Do andar de cima contemplava o mundo com um sorriso de canto de boca.
Lá de baixo olhavam sua vanglória com ar de desprezo que exalava-se alegre no mesmo canto de boca.
Em casa, os estranhos do dia a dia emprestavam-lhe a ilusão de companheirismo e ao mesmo tempo espantavam-lhe o fantasma tão presente da solidão.
Era um quadro, uma moldura, uma foto: Vãs festividades, honrarias de pouca duração, amizades instáveis.
O desejo imoderado por atrair admiração ou homenagens lhe custara o incalculável singelo sabor da vida. Preferira sempre o confete à discrição, as trombetas ao silêncio, a fama ao anonimato.
Não tolerava ver aquela gente tão comum achar-se alguma coisa. Irritava-se e coçava-se o corpo todo em contemplar a alegre presunção de um zé ninguém que pensava ter adquirido algo na vida. “Fatuidades de zé povinho…”.
Sentia-se diferente.
Com coisa fútil ou insignificante não perdia seu tempo, seu tão precioso tempo...
Lá de baixo debochavam-lhe da vida frívola. Não trabalhava, não o suficiente para ganhar tudo o que tinha, que era de origem duvidosa. Só podia ser roubo, herança, falcatrua, exploração… ou uma ou outra coisa, ou um pouco de cada.
Sua famosa e desmedida futilidade causava arrepios e náuseas em inimigos e inimigas, em amigos e amigas (se é que lhe restava ainda algum ou alguma).
Tudo era tolice. Pura e alegre, mas irritante, tolice.
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