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domingo, 31 de outubro de 2010

Vida longa Dilma

Posso muito bem imaginar que Serra seria um bom presidente. Por que não?

Só porque não foi seu partido que teve que arcar com as consequências do plano Real e dar continuidade a ele? Só porque não foi seu partido que fez da Bolsa Família um instrumento de marketing? Só porque foi seu partido quem privatizou as estatais? Só porque foi seu partido que deu início aos mensalões?

Nada disso impediria Serra de trazer avanços para o Brasil, porque o Brasil não é um presidente, nem um partido, mas o Brasil é um povo. Não penso que Serra seria a ameaça e o retrocesso alarmado por Chauí, ainda que admire a autora. Provavelmente Serra traria melhorias para áreas que o PT negligencia ou não teve competência para resolver. Mas Serra perdeu, e se concorresse mais mil vezes perderia todas mil.

Estou feliz com a vitória da petistas por algumas razões. As mesmas que me fizeram empolgar com Lula ou Obama. Acho que em todas essas razões que pontuarei abaixo Serra não teria nenhuma chance. São questões mais passionais e menos racionais. Mas me dou o direito de achá-las legítimas.

  1. Dilma é mulher – é uma honra termos uma mulher no cargo máximo do país. Pelo menos em alguma coisa, além do futebol, superamos os USA. Acho que Boff já escreveu todo o significado sobre isso.
  2. Dilma é filha de imigrantes – como Obama ela é filha direta de estrangeiros, e Deus sabe, como é superar toda a carga de preconceito que qualquer estrangeiro sofre em qualquer país. Essa bagagem Dilma também trás em sua genética.
  3. Dilma é PT – Apesar de todas as decepções do partido dos trabalhadores, ele ainda carrega toda a metáfora de um povo que se viu cansado de ser governado por uma oligarquia ou ditadura e quis por si só decidir seu próprio destino.
  4. Dilma foi guerrilheira – ainda que eu creia que a luta armada seja de forma alguma a solução para a desgraça da desigualdade social no Brasil e no mundo, admiro infinitamente mais aqueles que apelam para a violência baseados nesse ideal de justiça, do que pacificadores que se beneficiam dessa desigualdade.

Se posso imaginar então que Serra seria um bom presidente, mais ainda Dilma Rousseff.

Se Deus quiser os indicadores de distribuição de renda irão continuar melhorando no Brasil. Consequentemente os índices de violência cairão. Quem sabe até mesmo como efeito adicional, catalizador, com a Copa do Mundo e as Olimpíadas a auto estima do brasileiro melhore e o brasileiro passe a acreditar uns mais nos outros. E essa expectativa de corrupção, que acaba gerando medo e mais corrupção chegue a um fim.

“You may say I am a dreamer, but I’m not only one.”

Hoje fomos mais de 55 milhões.

3 comentários:

Alex Esteves disse...

Prezado Roger,

Rapaz, eu discordo de praticamente tudo o que você escreveu. Estive hoje entre a minoria bastante expressiva (40 milhões) que rejeitou Dilma como preposto de Lula. Os argumentos que você menciona sobre Lula ser mulher, petista, filha de imigrantes etc. são, me perdoe, muito fracos. Quem disse que Lula não governa com as mesmas oligarquias? Quem disse que Lula promoveu mudanças profundas no Brasil? O maior mérito do governo do PT foi não aplicar o programa do ...PT. Esse partido era contra tudo o que depois veio a fazer. Não venhamos a substituir a sociedade por um partido. E nem creio que esse processo eleitoral foi tão sereno assim, pois Lula usou a máquina como ninguém. Ele não respeita leis. Sinceramente, hoje é um dia triste para mim. Mas o país deve merecer isso aí.
Alex Esteves.

Fábio disse...

Olá Roger, tenho acompanhado o teu blog e gostaria de te dar os parabéns pelos posts. No entanto, sobre este último post, gostaria de destacar alguns pontos:
1)Lula (leia-se PT) negociou todos os seus valores. Na economia, deram continuidade à doutrina liberal. Os bancos lucraram como "nunca na história deste país".
2)Sobre oligarquias: não sei o que você entende por este vocábulo, mas para mim, alinhar-se a Sarney, Collor e cia ltda é um exemplo claro de alinhamento com as chamadas oligarquias.
3)No tópico sobre Dilma guerrilheira, gostaria de deixar claro que, como cristão, me nego a aceitar ambos: tanto os que pegam em armas, quanto os que se beneficiam das desigualdades. Há uma terceira via que precisa ser repensada.
Enfim, discordo em partes, concordo em outras. A minha "felicidade" sobre a eleição de Dilma não está fundamentada em nenhum dos itens elencados por ti, mas unicamente pelo fato de ter sido sacramentado pela democracia, pelo voto direto. Nisto sim, me alegro.
Espero que entendas minhas colocações, são apenas considerações. Parabéns pelos posts,

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Oi Fábio, oi Alex,

pela primeira vez uma postagem minha foi questionada de forma consistente! E gosto disso…

Entendo o vosso ponto, mas permaneço no meu, não por teimosia, mas por acreditar que no que escrevi em A eleição e o arbítrio, que não votamos em ideal ou partidos, mas votamos em um estereótipo em uma imagem. Existem prós e contra para Dilma e Serra. Vantagens e Desvantagens. Por isso acho que não só eu mas todo mundo acaba tomando a decisão baseado em fatores emocionais e não tão racionais como se pensa. (Alguns vão me odiar por falar isso, mas se o Aécio fosse o candidato do PSDB, meu voto seria provavelmente dele, por uma simples questão de bairrismo saudável).


Se para muitos Lula (e Dilma) venderam uma imagem de enganadores incompetentes. Para muitos eles passaram realmente a imagem de alguém que trabalhou em prol da igualdade social. O Lula tem uma imagem positiva, não só para uma camada significativa dos brasileiros, mas no mundo inteiro.

Só para fechar, entendo que a questão de Sarney e Collor podem ser entendidas de uma fórmula descomplicada: são eles que apoiam o PT e não o inverso. O inverso seria catastrófico. Como está é a lógica da política.

falei de mais, um forte abraço,