Quando me tornei evangélico comecei a achar que deveria buscar e obedecer a Deus motivado somente pelo amor. Eu o amava porque Ele me amou primeiro.
Vivi dezoito anos católico. Aprendi no catolicismo a temer o Deus que castiga quando fazíamos algo de errado. Estava claro para mim o ensino do pecado original e da queda. O inferno pairava como uma ameaça para os maus e os céus como prêmio para os bons. Intuía então que a salvação eterna viria como fruto de uma vida santa e do meu esforço próprio. Nos meus dezoito anos de igreja católica, missas e catecismos e crisma, nunca ninguém havia me falado que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). A mentalidade, claramente anti-bíblica era que a salvação seria pelas obras – a fé e a graça não eram evidenciadas (pelo menos naquela época não era assim).
Não é de se estranhar, portanto, qual não foi o alívio com que abracei a ideia protestante da reforma: só a graça, só a fé, só Jesus. Não precisaria mais me relacionar com Deus por meio da barganha, na qual eu sempre estava em descomunal desvantagem.
Mas a verdade é que para chegar a esse ponto, de buscar a graça e o perdão de Deus, à semelhança do peregrino de Bunyan, fui tomado de um pavor gigantesco da vindoura ira de Deus. E também à semelhança do protagonista de sua alegoria, carreguei o meu fardo por umas boas semanas. Não foi somente o meu amor pela trindade que me impulsionara à Cruz e a seu Evangelho, havia também um temor. Que num primeiro momento estava mais real e até mesmo mais evidente que o próprio amor que tinha por Aquele Deus pregado pelas igrejas.
Bem, isso fez que num primeiro momento de minha caminhada cristã (agora evangélica) tentasse me afastar de todo exagero detectado na mensagem, que se direcionasse mais para o medo, a ira de Deus e a condenação eterna. Temas aliás, que por si só, já causam em boa parte dos seres humanos muito desconforto.
Nosso conforto num primeiro momento repousa mais em frases, como na música de Chico Buarque, “não existe pecado”. Acharmos que tudo é permitido, que não existe o certo ou o errado, que não se pode julgar, que não é papel do ser humano falar o que Deus condena ou não. Nossa comodidade se aloja num discurso de que as leis existem para serem quebradas. Especialmente se tratando de Brasil, do lado de baixo do Equador.
Ledo engano… sim, num primeiro momento tudo parece se encaixar e fazer sentido, quando se leva vantagem em tudo. Mas e depois, quando as consequências começam a ser colhidas?
Não quero justificar o moralismo. Nem a falta de graça farisaica. O puritanismo também possui seus víeis. Jesus permanece o amigo de publicanos e prostitutas!
Mas isso não é a carta branca para a impunidade. Não podemos retirar da mensagem do Evangelho o chamado ao arrependimento. Não podemos subtrair-lhe as advertências severas ao pecado e a quem o pratica. Não podemos negar à igreja e aos santos as admoestações a permanecerem numa vida santa e a tomarem sua própria cruz.
É nessa ótica que devemos assistir aos acontecimentos de hoje no Brasil com certa gratidão. Gratidão, não pela imoralidade que está sendo desnudada em vários segmentos e setores da sociedade; mas por estar sendo trazida à tona e devidamente punida, trás a esperança de amadurecimento da sociedade e por conseguinte de dias melhores.
“Eis o cordeiro de Deus”, que tira o pecado do sul do Equador. Especialmente do coração e da vida daqueles que confessaram suas iniquidades e as abandonam, daqueles que O receberam como Senhor e Salvador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário