Sim, a rua era de mão dupla. E ele sabia.
Foi na pressa, foi afoito. Antes, um amontoado de ideias e humores transpassaram seu coração.
Não se sabe até que ponto foram os acontecimentos de ontem ou os de sua infância que o distraíram.
Mas havia dois lados. Ele olhou só para um.
Foi aquela mágoa não resolvida, foi aquela cuspida não engolida. Foi a outra face não oferecida.
Até mesmo aquele triunfo sobrestimado em detrimento de outros que não contaram com a mesma sorte.
A pista por um lado estava livre, e a do outro?
Foi a pressa, a correria. Mas para quê? Um minuto a mais ou a menos… que fossem dez, ou até uma hora! Qual o valor do tempo?
O desencadear de pensamentos, suas preces, seus medos e certezas. Suas contradições.
Viu o caminhão passar e pensou que a rua estava livre.
Mas são os obstáculos que passam, que por breve momento nos cegam, nos impedem de vislumbrar o outro lado da moeda.
E o outro lado existe. E não estava livre.
Agora, estendido no chão de asfalto ensanguentado esperava a chegada da ambulância. Sua identidade seria procurada, seus parentes seriam informados.
A multidão se aglomerando. O motorista do caminhão com olhar apavorado, começava a xingar a vítima.
Lágrimas seriam derramadas.
Tudo porque não olhou para o outro lado.
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