Não sou nenhum corta-jaca*, como alguém já insinuou, não tenho razões nenhumas para isso. Nem precisava ficar aqui me explicando… Existe certa proximidade, certa afinidade de idéias. Fora isso estamos a quilômetros de distância. Nem nunca trocamos um aperto de mão ou olhar.
Alguns ataques pesados que o Ricardo recebe, dos que tive e tenho notícia, acabam contudo, de uma maneira ou de outra, me atingindo. Conto porque.
Mas antes sinto-me forçado a salientar que, na questão da Ultimato, sentiria a mesma indignação e revolta, ainda que o fato ocorresse com alguém com quem não tenho afinidade quase nenhuma, como Augusto Nicodemos - por exemplo. Suponhamos que a Mckenzie o dispensasse, da noite para o dia, alegando não concordar com algo que ele escreveu, sei lá, a favor do vinho, por justificar a presença de professores liberais, ou por ter se sentado à mesa com Sérgio Pavarini… não importa. Acharia, da mesma maneira, a decisão arbitrária e contra a liberdade de expressão. Veria, da mesma forma, a máquina institucional atropelando a individualidade, na pessoa de um indivíduo (para ser enfático).
Ou seja, a questão vai muito mais além do que um gosto ou afinidade pessoal, quando tomo meu tempo para opinar sobre essas perseguições e fogueiras (que agora são chamadas de “micro ondas”).
No caso do Caio Fábio, a história é longa e tentei explicá-la aqui: Caio Fábio - O fim de alguém que já foi alguém (pra mim). Mas a questão é a mesma, o Caio quer proclamar um Deus que controla tudo… um deus que para mim já não existe mais, e para isso desse o pau no que eu creio. Não, não meu amigo, assim não.
Todos aqueles ataques (e isso não é diferente desse último vindo de Tom Cavalcanti**) é que eles tocam primeiro em Gondim, claro, mas acabam mexendo com minha fé e naquilo que acredito. Eles ferem minhas crenças, minhas idéias. E não preciso ficar lendo ou ovindo isso calado (para isso que existe hoje Internet, Blog, Tweeter e essas coisas - Como disse meu irmão, antigamente você tinha uma boca e dois ouvidos, hoje você tem dois ouvidos e dez dedos).
Já escrevi alguma vez sobre isso, não se engane: Um debate sempre será pessoal e subjetivo! Não combatemos ideias, combatemos pessoas.
Quando penso nos três pontos gondinianos, e te convido a pensar com a gente, veremos que eles estão no cotidiano de nossa fé, de nossa prática:
- Um Deus de liberdade e consequentemente amoroso, que não controla tudo; (já refletimos fartamente esse tema aqui)
- Garantir ao próximo (seja ele gay ou não) o direito à liberdade (via estado) de serem donos de sua própria história e não serem discriminados por isso;
- Não rotular a Europa tão rapidamente como pós-cristã, mas reconhecer ali um avanço dos valores do Reino que se mostram na cidadania.
Nesse terceiro ponto, que Flávio Cavalcanti** arremata seu texto, me incomodei. Aliás o texto todo é horrível! Até pensei em pegar parágrafo por parágrafo e mostrar, pela própria Bíblia, pelas próprias passagens citadas por ele, como Deus esteve em cada caso em diálogo com os homens e que nunca a coisa foi assim imposta, absoluta, de cima para baixo como Cavalcanti quer dar a entender… Mas como alguém comentou lá, (exegese rasteira, generalização boba). Desisti, não vale a pena. Mas quero tocar na questão da Europa.
Pois bem, escreveu ele:
Como diriam os caipiras mineiros: […] cristianismo triunfante é aquele que ninguém vai mais à igreja.
Primeiro: caipira mineiro é a avó! [Estou brincando.]
Esta questão de ir ou não à igreja é, em minha opinião, algo super importante a ser revisto pelas igrejas institucionalizadas. Hoje não vou mais à igreja, e não me sinto melhor nem pior do que ninguém.
Eu vivo na Europa (já morei um ano na Áustria, um na Inglaterra, Holanda e vivo há mais de 10 na Alemanha) e sei do que falo. Aliás vim para Europa com a finalidade de falar de Jesus para uma geração “pós-cristã”. Te digo, ouça bem: Isso não existe! O Lou e o Beto já me aconselharam sobre isso, escrever sobre as igrejas na Alemanha. Ainda farei isso, mas terei que separar a Igreja das instituições – tarefa nada fácil.
Queria ver o que seria dos espiritualistas brasileiros se os “humanistas” europeus parassem de enviar suas ofertas, ajudas humanitárias, staff e etc. Sem dúvida muitas igrejas, ONGs, escolas e hospitais fechariam as portas. Não quero aqui entrar no debate, colonialismo, imperialismo, teoria da dependência, e etc. Só quero chamar a atenção para que não pensemos que o cristianismo evangélico brasileiro seja melhor ou mais espiritual do que o atual cristianismo Europeu.
“Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.” R. Gondim
Tem muito para ser dito sobre o assunto, até mesmo passando pela Renascença, pelo Iluminismo, pela a Revolução Francesa, talvez até pela própria Reforma Protestante. Precisaríamos voltar à colonização dos Estados Unidos e entendermos um pouco mais da fonte, do tipo de cristianimso evangelical, que bebemos hoje. Com menos frequência do que aqui n’A Teologia Livre’ faço isso com calma lá no Blog em que releio duas das obras de Francis Schaeffer.
Mas evidentemente existe também o gosto e a afinidade pessoal. Até mesmo porque, segundo cremos - e nisso o filósofo e blogueiro Paulo Brabo há de concordar comigo (ainda que ele me julgue um impertinente, que nega a raça e desça do muro se envolvendo em polarizações) – o evangelho é a crença, não em uma cartilha (ou catecismo), mas em uma Pessoa. E mais do que a confissão dessa crença é o relacionamento com essa Pessoa.
Ninguém melhor que Jó expressou o que esse relacionamento pessoal, essa amizade, deveria significar e até onde ele deva ir – mesmo não se tratando de nenhum desesperado e de nenhum apóstata, a citação fala alto. Mas temos visto o oposto. A história se repete, é de se lamentar.
“Um homem desesperado deve receber a compaixão de seus amigos, muito embora ele tenha abandonado o temor do Todo-poderoso. Mas os meus irmãos enganaram-me” - Jó
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*Se gostou aqui vai mais alguns adjetivos do Aurélio para bajulador: adulador, adulão, aduloso, babão, baba-ovo, banhista, cafofa, chaleira, chaleirista, cheira-cheira, chupa-caldo, corta-jaca, engrossador, enxuga-gelo, escova-botas, incensador, lambedor, lambe-botas, lambe-cu, lambe-esporas, lambeta, lambeteiro, louvaminheiro, puxa-saco ou puxa-sacos, sabujo, xeleléu, xereta
** Dizem que trocar o nome é pior do que matar o home
Roger
ResponderExcluirSó um detalhe sobre o Gondim, ele precisaria sair das palavras e colocar um pouco de ação na vida dele, a meu ver. Isso é o que me incomoda nele, no Kivitz, também. Sabe, chega uma hora que você precisa mostrar alguma coisa, sob o risco de cair no descrédito. Sabe, sair do discurso, e ir à luta. Para mim, a história do Jovem Rico serve como luva de pelica para ele. Ou seja, a receita seria: Desistir como ativismo (http://escoladeredes.ning.com/group/desista?xg_source=activity)
Aí, até acrescentando algo ao que você diz, a Ultimato fez o que era esperado, é uma revista cristã quase ortodoxa, em sua teologia e um cara com os pressupostos como os do Gondim não cabe lá. No,lugar dele, já teria saído há muito tempo. Mas ele é novo ainda e aprenderá a antecipar-se a esses eventos, evitar constrangimentos e esse gostinho de fel que sente agora, penso eu. Talvez ele devesse ter saído em alguma foto abraçado comigo, então isso teria acontecido muito antes. :)
Outro detalhe, seus textos estão cada dia melhor. Não tenha medo de ser independente, você pode.
O Lou tem razão em relação ao Ricardo, mas, tem coisas que tem um significado especial quando o Ricardo diz, e só quando o Ricardo diz, devido a posição ocupada por ele, por ele ser líder de uma comunidade. Quanto à Igreja; à posição da igreja na Europa, creio ser das melhores. Grandes pensadores ajudaram libertar a Europa de um cristianismo supersticioso e autoritário; pessoas como Emmanuel Kant, Schopenhauer, Frederico Guilherme II, na Alemanha; Voltaire, D'Alembert, Diderot,na França e muitos outros, ajudaram à Europa a libertar-se de um cristianismo selvagem e autoritário. Ninguém no Brasil levantou a bandeira que estes homens levantaram; o Brasil é um país carente nesse sentido. A Filosofia está á frente da teologia. É gratificante ver o Brabo ser classificado como filósofo, no seu texto. A teologia é o mal das nações. Que me perdoem os teólogos.
ResponderExcluirRoger, o defensor dos oprimidos... hehehe...
ResponderExcluirSério: "I'm for the underdog". Torço sempre pra quem está apanhando. Como o Gondim, e... você.
Sobre a briga a qual vc se refere, não entendo porque tanto rebuliço... tanta "polarização".
Todos jogam tênis, ninguém joga frescobol...
Há controvérsias..
ResponderExcluirSó quem percebe como o Evangelicalismo (do qual eu já fiz parte) tomou uma canoa furada e vai se afundando entenderá a importância daquela voz profética.
Uma vez claro o teor e intensidade do alerta. Pode-se mensurar a seriedade das oposições, naturais, que recebe. Aliás a oposição é uma espécie de confirmação, como não poderia deixar de ser.
Quanto à prática versus discurso, não temos condições de avaliar. Não é todo dia que nasce uma Madre Tereza, ou um São Francisco. Ou melhor, nem todo que renuncia ou se doa vira Santo, a maioria talvez fique no anonimato. Paul Tournier é quem defende a idéia do equilíbrio entrar o dar e receber. É difícil avaliar onde uma pessoa está nesse ciclo. Ou não?
Saudações fraternas e obrigado pela visita e contribuição.
Roger
Mas... quando mesmo você vai escrever sobre as Igrejas da Alemanha? hehehe
ResponderExcluirAliás, a Jacque vai para aí daqui uns dias. Vai com uma missionária de Cuiabá, e aproveitará para conhecer alguns pontos turísticos...
Aff... estou tão ausente no mundo da blogagem que até estranho quando comento um blog... heheheeh
Abração, mano!
Eu tinha uma outra imagem do referido Tom Cavalcanti (rs), mas ele tem se mostrado um defensor do Evangelismo como tal, com todo um discurso fundamentalista e obscurantista (termos redundantes). Não pensei que ele fosse assim, sinceramente.
ResponderExcluirEm seu texto "Que Deus NÂO nos livre de um país evangélico", Cavalcanti exalta um evangelicalismo que não existe ("garanto que temos muitíssimo mais trigo(às vezes armazenados nos celeiros, quando deveriam estar sendo usados nas padarias)..."), ao mesmo tempo que clama por heróis ("necessitamos(...) de líderes sólidos e firmes, vestindo a camisa de nosso time..."). Ao meu ver, a glorificação da utopia e o clamor para o surgimento de líderes que defendam essa utopia são atitudes retrógadas e irreais. Cavalcanti exalta paradigmas já ultrapassados, dos quais eu - e muita gente, creio - já se cansou.
Quem conhece um pouquinho de história, e sabe o que a igreja, como instituição, esteve aprontando em nome de Deus e Jesus - Inquisições, cruzadas, idade das trevas, caça a bruxas, índices de livros proibidos e queima de livros, venda de indulgências etc - não condena os europeus por não se sentirem com vontade de lotar prédios de igreja.
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