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quinta-feira, 11 de março de 2010

A igreja e os desigrejados

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Nenhum outro mantra vem sendo mais repetido e com mais freqüência nas igrejas protestantes e reformadas do que, "cristianismo não é religião".

Essa tentativa frustrada de diferenciar a fé cristã de outras grandes religiões do planeta, como o judaísmo, budismo, islamismo e hinduísmo, tem como principal argumento a lógica de que no cristianismo não seria preciso fazer nada para ser salvo (graça), enquanto nas demais, a salvação estaria baseada somente nas obras. Outro argumento forte basea-se na singularidade de Cristo, que ao contrário dos mestres religiosos, mas semelhantemente aos imperadores romanos e reis da antiguidade, proclamou-se ele mesmo ser o próprio Deus.

Teoria a parte, se cristianismo é ou não uma religião, a prática vem tirar qualquer dúvida sobre o assunto.

Não existirá coisa mais incômoda e aborrecedora para as organizações cristãs eclesiásticas atuais do que a evidência bíblica de que Jesus jamais plantou ou edificou algo, sequer semelhante, àquilo que chamamos, hoje, de igreja.

Se por um lado, na igreja católica, essa falta de evidência bíblica é relevada a segundo plano, uma vez que a tradição tem ali mais peso que as escrituras; por outro lado, nas igrejas evangélicas, o constrangimento é total, uma vez que tenta-se infrutiferamente e a todo custo fundamentar suas práticas no texto sagrado.

Enquanto isso, uma massa humana incontável não está nem se importando com o que se passa lá dentro daquelas quatro paredes "sagradas". E ainda mais: querem o máximo de distância, nem tanto do prédio, mas do tipo de pessoas que se reúne lá dentro. Por que é assim?

As razões são diversas e não há como generalizar. Existem razões verdadeiras e compreensíveis, como falsas e levianas. Conheci pessoas que se afastaram amarguradamente da "igreja" por vaidades pessoais e egoístas, outros (situação comum na Alemanha), para não pagarem o tributo para a "igreja" que é , por lei, descontado na fonte. Outros, e talvez esse seja a situação da qual eu mais me aproxime, deixaram de acreditar e cansaram do sistema.

Existem aquelas pessoas que simplesmente não possuem nenhuma inclinação (seja por educação ou história de vida) para os rituais dominicais eclesiástico; embora se afinem com a filosofia cristã. Já outros se afinam com os rituais religiosos; mas não fecham com as doutrinas.

E existem evidentemente aqueles que não se inclinam nem para os rituais nem para as doutrinas cristãs por razões culturais. Esses são os adeptos de outras religiões.

Como muitas pessoas (para não falar todas) também rejeitaram Jesus em seus últimos dias, isso será sempre usado como um argumento Joker, pelas instituições e seus mantenedores para defender-se de toda e qualquer crítica. (Cabe lembrar aqui também que não existe argumento mais eficaz para defender-se de críticas à igreja do que o "ela é feita de pessoas, e onde há pessoas há falhas").

O que a teologia acadêmica, porém, ainda não conseguiu explicar de forma convincente seria:

  • Qual o papel que a igreja deve desempenhar dentro da cristandade?
  • Qual o papel da igreja e da religião cristã frente às outras religiões?

Resumindo: Qual o papel da Igreja (na concepção mais íntegra dessa palavra) frente aos desigrejados?

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