O milagre chama atenção, mas não poderia roubar a cena – a pessoa deve permanecer no centro, no caso um homem, um aleijado.
Assim o título, A Cura de um Mendigo Aleijado, pode ser facilmente transmutado em: Um mendigo aleijado é curado. Quem era esse sujeito?
Ele era um homem de mais de 40 anos, aleijado de nascença. Um mendigo. Um excluído que “vivia” de esmolas. (Vale a pena notar que o homem sofria de uma doença grave há mais de 40 anos, e não podia se levantar. Não se tratava aqui de uma dor de cabeça, dor nas costas, ou uma doencinha qualquer que poderia ser curada por meio de um medicamento ou através das próprias reações do organismo humano).
Ele teve sua vida virada de pernas pro ar ao “receber saúde perfeita”. Não sabemos seu nome, mas sabemos que mais do que objeto de “uma cura milagrosa” ele foi alvo de “um ato de bondade”.
Deus e o Diabo podem ter poder. Só Deus pode ter bondade. Deus e Satanás podem ser poderosos. Só Deus é amor. Por que então deixamos-nos seduzir pela duvidosa demonstração de poder e não buscamos provas definitivas de amor e bondade?
O aleijado não somente estava à margem da sociedade, mas estava à margem da igreja. Aproximou-se de Pedro e João, não em busca de cura, não em busca de uma pregação, mas em busca de esmola, de dinheiro. Mais tarde ao final do capítulo veremos que dinheiro era o que não faltava na igreja. Veremos também que a pregação, a chamada ao arrependimento não é direcionada àquele homem, mas aos aparentemente sãos. Ao aleijado é oferecida, nada mais nada menos, que a solução definitiva para seus problemas: a cura física.
Assim como Jesus de Nazaré, que antes de sua morte e ressurreição fora aprovado por Deus por meio de milagres, maravilhas e sinais; Pedro e João (por meio do nome de Jesus Cristo, o Nazareno) dão continuidade àquele serviço milagroso.
O nome de Jesus, que não dever ser confundido com uma palavra mágica, é a própria pessoa de Jesus vivendo, por meio de seu Espírito nos apóstolos, em sua santa igreja. É Ele presente em Nós.
Hoje não somos mais capazes de levantar os aleijados que mendigam nas portas de nossos templos. É verdade, muita obra de caridade é feita e os mendigos recebem suas esmolas e suas lições dos catecismos. Muitos são até mesmo erguidos socialmente. E muita tecnologia já foi desenvolvida para atenuar os problemas, aprimoramos as muletas, criamos as cadeiras de rodas e as aperfeiçoamos, facilitamos os acessos nas ruas e edifícios - e tudo isso é bom. A cura, todavia, ficou perdida em algum lugar do tempo, sem a qual muitos permanecem condenados a ficar presos ao chão, ao nível inferior.
O milagre que não deveria roubar a cena, foi há muito roubado dela. Por quê?
Um comentário:
No círculo religioso onde fui criado, há o incentivo de busca, ou até de veneração, por manifestações de poder divino.
É interessante o que tu falaste, de muitas vezes buscarmos o poder, sem nos importarmos com o Algo por trás.
Mas questiono, pois será que Amor e Poder devem ser motivo de conflito? Na sabedoria judaica, é reconhecido o caráter de contraponto destes dois atributos da Divindade, sem contudo serem desasociados, como vistos no esquema da Árvore da Vida.
Ao final da postagem, fiquei com um gostinho de querer mais. Hehe.
Abraços flaternos.
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