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quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O Velório

Há várias noites tenho tido um sonho repetitivo.

Ele se inicia quando me vejo às pressas de viagem para o Brasil para o velório de um grande amigo.

Chego direto do aeroporto para o velório. O cemitério está cheio de velhos conhecidos e vem aquela sensação contraditória de tristeza pelo luto e gostosa de revê-los e poder abraçá-los novamente.

Os primeiros que encontro são os amigos da igreja, depois da universidade, depois do colégio técnico.

Depois começo a abraçar antigos vizinhos de rua e parentes. E choramos muito pela perda daquela querida pessoa. Meus irmãos estão lá. Choramos e rimos nervosos e aliviados com as costumazes piadinhas dessas ocasiões que servem como válvula de escape para toda a tenção do peso da morte.

É nesse ponto do sonho que me ocorre um sentimento – e pelo fato do sonho ser repetitivo -acompanhado de uma assustadora sensação de Déjà Vu: embora eu tivesse tido ao chegar ao velório plena certeza de quem era o amigo falecido, agora eu já não tinha a menor ideia de quem era o morto!

É com esse sentimento quase que vexatório de amnésia que me aproximo do caixão. Vejo na multidão gente amiga daqui da Alemanha. Abraço minha mulher e filhas. Choramos muito e nos beijamos.

Então, em minha mente, não consigo entender a total surrealidade da presença delas ali naquele velório. E olho morrendo de curiosidade e terror para o caixão, para saber afinal de contas quem tinha morrido...

E acordo banhado em suor.

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