No início deste ano comecei a pregar sobre o Sermão do Monte em nossa comunidade. Dizia que naquele monte da Galileia, era como se Jesus estivesse fazendo um pedido de casamento para sua noiva! Lá, Ele abrira seu coração revelando seu caráter e descortinando suas intenções mais íntimas.
Outra figura que usei naquela ocasião foi a de um general que apresentava a seu batalhão sua estratégia ímpar de guerra. Engraçado isso... Até que ponto um pedido de casamento teria algo em comum com um plano de guerra?! (Não importa).
O noivo se mostrava completamente apaixonado! O general estava empolgado! Havia um mundo (ou uma noiva) a ser conquistado! Ou seria simplesmente herdado? Mas será que o amor cegou completamente aquele noivo? Será que aquele general era uma espécie de Dom Quixote? Um Brancaleone frente a seu exército maltrapilho sem qualquer senso para a realidade?
De forma alguma. Jesus conhecia perfeitamente a natureza humana e sabia que era importante logo de início reforçar esse valor inestimável e intrínseco de sua igreja: Vocês são bem aventurados, felizes, bem sucedidos! Sal e Luz. E é isso que somos!
Não se tratava somente de elevar a autoestima daquelas pessoas, mas também de chamar a atenção para o fato inegociável da total dependência delas em relação ao Noivo, ao General. É na fraqueza delas que o poder de Deus seria aperfeiçoado.
Todas nove bem aventuranças possuem paradoxalmente seu lado enfraquecido e outro fortalecido; um lado carente e outro abastado. Ambos complementando-se mutuamente formando um todo. Pobres de espírito? Sim. Mas possuidores do Reino dos Céus. Possuidores do Reino dos Céus? Sim. Mas ainda pobres de espírito!
A noiva é carente, mas pela graça (e só pela graça), sendo pobre, ela é enriquecida pelo noivo. O exército é sofredor, mas pela graça (e só pela graça), sendo sofredor, ele sob o comando de seu General torna-se forte e mais que vencedor, assim é consolado.
Se uma noiva ou um exército? Não importa. O que importa é que o Mestre estava mostrando ali os padrões mais elevados do caráter divino. Padrões percebidos naquelas almas que Ele acabara de arrebanhar. Ele mesmo estava tratando de incutir seu próprio DNA espiritual também na identidade delas.
Mas como poderia Deus, o Senhor dos céus e da terra, ser pobre de espírito, ser sofredor e até mesmo ser manso? Não seria Ele o mesmo Deus que expulsou Adão e Eva do Paraíso, que fez chover enxofre sobre Sodoma e Gomorra, que enviou o Dilúvio e castigou de várias formas e em várias ocasiões seres humanos, israelitas ou gentios, mostrando sua severidade e ira? Até mesmo Jesus se irou pelo zelo de sua casa!
Existe uma grande, porém tênue, diferença entre o uso do poder e o abuso dele.
Hoje vemos líderes políticos nos quatro cantos do planeta se impondo por meio de um discurso agressivo. Eles são vistos como pessoas de peito, capazes de enfrentar o avanço do inimigo e proteger seus países das ameaças do mal externo. Assim, cativam boa parte das populações de suas nações, até mesmo cristãos. A curto prazo sua intransigência parece um remédio eficaz, só que a médio e longo prazo revelam a inconsistência e ineficiência de seus discursos beligerantes.
O problema está no uso abusivo do poder, uma falta moral grave que tais personalidades comumente possuem. Consequentemente acabam exercendo uma péssima influência na sociedade. Embora todos eles adotem um discurso religioso (cristão ou não), na prática, mostram-se estranhos ao caráter de Cristo e da verdadeira religião.
Como é esse caráter cristão? Primeiro destaca-se a pobreza espiritual somada à cidadania celestial; segue-se a dor e o lamento completados pelo consolo divino. O fruto que se segue disso não poderia ser outro, senão a mansidão (e não a brutalidade). E aqui está toda diferença! Quem é pobre e possui o Reino, chora pela realidade pecaminosa própria e do mundo, achando consolo no Evangelho; manifesta-se necessariamente mansamente diante de Deus e dos homens e não brutalmente. O caráter cristão nunca está querendo ganhar vantagens ou fazer justiça na base do grito.
É essa mansidão que garante o herdar da terra. Que pode até mesmo ser entendido como ganhar terreno na arena pública. Sim, mas é uma conquista pelo poder do caráter e não pelo caráter do poder. O poder da mansidão está na mansidão do poder!
Nossa relevância na sociedade como cristãos, como igreja, está em nossa autenticidade, que é simplesmente sermos quem fomos chamados para ser. Nisto está nosso sabor, nosso poder de influência. Porque tem sua fonte no Espírito do Noivo, do General.
O fato é que não é fácil para ninguém viver nesse mundo caído. Não é fácil para você, nem pra mim e não foi fácil nem para um Deus onipotente, onisciente e onipresente? Por que? Porque seu caráter é amoroso, de um Deus manso. Jesus pode até ter se despido de seus atributos, e despiu-se; pode até ter descido de sua glória, e desceu; mas Ele jamais abriu mão de seu caráter, de ser quem Ele era. Ele não poderia negar-se a si mesmo.
O caráter dos filhos de Deus, é um caráter manso. Agarremo-nos a esta verdade: Nós todos, os mansos, herdaremos, como prometido, a terra. Não restam dúvidas, somos bem aventurados!
Nenhum comentário:
Postar um comentário