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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Nunca os conheci

Partindo dos atributos onipotência, onipresença e onisciência jamais chegaremos ao Deus revelado por Jesus. Ele esvaziou-se dessas coisas (se é que as possuía). Jesus, para nos revelar Deus, esvaziou-se daqueles três atributos, não deixando, porém nunca de ser pessoal e amoroso.

Para conhecermos quem é Deus precisamos sondar cuidadosamente a humanidade de Jesus.

Parece-me que Deus não é onisciente, nem tanto por limitação, mas por opção. "O dia de amanhã cuidará de si mesmo", aconselhou-nos o Carpinteiro de Nazaré.

Deus, então, para manter-se coerente e dá-nos o exemplo, deixa o futuro cuidar de si mesmo.

Antes que você tire Deus do tempo e do espaço, advogo minha posição ao trazê-lo, novamente, para estas dimensões tão rasas. Afinal foi Ele mesmo quem deu o primeiro passo nessa direção, deixando seu paço celestial e vindo nascer num estábulo.

Jesus foi, aliás, um homem inteligentíssimo que gostava muito de metáforas, eis uma delas:

"Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados".

Quer outra?

"Contudo, nenhum deles [pardais] cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês".

O que o Mestre dos Mestres está falando aqui é figurativo. Deus não mantém um banco de dados com o número de cabelos de nossas cabeças, nem está assinando formulários para autorizar morte de pardais. Ele está apenas dizendo que Deus está no comando, por isso não precisamos temer ao mal,  mas sim a Deus, nosso Pai. O mal está aí, e parece triunfar, mas Deus é maior do que o mal! Não há razão para temer. Para deixar isto bem claro Jesus precisava usar uma ilustração bem forte.

A suposta onisciência de Deus, que não passa de uma subdivisão de sua suposta onipotência, deve ser relativizada se quisermos vislumbrar um Deus mais pessoal e mais real.

Gosto quando o salmista diz “tu me sondaste e me conheces…”, ou “sonda-me e conheces o meu coração, prova-me e conheces os meus pensamentos”. É também notório quando Deus diz a Abraão, “agora sei que não me negarias o teu próprio filho”.

Deus está se esmerando na atividade de conhecer-nos, talvez a mais ousada ação nesse sentido foi ter tornado-se homem.

Mesmo assim ele não conseguirá conhecer todos, especialmente aqueles que estão ocupados em profetizar, em realizar milagres e em expulsar demônios no nome dele. A esses ele terá que revelar também sua desconcertante não onisciência:

“Nunca os conheci.”

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá Roger :)

Achei um pouco confuso você dizer que Deus está no comando, sem Seus atributos tão discutidos.

Para mim, Jesus é Deus numa tradução acessível à nós. Ele veio ensinar um modo de vida e não revelar atributos divinos. Veio trazendo a metáfora do Pai e Filho, simplesmente para mostrar o que significa Amor.

Mas ao mesmo tempo que vejo Deus esvaziado, vejo Deus atemporal fazendo isso fora do tempo, porque tem domínio sobre o tempo.

Fico aqui com minhas doideiras, imaginando o tempo nas mãos de Deus como uma bola, sem início e fim. E antes da fundação do mundo, esta "bola" estava marcada com a imolação do Cordeiro, dentro da Vontade de Deus, assim como se Deus tivesse feito um marco com uma caneta em certo ponto da bola. Antes que houvesse homem e pecado, já havia o Amor, já havia a redenção.

Isso dentro da história nos confunde, porque tendemos à humanizar Deus. Achamos que para ser carne, precisou sair do "céu", mas a mesma Bíblia diz que o Pai estava no céu, aliás diz em outro lugar sobre os sete Espíritos de Deus. Portanto, ficamos loucos se tentamos definí-lo humanamente.

Imagino a encarnação como uma fração de milhonésimo de segundos dentro da eternidade, se é que nossa mente consegue saber o que é eternidade.

Assim, simultaneamente Deus é Pai e é Filho. Veio nos mostrar como proceder, sendo como o Filho (homem encarnado e limitado). Confiando no Pai, que está e sempre esteve no controle. Assim como o Filho, limitados no tempo, não devemos nos preocupar com o mal de amanhã, mas aprender abrir mão da própria vontade para apenas cumprir o propósito de cada vida, como Jesus decidiu no Getsemani.

Vejo a Bíblia do início ao fim, nos ensinando a nos livrar do ego, porque Jesus só reconhecerá os que tem sua essência. Quando dirá "nunca vos conheci", estará dizendo "não vejo amor em você, vejo apenas você e seu egoísmo".

beijo

Anônimo disse...

Ah, não estou conseguindo fazer login, por isso postei anônimo.
Outro beijo (suas filhas são lindíssimas!)

Janete

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Janete,

obrigado por sua rica contribuição em minha despretenciosa meditação.

Bom saber que não estou sozinho nessa tarefa difícil de conhecer e prosseguir em conhecê-Lo e amá-lo de todo coração, alma, forças e entendimento.

beijão,

Roger

O Tempo Passa disse...

O despojamento de Jesus não seria tão notável sendo ele apenas humano. Outros o fizeram.
Mas, se Deus é onipotente, então seu despojamento foi absolutamente impressionante porque significou abrir mão de tudo, isto é, ser tudo e tornar-se nada, por amor!!! Uau!!!