A honra daquele aposentado estava em jogo. Ele já não tinha mais a coragem necessária de sua juventude para defendê-la. A covardia lhe era tão patente que se trancou em seu quarto, fechou envergonhado as janelas de madeira e as cortinas empoeiradas e tentou chorar.
Como poderia ter caído nessa? Logo ele, sujeito tão esperto e experiente...
Seria impossível se reerguer daquele tropeço. Levaria anos, os quais ele já não tinha mais.
Sempre encarou os conflitos que teve com qualquer um e nunca havia fugido da raia. Mas desta vez faltava-lhe a fé para acreditar que haveria dias melhores.
Ele se sentia naquela idade um pouco mais deus, um pouco mais próximo da eternidade, um pouco mais próximo da morte que lhe daria a imortalidade. Mas o filho da puta lhe havia enganado de forma tão traiçoeira que lhe fez romper com toda ética que havia construído arquitetonicamente com os tijolos de decisões acertadas ao longo de décadas.
O fato é que ninguém poderia ter descoberto. Como isso foi acontecer?
Enquanto duas ou três lágrimas tentavam concorrer com o suor que descia de sua testa pálida e fria molhando-lhe as mãos trêmulas e os joelhos, lembrou-se de orar.
Pediu ajuda.
Suplicou por graça e perdão. Afinal aquilo era o mínimo, sua obrigação e dever mais óbvio. Não esperava receber nada em troca de seus gestos piedosos, a não ser o mais elementar favor divino. Chorou então como um menino, alto, sem se importar com os vizinhos ou com o mundo e adormeceu escuramente.
Na tarde seguinte quando resolveu finalmente abrir as janelas e sair, o vento entrou trazendo-lhe logo novo fôlego, o sol quente, porém, ainda queimava-lhe a nuca.
Um bom arrependimento sempre ajuda quando a culpa é inevitável.
ResponderExcluirMuito vir te conhecer !... sou o marido da Alice.
ResponderExcluirabraços
Roger,
ResponderExcluirTempos bicudos este nossos. Falta tudo, mas principalmente tempo.
Mesmo assim, não posso deixar de passar aqui e ler os seus posts.
Deus o abençoe.
Em Cristo,
Clóvis