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domingo, 23 de junho de 2013

Sequestraram o Brasil

O momento é especial, é delicado.

Há um sentimento de que o Brasil (seus recursos, suas riquezas, sua força) estava em mãos erradas. Um maníaco o havia sequestrado e o Brasil estava ao longo dos anos sendo abusado e maltratado por esse maníaco. E agora seria finalmente a hora de devolver o pais para seus verdadeiros donos.

O sentimento é de que os reais donos da nação estariam nas ruas para reivindicar aquilo que lhes pertencem por direito. Ledo engano…

Não voltarei aqui no “Descobrimento”, nem na Inconfidência, não precisamos falar da “Independência”, Abolição, nem da República, nem das múltiplas revoluções e muito menos da Ditadura, da Abertura, do Impeachment e tudo mais. Você e eu sabemos muito bem que o Brasil, apesar de todas conquistas, nunca foi nosso, nem dos nossos pais, nem dos pais dos nossos pais…

Que uma coisa fique clara: o poder econômico não sequestrou o Brasil. O Brasil sempre foi deles. E ainda é. Se há sequestradores, nesse momento, somos nós.

Os verdadeiros donos do Brasil, esses que sempre mandaram e desmandaram aqui (sim me sinto mais presente do que nunca) não abrirão mão desse quinhão tão precioso assim tão facilmente – e isso não é, por favor não me entendam mal, um chamado à luta armada.

De mão beijada ninguém abrirá mão de seus privilégios, de suas regalias, de suas vantagens, de seu patrimônio. Sim, porque para manter a posse disso tudo, muita propina precisou ser paga, muito recurso desviado, muito subsídio garantido.

Gandhi precisou ser uma alma iluminada (dessas que aparecem uma a cada milênio) para conseguir arrancar a Índia e o Paquistão das mãos dos ingleses. Sobrou-lhe imaginação para idealizar protestos pacíficos que demonstrassem um ideal melhor de sociedade para aqueles povos. Um ideal de liberdade. E foi assassinado sem ver a unificação que queria.

Também não precisaremos passar por Martin Luther King e outros tantos grandes revolucionários para chegarmos à conclusão de que para se realizar um sonho é preciso muito mais do que um sonho e belas palavras – ainda que ambos sejam imprescindíveis.

As palavras de Jesus na Palestina de Herodes foram precedidas da cabeça de João Batista e sucedidas pelo seu próprio corpo crucificado.

Duro é o penhor a ser pago no resgate de um povo, de uma nação.

Quem deseja sequestrar toda uma gente, precisa estar consciente de que se não houver coisa melhor a ser oferecida aos sequestrados, eles logo vão querer voltar para as mãos de seus antigos donos.

A delicadeza do momento está na exatidão do cálculo dos custos necessários para se atingir o resultado esperado: justiça, liberdade, paz, prosperidade. Nada disso será galgado sem sacrifício. E quem estará disposto a pagar tão alto preço? Aqueles que já não possuem nada?

O momento é especial pois obviamente não se repetirá tão cedo. O gigante logo, logo se cansará e adormecerá de novo, e só Deus sabe  quando, e nos braços de quem, ele acordará novamente.

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