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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Confronto entre gays e religiosos

Cerca de 300.000 participantes gays marcharam, e apenas uma minoria pretendeu chocar o público usando roupas que nenhum telejornal mostraria. O dia de outubro era frio, e nuvens cinzentas derramaram gotas de chuva sobre as colunas desfilando pela capital.

Em uma das laterais, bem na frente da Casa Branca, observei uma confrontação raivosa. Policiais montados formaram um círculo protetor ao redor de pequenos grupos que, graças a seus cartazes cor-de-laranja com ilustrações vivas do fogo do inferno, haviam conseguido atrair a atenção da maioria dos fotógrafos da imprensa. Embora estivessem superados em número numa proporção de mil e quinhentos para um, esses manifestantes cristãos estavam gritando palavras de ordem inflamadas contra os ativistas gays.

"Combustível do inferno! Fora!", o líder deles gritava em um microfone. E os outros pegavam a deixa: "Fora, fora...". Quando isso perdeu a força, passaram para as frases: "Que vergonha! Que vergonha!". Entre as cantorias, os líderes transmitiam mensagens cheirando a enxofre a respeito de Deus reservando o fogo do inferno mais quente para os sodomitas e outros pervertidos.

"AIDS, AIDS, ela vai pegar vocês", era o último motejo no repertório dos que protestavam, a frase gritada com mais ardor. Tínhamos acabado de assistir a uma triste procissão de várias centenas de pessoas com AIDS: muitos em cadeiras de rodas, com corpos esquálidos de sobreviventes de campos de concentração. Ouvindo a cantilena, eu não conseguia imaginar como alguém poderia desejar esse destino para outro ser humano.

Da parte deles, os gays tinham uma reação mista contra os cristãos. Os desordeiros sopravam beijinhos ou comentavam: "Fanáticos! Fanáticos! Que vergonha para vocês!". Um grupo de lésbicas extraiu risadas da imprensa gritando em uníssono contra os manifestantes: "Queremos suas esposas!".

Entre os participantes da marcha havia pelo menos três mil que se identificavam com diversos grupos religiosos: o movimento católico da "Dignidade", o grupo episcopal da "Integridade" e até mesmo um grupinho de Mórmons e Adventistas do Sétimo Dia. Mais de mil participantes marcharam sob a bandeira da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), uma denominação que professa uma teologia principalmente evangélica, exceto por sua postura a favor do homossexualismo. Este último grupo deu uma resposta comovente aos cristãos que protestavam: aproximaram-se, voltaram-se para eles e cantaram: "Jesus me ama, sim eu sei, pois a Bíblia assim o diz".

A ironia inopinada nessa cena de confronto me atingiu. De um lado, estavam os cristãos defendendo a doutrina pura (nem mesmo o Concilio Nacional das Igrejas aceitou a denominação ICM em sua membresia). Do outro, estavam os "pecadores", muitos dos quais abertamente admitindo a prática homossexual. Mas o grupo mais ortodoxo vomitava ódio e o outro grupo cantava o amor de Jesus.

Philip Yancey em Maravilhosa Graça

Um comentário:

  1. Roger, esse povo reza pela castilha de Moises, vivem em pleno regime teocrático, e na melhor das hipóteses na época de Samuel.

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