Uma moeda, uma ovelha, um filho: três perdidos, três achados.
O problema da moeda é que ela é um ser inanimado, sem vontade, sem consciência. Seu relacionamento com seu propieatário é meramente utilitário.
A moeda, ou dracma, possui todavia seu valor; e uma vez perdida, será com afinco buscada por sua dona, até ser encontrada. Móveis serão removidos, a poeira será varrida, os cantos serão vasculhados. Toda dracma perdida, deve ser e será achada.
Contente a mulher conta para a vizinhança toda seu fabuloso feito.
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A ovelha possui uma dinâmica muito mais intensa de ralacionamento com seu proprietário. Ela está viva e tão animada que acaba se perdendo, por conta própria.
A ovelha possui também seu valor utilitário, mas esse nem se compara a seu valor sentimental. Seu dono não exitará em deixar outras 99 em perigo, para resgatar uma que fatalmente morrerá. O resgate de uma ovelha é uma questão de vida ou morte.
Uma vez resgatada é motivo de festa.
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Por fim temos o próprio filho: sangue do próprio sangue, herdeiro, sucessor nos negócios e na vida. Com vontade própria, sentimentos e sonhos próprios o filho se une intimamente ou separa-se, até mesmo radicalmente, do pai. O bem estar do pai, dependerá miseravelmente do bem estar dos próprio filho, que no caso, escolheu seguir seu próprio caminho.
A busca do possuidor, nesse caso seria vã e inútil. O perdido não é nenhum objeto, mas sim um sujeito, e como tal, livre. O filho perdido deverá voltar com as próprias pernas, as mesmas que o levaram, um dia, para uma terra distante.
Tendo-se imolado o novilho cevado, festeja-se seu retorno. Um filho que volta é um filho que renasce. Ainda que tido por morto, nunca deixará de ser filho. Ainda que se enxergue como servo ou indigno, sempre será filho, e portanto, amado como tal.
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As pessoas se relacionam com Deus em categorias distintas.
Alguns vêem em Deus somente o lado utilitário. Deus me dá saúde, bens, e etc. Deus tem seu valor, na medida que é um meio para eu alcançar outros fins. Deus não é um ser pessoal, mas é um objeto, uma força.
Assim como vejo Deus, me projeto também diante dele. Talvez até mesmo por ignorância, a superficialidade de meu relacionamento com Deus se dá, ocasionalmente ou mesmo constantemente, nesse plano prático, material e impessoal da vida.
Deus também se importa com esse tipo de pessoa e a salvará. Exemplifico: imagine um xintoísta - ou até mesmo um ateu – que não saiba nada dos principais dogmas cristãos, mas que procura viver uma vida autenticamente xintoísta (ou materialista), reta, clara e honesta, segundo a vontade dos kami (ou da ética ateísta), assim, visita os doentes e presos, veste os nus, e dá de comer aos famintos. Ainda que tal pessoa se perca, um dia, será resgatada.
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Uma segunda perspectiva do relacionar-se com o Criador é tê-lo como meu dono. Me sinto totalmente dependente dele. Reverencio-o e o admiro. Como um cachorro que lambe as mãos do dono e pula quando o vê chegar, eu o adoro. Meu relacionar com Deus já não é mais impessoal, mas ainda possui um caráter estremamente utilitário e talvez por isso mesmo afetivo. Quando perco-me de Deus, meu mundo vira um caos, a morte existencial é iminente.
Em minha miopia enxergo-me diante de Deus, no reflexo de minha própria sombra. Como sei que dependo de Deus, imagino que Ele dependa de mim e, de alguma forma, virá me resgatar. Como sou apegado ao criador, imagino Ele apegado a mim, e capaz de deixar tudo para me acudir.
Nesse caso também Deus salvará tal alma, ainda que ela não tenha noção nenhuma da doutrina do novo nascimento ou batismos. Seja ela um cristão nominal, um islâmico ou judeu, que viva sua religiosidade sem ter em Deus o Pai amoroso revelado por Jesus, tal pessoa será salva. Ela possui seu valor para Deus, ela é amada por Deus.
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A terceira perspectiva, a mais intensa, é também a mais completa.
Nela nos vemos diante de Deus num patamar mais que utilitário, mais que puramente afetivo. Na verdade, a perdição é o caminho de ida e volta, que nos ensinará essa lição. O filho deixa o pai para entender, a utilidade e o valor do seu aconchego, de sua amizade, de sua paternidade, de sua própria filiação.
No meu relacionamento com Deus, compartilho do mesmo teto, da mesma mesa e de sua incondicional confiança. Se me perco ou afasto desse lar, sei que foi por minha livre escolha, e sei que o retorno também custará minha própria iniciativa.
Os filhos pródigos também voltarão à casa. E serão recebidos – por favor, não pense que aqui me refiro à igreja, ou a um crente desviado - O filho que se perde, pode ser perfeitamente um cristão ou não. É aquele que se relaciona com intimidade com Deus. Que tem Deus como Pai, amigo ou irmão (sem dúvida uma visão especial, mas não exclusiva, do cristianismo). Uma vez perdida essa intimidade, também essa pessoa, no momento adequado, cairá em si e voltará. E será recebida com festa.
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Você poderá achar que com isso estou advogando o universalismo. Não é o caso. Sobre a perdição, Jesus contou outras parábolas; essas aqui tratam porém de salvação.
Sobre a interdependência entre aquele que procura e o perdido, temos uma clara e embaraçosa contradição: A dracma sendo o mais dependente dos três personagens perdidos, é a que mostra menor interdepência frente a seu possuidor. O inverso acontece com o filho, que sendo o mais independente, é o que mais necessita do pai, e o pai dele.
E ainda existem pessoas querendo levar um evangelho americanalhado, quero dizer, americanizado para à Europa. Estão querendo infantilizar à Europa, seria? O Continente Europeu é muito antigo, é o velho mundo; será que se deixariam levar por um evangelho tão infantil, como o da América, "O nosso evangelho"?. Creio que não! Deixem á Europa em paz!
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