Uma personalidade como o doutor Martinho Lutero me faz orgulhoso de ser alemão e protestante. Há 500 anos ele fixava suas teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg e mudava definitivamente e profundamente a Europa. Hoje fazemos pouca ideia da grandeza daquele ato e tudo que implicava para a pessoa de Lutero.
Não é incomum as pessoas verem Deus como um tirano. A ideia de inferno está comumente associada a uma espécie de mecanismo desenvolvido para amedrontar os seres humanos: quem não fizer o que Deus está mandando vai penar no inferno. Alguns vêm nela um construto teológico medieval de caráter puramente ameaçador, outros pensam simplesmente que Deus seria assim mesmo – um opressor.
Outros menos informados chegam ao exagero de achar que toda religião não passa de invenção para que as pessoas se comportem melhor – ou seja, um invento que nunca funcionou muito bem…
As pessoas são más, o ser humano é mau. Tragédias como a de Goiânia ou de Columbine nos fazem lembrar disso. Talvez dizer que não houve culpados seja tão absurdo como considerar-nos-mos todos culpados. Cada um é responsável moralmente por seus próprios atos. E cada ser humano fatalmente pecará, agirá maliciosamente. Jesus afirmou, que não há um bom sequer. A Bíblia nos fala que todos pecaram.
É nesse contexto que surge a realidade da condenação, da pena, da morte. E o inferno é a condenação eterna, o qual Deus preparou para o Diabo e seus anjos. Esse conceito de que o mal é punido nunca foi problemático para a humanidade.
Na idade média o desvio ocorreu, quando a igreja começou a usar seu poder e força e teologia para arrancar dinheiro da população, através das indulgências. Primeiro, inventou-se um purgatório para intermediar a condenação eterna. Segundo conferiu-se à igreja o poder de livrar as almas do purgatório por meio de dinheiro. A pressão psicológica estava institucionalizada e em níveis continentais.
O doutor Martinho Lutero teve coragem para dizer não, basta, aos valentões da igreja. Em sua teologia todo cristão é livre e senhor sobre todas as coisas, e ao mesmo tempo um servo de todos, devedor de amor a todos.
Duas pessoas que souberam viver e morrer por esses princípios foram Martin Luther King Júnior e Rachel Scott. O primeiro, líder do movimento dos direitos civis nos EUA e combatente contra o bullying racial; a segunda a primeira vítima do ataque de Columbine em 1999.
Rachel Scott que foi assassinada aos 17 anos viveu a crença de que poderia mudar o mundo através de uma reação em cadeia, por meio de valores éticos como confiança, honestidade e compaixão.
Não é raro no Brasil e no mundo pessoas que são ridicularizadas por sua fé. Em caso mais extremos e não menos raros trata-se de verdadeiros bullyings.
Sofrer bullying é ser perseguido e de certa forma essa é a sina de todo cristão sincero. Não é por acaso que Jesus pregou, “bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa” e São Paulo também alertou, “todas as pessoas que almejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidas”.
A Reforma deixou-nos a lição secular de como a perseguição pode estar no centro da própria igreja. Mas também nos lembra que a voz do protesto deve surgir também do centro da própria igreja. E que para todo valentão que quer impor sua força por meio de pressões psicológicas e violência pode haver simplesmente um valente que diz: chega de abusos.
É nesse espírito que antes de sermos evangélicos, deveríamos todos sermos protestantes.
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