“Em alemão, a palavra “lua” é masculina. Por isso Nietzsche pôde dizer que a lua é um monge que olha com inveja para a terra, ou um gato, Kater, que pisa tapetes de estrelas.” Jorge Luis Borges
Estava conversando com uma querida amiga sobre nossa necessidade por derramar as letras no papel. E ali ir observando como elas se achegam umas às outras e vão moldando algo belo, algo significante e ao mesmo tempo efêmero como a chama da vela que alumia a escrivaninha.
Fato é que a vela já não mais alumia e muito menos o papel é o objeto da escrita. Mas o que isso importa? As letras continuam ali em sua promiscuidade na tela do PC ou Laptop.
É verdadeiramente engano pensar que retalhos de texto são pornografias literárias espalhadas nas redes sociais. Todo texto é, se não pornográfico, pelo menos promíscuo sob a perspectiva filológica. Vejam como as palavras se casam e separam e se relacionam umas com as outras e depois vão buscarem outras parceiras sem nenhuma fidelidade. Olhem como elas a bel prazer mudam até de gênero.
Foi essa possibilidade homossexual nata da palavra “final” que me proporcionou relacionar a distâncias com amigos atleticanos: Afinal o galo estaria na final ou no final?
E quando entramos, a exemplo de Borges, pelas trilhas de idiomas estrangeiros? Existe um Shangri-La a espera de todo aventureiro, onde o sol é a sol e a lua é o lua. Onde a pátria não é mãe gentil, mas pai mesmo.
Mas não são só as questões banais de gênero, como o argentino bem destacou há uma formação uma codificação de sons e letras que emprestam a cada vocábulo uma particularidade própria. E ali estará escondido o sentido da palavra, do texto, da conversa. E quem terá ouvidos para entender?
Não é atoa que alemães se tornaram bons filósofos. O alemão é uma língua extremamente objetiva (se é que isso fosse possível) e pode servir bem para trazer luz a assuntos complexos de forma bem técnica e detalhada.
Os alemães, por mal dos pecados, tem essa coisa de emendar palavras. Que no início assusta, aquela quantidade de verdadeiros palavrões. Führerschein? Schein é um papel, um documento. Führer é dirigir, dirigente. Por que então não uma palavra só, Führerschein, ao invés de três “carteira de motorista”? E no dia a dia é prático essa economia de palavras.
E não só em questões técnicas, mas nas questões estéticas. Mas isso é tema para quem sabe outro dia, outro texto.
Por hoje basta concluirmos que o problema [ou a virtude] das palavras reside em que elas nunca são estáticas. Elas estão sempre mudando de sentido assim que são ditas, escritas, ouvidas, lidas, recitadas, cantadas...
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