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domingo, 1 de novembro de 2009

O pacto

Falávamos mal de alguém, de quem exatamente não me lembro, mas sei que ríamos e sentíamos-nos aliviados por não sermos tão desgraçados e miseráveis como o tal.

E ríamos de correr lágrimas nos olhos, os quais já estavam vermelhos com a fumaça dos cigarros e com o sono da hora avançada, a hora da despedida.

Insistimos com Fabiano para que não fosse para casa sozinho. Oferecemos carona e o xingamos. Mas o cara queria tomar um ar fresco e curtir um pouco mais a noite. E se foi.

Se foi ainda rindo e pensando em tudo que havia conquistado até ali, no início da meia idade. Fama, dinheiro e mulheres e uma carreira de invejar. Agora a vida fazia sentido e lhe dava prazer. E tudo começou a se deslanchar, há uns vinte anos, quando vencera aquele processo contra uma ONG.

E Fabiano se foi.

Mais tarde, recolhendo os relatos de uma e outra testemunha e tentando reconstruir o quebra cabeça daquelas últimas horas de Fabiano constatamos que ele havia descido a rua da casa do Fred até o próximo bar e ali tomado mais uma bebida qualquer.

Foi quando foi abordado por um homem muito bem vestido, de olhar agudo e terno impecável.

- Fabiano, como vai?

- Tudo bem… e você. Respondeu ele intuitivamente tentando recordar de onde conhecia aquela vós tão familiar.

- Chegou a hora de me pagar aquela dívida.

- Desculpe-me, mas deve haver um mal entendido… de onde você me conhece?

- Fabiano, como você se esqueceu tão rápido de mim! E o homem ria. Não tem nem duas décadas que você desesperado foi buscar minha ajuda.

- Sua ajuda?! Desculpe-me, senhor, mas eu nem te conheço. E não estou gostando desta conversa. Disse Fabiano com a voz trêmula tentando se esquivar de seu interlocutor.

- Fabiano, meu jovem, talvez isso lhe refrescará memória – e o homem colocou sobre a mesa uma foto, onde ele todo ensanguentado, ainda bem jovem, aparecia em meio a velas numa cena que lembrava um ritual de magia negra.

Fabiano entrou em parafuso. O efeito do álcool, o cansaço e as lembranças que começaram a ascender dos porões de seu passado quase lhe fizeram vomitar e desmaiar.

O homem deu uma alta gargalhada e amparou nosso amigo pelo braço e conduziu-o.

Fabiano entrou em uma limusine negra e desapareceu.

A foto esquecida na mesa do bar foi a única prova dos depoimentos que ouvimos.

Fabiano se foi.

Um comentário:

Alice disse...

... o pior é que o mundo está repleto de Fabianos. Oremos por eles, façamos algo.