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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Alergia alegria

Do andar de cima contemplava o mundo com um sorriso de canto de boca.

Lá de baixo olhavam sua vanglória com ar de desprezo que exalava-se alegre no mesmo canto de boca.

Em casa, os estranhos do dia a dia emprestavam-lhe a ilusão de companheirismo e ao mesmo tempo espantavam-lhe o fantasma tão presente da solidão.

Era um quadro, uma moldura, uma foto: Vãs festividades, honrarias de pouca duração, amizades instáveis.

O desejo imoderado por atrair admiração ou homenagens lhe custara o incalculável singelo sabor da vida. Preferira sempre o confete à discrição, as trombetas ao silêncio, a fama ao anonimato.

Não tolerava ver aquela gente tão comum achar-se alguma coisa. Irritava-se e coçava-se o corpo todo em contemplar a alegre presunção de um zé ninguém que pensava ter adquirido algo na vida. “Fatuidades de zé povinho…”.

Sentia-se diferente.

Com coisa fútil ou insignificante não perdia seu tempo, seu tão precioso tempo...

Lá de baixo debochavam-lhe da vida frívola. Não trabalhava, não o suficiente para ganhar tudo o que tinha, que era de origem duvidosa. Só podia ser roubo, herança, falcatrua, exploração… ou uma ou outra coisa, ou um pouco de cada.

Sua famosa e desmedida futilidade causava arrepios e náuseas em inimigos e inimigas, em amigos e amigas (se é que lhe restava ainda algum ou alguma).

Tudo era tolice. Pura e alegre, mas irritante, tolice.

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