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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Confronto com o diferente

Domingo, roupa de ver Deus, auditório cheio. Primeiro ouve-se uma música para indicar que o ritual religioso terá inicio.

Nós cristãos nos reunimos regularmente para diversos fins, inclusive para cumprirmos nosso dever dominical, seja numa missa católica, num culto protestante ou em uma outra reunião do gênero.

Até hoje, não se sabe exatamente como e quando tudo isso começou. Não sabemos também qual a essência ou onde situar o porquê dessas assembleias. Sabemos que precisamos delas, assim como o aluno e o professor precisam da escola para melhor aprender; assim como o jogador de futebol precisa do time, do estádio; assim como o operário e o empresário precisam das fábricas, e assim como os bandidos precisam de suas quadrilhas. Somos seres gregários. Somos "homo organizacional". E na religião não seria diferente.

Pois bem, você pode estar aí argumentando – com certa razão, não nego – que nem tudo é tão relativo ou indefinido assim... Reservo-me porém o direito de deixar esse hiato para, quem sabe, em outra oportunidade irmos mais a fundo nessa temática. A tônica que entretanto preciso emprestar à ideia aqui é que, de fato, ao longo dos dois mil anos de cristianismo, adicionados os sei lá quantos de judaísmo e todo os tempos dos patriarcas da fé, iremos perceber que pouca semelhança existirá entre as práticas e rituais de um tempo e outro, de uma cultura e outra, de um segmento religioso ou teológico e outro.

Você haverá de convir, que não poderemos comparar Abraão no monte Moriá, prestes a sacrificar Isaac, com alguém cantarolando num domingo ensolarado numa catedral em Praga ou em Salt Lake City. Não poderemos admitir o mesmo conteúdo de fé quando Jesus, em Jerusalém, reuniu seus discípulos para com eles comer o pão e tomar o vinho, àquilo que cristãos da Pérsia ou do Chile fazem regularmente celebrando seus cultos e missas. E a diversidade de ritos, tanto em suas formas como em seus significados, é tão avassaladoramente grande, que só nos resta acomodarmos ao modelo que assumimos ser para nós suficiente hoje, aqui e agora; e nos contentarmos com ele.

E estamos tão contentes com ele, tão convencidos daquilo que para nós é “O” modelo, que só ainda nos restará o assombro medonho, quando somos confrontados com algo diferente dele.

E não seria essa a razão porque uma igreja sempre teria necessidade de falar mal da outra; e porque um pregador teria sempre que falar mal do outro?

Lamentavelmente essa prática não é nada novo e muito menos raro. Você e eu já fomos inúmeras vezes o protagonista dela. Você e eu suficientemente já a contemplamos indignados. Eu e você incansavelmente já nos deliciamos ao assisti-la. É a relação de amor e ódio entre Narciso e sua Caricatura, entre a Caricatura e seu Narciso.

Poderíamos aqui desviar a atenção para a semântica do termo, e debatermos infinitamente sobre o sentido intrínseco ou extrínseco do que seja “falar mal”... Mudaria algo? Falar mal é falar mal. E fala-se. Não pouco! Fala-se da igreja "X" e do pregador "Y". Do evento, da música, da entrevista, do fato, da prática, da roupa, da teologia, do argumento, do que se disse e do que se ouve, etc, etc, etc.

Após a música suave e das outras menos suaves alguém credenciado toma a palavra. Abre um livro. Lê algo ali. Fecha-o e prossegue:

- Amados fiéis, que bom que conosco é diferente. Pois o que se vê por aí... Outro dia fiquei sabendo de um absurdo que lá na igreja tal...

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