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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Três pastores e um mico, ou: Reparando um erro comigo mesmo

“O destaque de Martin Luther King foi evidente na esfera político-social, mas no campo eclesiástico ele não se sobressaiu: nunca teve um pastorado produtivo de uma igreja; nunca trafegou na esfera teológica com pertinência; não deixou legado expositivo da Palavra de Deus.” (em King o homem e o Mito)

Imagem5Como todos devem saber, leio (ou agora posso dizer, lia) com certa frequência masoquista, o Blog supra linkado. Como já expliquei outras vezes, me justifico pela última vez agora:

  1. Meu ecletismo mineiro
  2. Minha herança católica que divido com o ex-presidente Lula, em achar que, mesmo entre visões opostas pode-se chegar a um denominador comum.
  3. Minha ingenuidade em pensar que no meio cristão, seja lá como se entenda esse termo, deveria haver tolerância, generosidade e cooperação.
  4. Achar que o total desprezo é pior do que uma singela crítica ácida.
  5. etc, etc, etc.

E assim passava naquele sítio vez por outra para conferir o que pensam os conservadores internautas desse Brasil de Deus.

Mas hoje cheguei no ponto final desse descaminho. E a citação acima selou a coisa toda. Foi a gota d'água.

Não li a postagem toda e sei que isso poderia (em condições normais de temperatura e pressão) ocorrer numa injustiça. Mas desse mal não morro.

Talvez por outras vozes, alguém outro, me faça entender como um cristão – filho de Deus - pode se destacar no campo político-social e ao mesmo tempo não no eclesiástico? (E estamos falando, minhas senhoras e meus senhores, de alguém da envergadura de um Luther King). Quais indicadores medem a eficiência de um viver cristão, dentro de uma igreja, senão os políticos sociais vistos fora dela?

  • Pastorado produtivo: um pastorado produtivo significa que no mínimo o indivíduo deve ser um multiplicador (daí, produtivo). Plantador de igrejas, igrejas que crescem, e vai por aí a fora. Nesse quesito, nosso Jesus [dos olhos azuis] receberia nota zero. Nunca plantou uma igreja e por consequência óbvia desse erro primário, nunca as pode ver crescer.
  • Trafegar na esfera teológica com pertinência: (ih! pobre de nós mineiros…) Acho que o Rabi de Nazaré também seria reprovado, ou no máximo receberia uma boa recuperação, por todas as heresias (ou impertinências, como queira) que ensinou e praticou, sendo a maior delas ter se metido, contraditoriamente, no campo politico-social. Se fosse mais esperto teria gastado seus dias escrevendo sobre a Torá.
  • Deixar legado expositivo sobre a Palavra de Deus: que provavelmente é a mesma coisa do item acima dita, porém, com outras palavras. O coitado de Jesus, que ficou contando parábolas, curando, fazendo milagres e passando as noites com um grupo de 12 homens suspeitos e outras dezenas de pecadores, poderia ter frequentado mais as sinagogas e quem sabe ter-se concentrado em um livro só. Talvez deveria ter-se detido sobre Miqueias, Oseias, Provérbios ou quiçá Cantares e ali exposto todo o sentido teórico filosófico dos mistérios divinos. Uau! Que legado não teria nos deixado!

E eu, tolo, que deveria ter escrito o que planejava (a groriosa menção de nosso nome na Bacia das Almas, ou sobre a incrível história das ideias circulares, ou um poema para meu falecido papai), fiquei aqui puto com o mico pagado por aqueles caras, que nem pastores são (a propósito nunca acredite 100% em tudo que eu escrevo aqui).

A partir de hoje não passo mais por lá. Não mais os molestarei (os autores daquele Blog) com meus comentários picantes.

Bom para eles, melhor para mim.

Erro de percurso reparado. Nova rota sendo calculada…

8 comentários:

Iveraldo disse...

Olá irmão, graça e paz.

Parabéns pelo artigo corajoso, divido com o sr. a mesma opinião sobre o assunto em questão menos em nunca mais passar 'lá'...

Spurgeon disse certa vez
"Preguem o evangelho tendo em vista unicamente a glória de Deus, ou então, segurem suas línguas."
Seu conservo,
Iveraldo Pereira.

Andrea disse...

Roger, essa postagem à qual vc se referiu sobre o Luther King, me parece mais uma daquelas polêmicas inúteis com as quais evangélicos ADORAM perder tempo. Quando o grande problema que tais pessoas enxergam em Luther King, no meu ponto de vista, não tem a ver com os erros que possa ter cometido na vida. Acho que tem mais a ver com a classificação que atribuíram a ele: "liberal". Tenho o palpite de que se o tivessem identificado com a ortodoxia, todos seus erros seriam perdoados por essas pessoas. O que você acha?

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Concordo.

E fui fisgado na polêmica. Não deveria ter caído nessa...

Embroa evidente não tinha percebido a classificação liberal. Você está certa (se é que estou certo).

Abraços

Carlos Antonio disse...

Eu li o blog que fala sobre o Rev. King (primeira vez que li o blog e ultima) . Sinceramente; eu fico a cada dia mais distante desse meio gospel, parece que se Jesus estivesse aqui nesses dias muitas, mas muitas lideranças da "igreja" procurariam difama-lo, acusa-lo, ficariam gritando em seus púlpitos sobre sua vida com o pecadores.
Parece que para esses lideres hiper - ortodoxo o que é fora da sua supra - teologia, não tem valor algum. O certo é o certo deles, talvez se o Rev. King desse prioridade a instituição religiosa e, desse vistas grossas a segregação racial norte americana, mesmo se isso causa-se um futuro sangrento e carregado de ódio, para esses lideres o primeiro ato é que seria valido. Pois mais "igreja", templos e sucesso.

Rev. Marthin Luther King Jr. Ainda bem que ele sonhou.

Lou Mello disse...

Roger, em alguma tradução mais moderninha do texto bíblico para português, há um salmo (ou seria um provérbio? Whatever) assim: "Não há como denegrir alguém, sem tirar proveito para si mesmo". Essa é a lógica ortodoxa, se não me engano, aliás, é a minha também, caso contrário, quem nos notará. O King foi um cara legal, apesar dessas bobagens relacionadas à implantação de igrejas, sermões expositivos, etc. E os caras nem sabem que ele fumava até, mas uma diminuída em sua grandiosidade, sempre pode redundar num "eis-me aqui". Lembre dos episódios envolvendo Gondim, Ed, Brabo e até sobraram farpas para gente inexpressiva como eu, o menor de todos.

Tuco disse...

Roger.
Movido por uma curiosidade mórbida, li a postagem dos caras até o fim e, creia, vc não incorreu em nenhuma injustiça.
Que textinho miserável aquele.

O Tempo Passa disse...

Roger,
Sinceramente, pensei que vc tivesse coisas mais importantes pra fazer do que ficar lendo "os caras", meu!!! O pior, é que me fez ir lá e comprovar "in loco", ô louco!!!
Não vou nem começar... 'xáprálá... haja!

Heloisa Lima disse...

Como vc, também li o referido artigo e não me agradou nem um pouco, o que me levou a escrever o comentário a seguir:

O fato de Martin Luther King não ter levado uma vida exemplar no aspecto moral, nem ser aprovado num "teste de ortodoxia" serve para demonstrar sua humanidade e, consequentemente, sua índole pecaminosa, o que o torna tão humano como qualquer um de nós, incluindo pessoas como Jacó (mentiroso, dissimulado,enganador, entre outras "qualidades")e Davi (um homem de conduta moral reprovável, adúltero e homicida). Certamente ele desempenhou um papel fundamental no campo político-social, combatendo o preconceito e envolvendo-se diretamente na luta pela igualdade de direitos entre brancos e negros, atividades que ocupavam a maior parte do seu tempo e que certamente o impediram de se dedicar a um "pastorado produtivo de uma igreja e a deixar um "legado expositivo da Palavra de Deus". Não o considero um mito, um exemplo de cristão, mas um homem de coragem, que não se deixou intimidar ao lutar contra a injustiça. Em seu discurso mais famoso ele defende uma sociedade mais justa, o que está perfeitamente de acordo com as Escrituras:"Bem-aventurados os que observam a justiça e a praticam em todo o tempo"(Sl 106.3).