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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um conto de Natal (5)

wbm20081017103528 Eu estava ali na pracinha observando aqueles dois homens avaliarem seus selos. O colecionador pegava a lupa e observava selo por selo bem detalhadamente. Depois consultava algum dos muitos catálogos que tinha. Não eram muitos selos, mas muito preciosos. Logo chegaram à conclusão que a pequena coleção valia quase R$ 50.000,00.

O colecionador falou ao velhinho.

- Você quer R$ 50.000,00 pelo envelope com todos selos?

- Sim. Por esse dinheiro o envelope é seu.

- Mas não tenho esse dinheiro todo agora. – Disse o colecionador que sabia que todos os seus selos juntos e sua coleção particular não dariam mais de R$ 25.000,00. E seus selos era praticamente a única coisa que possuia. Aliás, não tinha a menor idéia de como poderia conseguir a outra metade daquela fortuna.

- Então nada feito, estou hoje aqui só de passagem. Viajo hoje a noite. Disse o gringo pegando os selos e guardando-os no envelope.

Nessa altura o colecionador começou a mostrar seu nervosismo com uma leve tremedeira de mãos e voz.

– O que eu poderei fazer é te dar um cheque para semana que vem...

– Não. Eu teria que fechar esse negócio hoje e não aceitaria cheque em hipótese alguma. Disse o gringo guardando o envelope.

- Então nada feito disse o colecionador, com os olhos um pouco lacrimejantes. E visivelmente abalado.

O velhinho já estava se despedindo quando o colecionador tentou seu último trunfo. – Mas e se eu lhe der um cheque de R$75.000,00, o valor da coleção mais a metade?

Então o americano tirou o envelope do bolso. – Se eu puder descontar esse cheque amanhã, por esse valor você recebe a coleção.

- Recebo  o envelopet com toda coleção?

- Claro.

- Então espere, pois terei que dar alguns telefonemas.

O colecionador ligou para alguns outros colecionadores da capital capixaba, um dos diretores da siderúrgica de Tubarão apaixonado por selos e para um filatelista famoso do Rio e alguns outros conhecidos. Após alguns minutos estava assinando o cheque e sacramentando a transação passando-o para o americano.

O brasileiro acabara de vender tudo o que tinha, todos os seus selos, sua coleção particular, alguns pertences e inclusive a nova coleção que acabara de adquirir, com os olhos de boi, tudo. Tudo para chegar à soma de setenta e cinco mil reais, pois ele, na verdade só tinha um interesse.

O americano lhe passou o envelope com os selos, com um riso de canto de boca. Com seu penetrante olhar azul ele observava o brilho nos olhos daquele brasileiro.

imageAquele envelope estava selado com um selo americano autêntico, valor original de um cent, datado de 1868 com a imagem de Benjamim Franklin, conhecido como Z Grill, um dos selos mais caros do mundo estimado hoje em três milhões de dólares. O colecionador da pracinha de Guarapari, homem entendido em filatelia, sabia muito bem disso. E inexplicavelmente aquele velhinho americano também.

Após eu testemunhar toda aquela negociação vi mamãe e papai com meus irmãos que já haviam acordado de seu sono passando pela pracinha. Eles me procuravam para tomar um sorvete. Fomos andando pelo calçadão da praia das castanheiras conversando e rindo sobre algo que já não me lembro mais o quê.

Leia também: Um conto de Natal (1)

Um conto de Natal (2)

Um conto de Natal (3)

Um conto de Natal (4)

2 comentários:

  1. Roger, Excelente o relato destas lembranças. A riqueza dos detalhes sobre o valor e a importância de cada selo são bem educativos. Se continuar a escrever com este ritmo gostoso de se ler, acabará oridyzindo um bom livro. Feliz Natal. Augusto

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  2. Paizao,

    obrigado pelo seu sempre terno insentivo. Me sinto realizado e bem sucedido de saber que você passou por aqui. O que afinal precisaria mais? (nao precisa responder...) rsrsrs!

    Beijao e feliz Natal,

    Roger

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