Páginas

terça-feira, 28 de julho de 2015

A depravação total do homem europeu alemão ou grego (Parte 1)

Não é de se estranhar que @LeonardoBoff e @jungmosung, sendo ambos teólogos católicos com forte colorido marxista, acompanhem com certo pânico e total indignação o desenrolar da política econômica da zona do euro nos últimos dias. Para o ítalo brasileiro e para o coreano brasileiro a trama europeia possui uma clara vítima, o grego, e um claro vilão: o alemão.

O alemão e sociólogo Max Weber, que não encontra ressonância em escolas materialistas e por isso não é tido como referencial pelos catedráticos supra-citados, teria em seu famoso livro, “A ética protestante e o espírito capitalista” decifrado a xarada em três ou quatro linhas. As nações industrializadas europeias funcionam dentro de um estilo de vida, onde o trabalho, a acumulação de riquezas e o avanço tecnológico são molas intrínsecas ao sistema capitalista vigente. Para Weber, o padrão econômico das nações ricas européias é muito mais que consequência da exploração da mão de obra ou de nações pobres, mas simples fruto de uma cultura baseada em valores religiosos que reforçam em muito os aspectos profissionais da vida. Num jargão famoso, “enquanto os alemães vivem para trabalhar, os italianos trabalham par viver”.

Trabalhar para viver seria também a lógica dos gregos, se eles com o fruto de seu trabalho estivessem na condição de pagar suas contas. Mas suas contas foram adulteradas. Não foram pagas. Eles viveram bem. Comeram e beberam. Se aposentaram cedo e no final precisaram pegar mais dinheiro emprestado. Os gregos também, com dinheiro público, sustentavam sua igreja, cristã ortodoxa.

Se a igreja ortodoxa grega foi objeto de estudo de Max Weber, não sei. Mas parece-me que eles ao contrário dos protestantes, e até mesmo dos católicos, reforçavam o aspecto pedagógico da obra salvadora de Cristo em detrimento da redenção vicária através da cruz. Nós abraçamos nossa imperfeição sabendo que ela deve nos acompanhar até o calvário, para ali ser desfeita. Os ortodoxos através dos ensinos e exemplos de Jesus procuram de desembaraçar de suas imperfeições no dia a dia.

Ou como explicou Paulo Brabo:

No pen­sa­mento ortodoxo a salvação instila uma mudança real na natureza humana; não se trata — como nor­mal­mente cremos aqui no Ocidente — de uma mudança relativa e tem­po­rá­ria, a ser melhor implan­tada em momento oportuno. Para nós, o homem é salvo da con­de­na­ção; para os cristãos ortodoxos, é salvo da medi­o­cri­dade. Para nós o homem é salvo para viver com Deus um dia; para os ortodoxos, é salvo para viver como Deus hoje.

Weber nos apontaria que os gregos, dentro de sua ética religiosa, não poderiam ter trilhado o caminho da predestinação para se sentirem eleitos e enfrentarem em paz o juízo final, pois a salvação não era para aquele dia, mas para hoje. Assim também, Weber nos mostraria que os gregos por consequência não precisavam demonstrar através de sua prosperidade a graça alcançada imerecidamente. Assim os gregos poderiam se concentrar (aliás como sempre fizeram) em aspectos humanísticos e filosóficos, artísticos e esportivos, na ética e na estética do viver e não em coisas práticas do mundo econômico.

Vemos pois que estamos falando de dois paradigmas de duas visões distintas de mundo.

A questão que fica então, é se existe uma imposição de uma visão sobre a outra. Ou não será que um povo se viu seduzido pelos bônus de uma e quis voluntariamente abraçá-la sem ter que arcar com seus intrínsecos ônus? Quis viver o ócio de uma sem ter que viver com integridade o seu negócio?

Mas talvez essa ainda não seja a verdadeira questão.

(Coninua…)

2 comentários:

Anônimo disse...

"Para o ítalo brasileiro..." (Roger)
Se Boff for 'ítalo-brasileiro', o vizinho meu aqui ao lado, é negro com cara de chinês, e deve ser judeu ariano! Agora eu entendo porque você não achou a urna para votar por aí.

Unknown disse...

Olá, estou desenvolvendo um blog sobre teologia aplicada com ciência, gostaria de saber a sua opinião, pois respeito seu blog e sou uma grande seguidora de suas ideias, http://pnyua.blogspot.com o endereço, desde já agradeço.