A fé é o assentimento a dados que não são derivados da razão, mas da revelação. Portanto, seu conhecimento, ainda que possa ser altamente provável, nunca é seguro. Uma maneira de medir o grau de probabilidade dos dados da fé é através do uso da razão e do julgamento. Se o que é dito se opõe a qualquer julgamento e razão, deve ser tido por menos provável. É por isso que Locke se opõe ao que ele chama de "o entusiasmo fanático" daqueles que acreditam que tudo que eles dizem é baseado na revelação divina. E pela mesma razão defende a tolerância religiosa. A intolerância resulta da confusão entre juízos de probabilidade sobre questões de fé e a certeza da razão empírica.
Além disso, a tolerância religiosa é baseada na mesma natureza da sociedade. Em qualquer comunidade, não há autoridade legítima além da que seus membros nomearem e delegarem. Além disso, uma vez que a liberdade é uma parte essencial do ser humano, ninguém tem o direito de renunciar a ela, ou de estabelecer entidades que a neguem. As leis têm de expressar o sentimento dos membros da comunidade. Aquelas que assim não procedem são ilegítimas. A diferença entre um verdadeiro rei e um tirano é que o primeiro aceita os limites que a vontade do povo impôs ao seu poder, enquanto o segundo os rejeita.
Em caso de tirania, o povo pode recorrer à força para depor o tirano. E então o rebelde não é o povo, mas o déspota que se rebelara antes contra os limites do seu poder.
John Locke (1632-1704) visto por Justo L. Gonzales em “A Era dos Dogmas e das Dúvidas”
2 comentários:
roger, jonhn locke continua muito atual (o filósofo, não o personagem de lost...rsss aliás, que pena que acabou a série).
" Uma maneira de medir o grau de probabilidade dos dados da fé é através do uso da razão e do julgamento. Se o que é dito se opõe a qualquer julgamento e razão, deve ser tido por menos provável"
é, mas os nossos irmãos mais conservadores costumam dizer que a sabedoria do mundo é loucura e que a razão deve estar submetido à fé.
isso cria tantos problemas...
valeu, abraços
Às vezes, gostaria de que a obra de John Locke fosse mais familiar aos protestantes brazucas.
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