Existiria alguma verdade que seja evidente por si só? Você é fiel a princípios ou a pessoas?
Em face do
fenômeno das fake News, das propagandas em massa, do famoso “2 mais 2 igual a
5” de George Orwell em 1984, fica a dúvida se a verdade, seria mais uma
construção social, uma ideologia, uma narrativa, ou seria algo evidente por si
só.
Na infância,
somos todos tutelados por pais e educadores, que em via de regra nos imprimem
seus sistemas de crenças, lógica e valores. Passamos pelos conturbados anos da
adolescência onde questionamos e colocamos à prova tais sistemas e por eles
também somos questionados e provados. Na idade adulta deveríamos então ser
capazes de, por si só, julgarmos o que é verdadeiro ou não. Nos tornamos
responsáveis, e deveríamos ser fiéis à nossa própria razão e consciência, pois
são elas quem nos dirão a quais valores devemos nos apegar.
Mas até que
ponto, seres humanos tão falhos, imperfeitos e contraditórios, seriam capazes
de permanecerem fiéis a alguma coisa? Ou mais difícil ainda, de traírem seu
próprio ego, com todos seus mecanismos de auto manipulação e auto sedução?
Aqui vale o
recorrente questionamento: Poderia um cristão perder a sua salvação? O qual
forçosamente teríamos que reformular para: Poderia um cristão apostatar e mudar
suas crenças e valores a tal ponto de rejeitar a pessoa de Deus? E talvez a
pergunta mais apropriada ainda: Poderia Deus definitivamente abandonar a pessoa
de um cristão genuíno, se esse deixasse os valores e princípios cristãos?
Paulo
ensina para Timóteo “que se perseverarmos, com Ele igualmente reinaremos; se o
negarmos, Ele também nos negará; mas se somos infiéis, Ele, entretanto,
permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo”.
Curiosamente
Deus não pode negar-se a si mesmo; mas Ele exige que nós nos neguemos a nós
mesmos. “Aquele que quer ser meu discípulo, negue-se a si mesmo”. O que, a
princípio, poderia parecer uma injustiça, que Deus peça para que a gente faça
uma coisa que Ele mesmo jamais faria; mostra-se coerente. O que Deus não faz é
negar a Deus, e Ele não nos pediria nunca que O neguemos. Negar-se a si mesmo,
é negar o pior e o melhor que tenho. O Cristo, exemplarmente, também se negou a
si mesmo quando disse, “seja feita a sua vontade e não a minha”. Na verdade,
toda sua vida foi um exemplo de abnegação.
Só quando
chego ao ponto de negar a mim mesmo, com todos aqueles princípios, valores,
razão e consciência que me foram imprimidas desde a infância é que posso
submeter-me ao Cristo, a tal ponto que não me resta mais nada propriamente meu
que possa me apegar. É afirmar que há um verdadeiro Deus em meu viver, em minha
existência, em “meu” universo.
Uma
advertência: Aqui, Paul Tournier nos lembra para sermos cautelosos. Não se pode
exigir que alguém negue aquilo que nunca se tornou. Devemos incentivar nossos
próximos e nós mesmos a nos desenvolvermos e a nos tornarmos alguém e só depois
é que se pode pregar a abnegação, o desapego. Ninguém poderia abrir mão de algo
que, de fato, nunca possuiu.
Jesus se
revelou como sendo a verdade, mas não uma verdade isolada na razão, mas
atrelada à vida e ao caminho. Pois a verdade é algo que experimentamos com
nossa mente (através da razão), o caminho com nossas pernas e pés (através da
vontade), e a vida com nossos corações (através dos sentimentos). A partir da
pessoa de Deus descobrimos que verdades só são evidentes para nossa razão,
quando casam com vida que pulsa em nossos corações e com caminho que tenho que
trilhar dia a dia.
Assim, um
cristão genuíno só o é de verdade quando, em dado momento de sua vida, recebe a
Jesus como Senhor, por meio da fé. Ele assim, abre mão de sua razão, de seus
sentimentos e vontade e os submetem plenamente à pessoa de Jesus. O que
equivale a dizer que um cristão genuíno jamais deixaria os valores e princípios
cristãos, não por causa de si próprio, mas por causa de seu Senhor.
Concluímos
assim que forçosamente somos fiéis primeiro às pessoas (ou aos egos de outros ou ao meu próprio
ego). Até mesmo quando nos tornamos fiéis a Deus, tornamo-nos fiéis primeiro à
pessoa de Deus e não a seu sistema de princípios e valores. Os quais existem,
são perfeitos, confiáveis e úteis, mas sempre subordinados à sua pessoa, que os
criou e os sustenta.
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