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terça-feira, 16 de março de 2010

O mais longe possível

kierkegaard2[1]

Bem da verdade, se fôssemos usar do rigor de Reinaldo Azevedo, que diz ser de lascar chamar o Santo Daime de doutrina cristã, deveríamos ser também coerentes e dizer que é inaceitável chamarmos catolicismo, calvinismo, luteranismo, evangelicalismo, pentecostalismo e por aí vai de doutrina cristã!

Não é de se estranhar que pensem, e com razão, que o que fode o cristianismo sejam os próprios cristãos.

A raiz do problema está em que o cristianismo não passaria de mais uma religião qualquer (que tem Cristo como principal ícone); assim tudo o que usa o nome de Cristo se enquadra, logo, no cristianismo.

Kierkegaard já havia notado há muito essa dissonância e aponta sua principal causa.

Hoje [quer dizer, desde Kierkegaard, ou até mesmo bem antes] as boas-novas são pregadas aos ricos, aos poderosos, que descobriram que ele é vantajoso. Voltamos ao mesmo estágio original ao qual o cristianismo queria se opor! Os ricos e os poderosos não somente acabam ficando com tudo, mas seus sucessos tornam-se a marca de sua piedade, o sinal de seus relacionamentos com Deus. E isto leva à antiga atrocidade de novo, a saber, a idéia que o desafortunado, os pobres são culpados pela sua própria condição; que é assim porque não são piedosos o suficiente, não são cristãos verdadeiros, porque são pobres, enquanto os ricos têm não apenas prazer mas piedade também. E isto dizem ser cristianismo. Compare-o com o Novo Testamento, e vocês verão que isto está o mais longe possível do Novo Testamento.

Provocações - Søren Kierkegaard

2 comentários:

  1. Pra variar, bateu forte! E com apoio do Kierkgaard!
    De tanto ler, ultimamente, sobre os tema, chego à conclusão na realidade, o que não existe é esse tal "cristianismo", seja ele como religião, filosofia, política ou o que seja. Toda vez que etiquetamos algo com a palavra "cristianismo" montamos uma falsidade, uma irrealidade, um absurdo.

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