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domingo, 6 de março de 2011

Curta o carnaval

"Diante do carnaval" Carlos Drummond de Andrade aponta três opções, cair na folia, ir para um retiro (montes e praias), ou ficar sozinho: no centro do acontecimento sem participar dele.

Eu sei, já estou dez anos fora do Brasil e já esqueci como são as coisas por lá (aí)... Minhas memórias me remetem a uma época anterior à minha conversão. O carnaval das crianças que o padre organizava no salão paroquial. Que era uma maneira sábia de manter os pequeninos dentro do limite saudável da festa brasileira. Mas será que pensamos como o poeta? "Velhos carnavais afloram a tua memória. Por tê-los brincado, conquistaste o direito de eximir-te aos novos".

Eu sei, o ajuntamento festivo para comer, beber e dançar não combina com a "ética protestante" e nem com o espírito mais diligente capitalista. É uma coisa tropical, sul-americana, brasileira...

Afinal, quantas desgraças acontecem no carnaval: mortes nas estradas, meninas grávidas, abortos, brigas, assassinatos...

O país para. Quantos não vivem nessa alienação trocando 360 dias de amargura por cinco de ilusão e fantasia. Mas tragédias acontecem também em outros feriados e nem por isso deixamos de festejá-los.

Meu coração diz assim teimosamente àqueles que ainda podem: curtam!

Eu sei, o retiro vai ser uma bênção só, todos voltarão renovados, contando de experiências que despertarão em você a santa inveja de não ter ido. Aqueles que, como Drummond, encontram na arte de estar só o consolo de uma boa leitura ou do jardim, farão você se sentir como alguém que trocou as riquezas da subjetividade pelo valor efêmero da exterioridade.

Mas mesmo assim ouso dizer ouse!

Nem os mais liberais irão nos entender. Não importa, não estamos aqui para ser entendidos pelas pessoas. Saia de casa, veja o povo. Se misture com eles, se alegre com eles!

Se este meu apelo conseguiu encontrar eco no seu coração só te peço dois favores: não se deixe impressionar com a alegria artificial das ruas, isso poderá te deprimir e estragar a sua própria alegria.

Segundo, ao se alegrar na festa mais típica brasileira, siga o conselho apóstólico: use deste mundo, mas não abuse.

"Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo. Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade. Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento" (Ec 11:9-12:1).

Um comentário:

Janete Cardoso disse...

Hei Roger :)
A festa em si só me traz lembranças boas. Primeiro na infância, quando meu pai compunha samba enredo pra concorrer no carnaval e investia nisso quase todos os fins de semana do ano. Minha mãe confeccionava fantasias e eu brincava no meio de seus aviamentos. Tanto brilho me encantava!

Depois na adolescência, provei do sabor dos bailes de carnaval, com marchinhas, amigos e muita alegria :)

Enfim, tem gente que usa máscara no carnaval (de todos os tipos), mas tem gente que só tira a máscara no carnaval e extrapola. É injusto culpar a festa, penso eu.

beijo