuir, que foi “impactado” com os livros do Mike Murdock – e eu pergunto: isso por acaso são frutos suficientes para que a Teologia da Prosperidade seja aprovada? Veja que não questiono as motivações pessoais de nenhum dos pastores citados, e, por isso, não os julgo (Mt 7.1-5). Mas avalio o conteúdo de sua mensagem, e dela discordo, porque a Bíblia é minha regra de fé e prática (veja o Sl 119 todinho, bem como II Tm 3.16,17). Devemos conferir nas Escrituras para ver se as coisas são de fato como nos dizem (At 17.11). Com relação aos diversos tipos de julgamento, leia-se, por favor, o nosso artigo, neste mesmo “blog”, sob o título “Resposta a um admirador de René Terra Nova e Cia.”

“Vidas tem sido levadas a Cristo,e em tudo o que eles tem ensinado usam como base a palavra” [sic].
Bom, não posso dizer se todas essas vidas têm sido levadas a Cristo. Não posso adentrar a mérito tão profundo, que só pertence a Deus. Mas minhas avaliações são feitas sobre o parâmetro objetivo das Escrituras, e, apoiado nelas, posso afirmar categoricamente que a Teologia da Prosperidade não tem suporte bíblico, em absoluto (veja I Tm 6.3-10; Fp 4.10-23).

“Sim vemos muitos se pertendo,e cobiçando o que não agrada a Deus,mas não posso crer em Deus que não abençoa o seu povo,vemos na biblia que Deus sempre a abençou seu povo com milagres na area financeira,e sim tem pessoa que Deus não deixa rico,por que Ele não deseja” [sic].
Deus realmente abençoa o Seu povo – mas o que é bênção para você? Confunde-se com riqueza, saúde certa, imunidade ao sofrimento? Então, precisamos explicar que Deus, sim, sempre abençoa o Seu povo, mas que o próprio sofrimento pode ser um meio de bênção, como todas as provações (veja Tg 2.1-11; I Pe 1.6-9).

“os pregadores da prosperidade são exagerados,quando falam deste assunto,mas não chegam a ser heresias,como também muitos tradicionais,só valoriza a pobreza em extremo,o certo eh o temperado:No mundo Tereis aflições,mas tende bom animo pois eu venci o mundo,como disse jesus,e Pualo que disse de tudo ter esperimentado,e saber estar bem em todas as situações” [sic].
Ora, os exageros dos pregadores da prosperidade são, sim, heresias, eis que falsos ensinos são heresias. O texto de Jo 16.33 só atesta essa afirmação.


"Meu pai é um Pr.Assembleiano,e acredito que você saiba que els são bem resistentes a esta Teologia,e ele(não que ele seja alguém importante)esta de acordo com que o Sila tem Ministrado,e temos experimentado prosperidade em nosso lar" [sic].
Infelizmente o ser assembleiano não significa mais, em todos os lugares, o combate a heresias, especialmente à Teologia da Prosperidade. Eu sei o que estou dizendo. A Teologia da Prosperidade é um câncer que se abateu sobre muitas igrejas de nosso País, o que certamente não isenta muitas Assembléias de Deus, para minha enorme tristeza e decepção, porque não foi esse o Evangelho que recebi de minha mãe e de meus amados pastores da infância e adolescência (veja I Co 15.1-3; II Tm 1.5).

“Desejo sim crescer com Cristo Alias tem somente 16 anos,e em nenhum momente te julguei por que eu disse:vamos produzir frutos,assim me incluindo também” [sic].
Finalizando, quero elogiar o irmão Naor pela sua gentileza e disposição para o diálogo. Sendo ele um adolescente de 16 anos, tem toda a vida pela frente, e espero, sinceramente, que seu crescimento em Cristo seja um testemunho a muitas pessoas. A humildade que demonstrou em seu segundo comentário, explicando com detalhes a sua posição, depõe em favor de seu bom caráter. Quero aproveitar este momento para dizer que o objetivo deste "blog" é alcançado sempre que se faz o diálogo construtivo ou a exposição de doutrinas bíblicas. No mais, todo aquele que busca pensar merece meu respeito, e foi o que o Naor fez, ainda que tenhamos grandes divergências teológicas, que nos colocam em campos bem distintos.
*As referências ao "blog" têm em vista o http://alexesteves.blogspot.com
**Reproduzi as palavras do irmão Naor do jeito que vieram, e por isso inseri entre colchetes o termo latino "sic". Para esclarecimento a respeito, consulte-se o seguinte endereço: http://www.sualingua.com.br/04/04_sic.htm

2 comentários:

  1. Um grande problema é a nossa tendência a enxergar detalhes e não ver o quadro geral - a chamada "visão de helicóptero" - dando chance a tirarmos conclusões errôneas por deixar o contexto de lado.
    A Biblia toda, como cenário da ação de Deus no mundo, indica a simplicidade como padrão ideal, por vários motivos. Quem tem um Deus que é "Senhor dos senhores" não precisa ficar rico para se sentir rico!

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  2. Amigo Alex,

    cara, você pegou pesado com o Naor! Temos que dar um desconto para ele, afinal, além de ter apenas 16 é filho de pastor... hehehe

    Mas vou tentar dar meus pitacos aos pouco:

    o primeiro - gostei de mais de seu comentário sobre a diferença entre mudar a mensagem X mudar a motivação, faz muito sentido, aprendi algo novo!

    Abraços,

    Roger

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