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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O erro de Bráulia Ribeiro

‏@brauliaribeiro e @edrenekivitz são dois colunistas da Revista Ultimato. O segundo escreveu uma linda reflexão chamada “A voz de Cristo” que foi contestada pela primeira em seu post, “O erro de Ed René”.

Mas antes de adentrarmos essa polêmica temos que, irremediavelmente, passar por Francis Schaeffer para melhor entendermos esses dois hemisférios da fé evangélica

Fui apresentado a Schaeffer em 2007 por Lucas Mendes. Ele me explicou que Schaeffer era o pai da direita americana. Coisa que, por sua vez, aprendera com Frank Schaeffer, o filho, no seu livro Crazy for God : How I Grew Up as One of the Elect, Helped Found the Religious Right and Lived to Take All (or Almost All ) of It Back (Louco por Deus: Como eu cresci como um dos eleitos, ajudei a fundar a direita religiosa e vivi para retirar tudo (ou quase tudo) que disse).

Na visão de mundo de Schaeffer o cosmo se compõe de Graça e Natureza, que são indivisíveis… Uma vez porém dividido, erro que São Tomaz de Aquino tratou de cometer, ele deveria ser entendido sob a perspectiva bíblica que o uniria novmente, por meio de sua epistemologia. Mas se alguém esquecer a Bíblia e procurar outras razões para as coisas da Natureza, ou da Graça, correrá o sério risco de tornar-se livre, ou autônomo no que diz respeito a Deus, e por fim, terá uma fé irracional.

Para Schaeffer e os fundamentalistas evangélicos, a Bíblia é inerrante, é ela quem dá as cartas, ela define o jogo, ela estabelece as regras. Ela dá sentido aos termos. É como se para F.S. a Bíblia fosse um ser autônomo com vida própria, que falasse por si mesmo. Quem tem a Bíblia está apto a vencer qualquer debate no plano racional. (Ele se esquece que a Bíblia precisa de alguém que a interprete!)

Voltemos agora primeiramente a Ed. René. De cara, ele faz uma citação do vigário católico Michel Quoist:

Então nunca se esqueça que o cristianismo não se demonstra por meio de raciocínios ou de idéias, pois antes de ser uma doutrina, o cristianismo é uma pessoa. A verdade é Cristo. E não se discute Cristo, acolhe-se Cristo. ‘Discutir religião’ é, antes de tudo, dar testemunho e ajudar o outro a encontrar Cristo.

No decorrer de sua reflexão, Ed irá fazer uma desconstrução da estratégia de apologistas cristãos, e qualquer outros extremistas fanáticos, que, a exemplo de Schaeffer, acreditam que se pode ganhar no grito em se tratando de discussões relacionadas à fé. Note que ele intitula seu texto como a voz de Cristo, contrapondo-o ao a palavra de Deus – que é sinônimo de Bíblia para os fundamentalistas.

Estou convicto que Ed e Cia estamos indo na linha oposta à de Francis Schaeffer pois, mesmo não sendo fundamentalistas cremos que Bíblia está certa quando diz: “o saber ensoberbece, mas o amor edifica” e “não se estribe em seu próprio entendimento”. Ou de forma prática como Ed apontou, “o diálogo e a tolerância são possíveis apenas àqueles que aceitam o fato de que vivem num mundo em que os valores e crenças religiosos não podem ser mais impostos ou tomados como verdades absolutas universais”.

Já Bráulia, recém filiada à direita evangélica brasileira, e Cia rezam conforme a cartilha de Francis Schaeffer, ou seja: razão, razão, razão (presumidamente bíblica).

Em sua introdução ela tenta separar o inseparável: a ideia da pessoa. Mas ela só consegue expor sua pessoa e a pessoa do Ed, de forma até leal e bacana, mesmo tendo o cuidado de explicar que não é pelo simples prazer de liquidá-lo, que irá comprar aquela briga.

Mas como sempre digo, é impossível dar um soco em uma crença sem fazer sangrar os lábios de quem a profere ou os olhos de quem a admira.

Então Bráulia se movimenta no paradigma centrado na racionalidade do “ataque e defesa do Cristianismo” da ameaça do “secularismo esquerdista que bebe das fontes amargas que pintam o Cristianismo com cores diabólicas e ignora os fatos mais óbvios”, e do “iluminismo”.

Ela transita no mundo da modernidade apoiado em sua racionalidade, nas instituições inquestionáveis absolutas, no mundo do preto e do branco.

Ele transita na pós-modernidade, no mundo repleto de áreas acinzentadas, de verdades relativas que não se deixam perceber plenamente, somente pela razão, onde as instituições são questionáveis e os indivíduos em sua existencialidade podem ousar dar saltos de fé.

Finalizando, devo dar razão ao Ed. em querer fazer contraponto a uma apologética chata e bitolada, que se vê na obrigação de defender a “sã doutrina” e mais subtrai do que adiciona no Reino de Deus.

Temo que o erro de Bráulia tenha sido querer fazer parte desse grupo.

4 comentários:

Tuco disse...

Tinha lido a Bráulia. Aí fui ver o que o Ed havia dito, mas o texto só está disponível pra assinantes. Sacanagem.

Acho que é só uma jogada publicitária pra fazer a gente assinar a revista. Bráulia e Ed devem estar tomando uma cerveja agora, junto com o Augusto Nicodemus e o Ricardo Gondim. :P

Anônimo disse...

Oi Tuco,
o texto está disponível no Facebook na página do Ed.
Abraços!

O Tempo Passa disse...

Putz! Nos bons tempos de comentários na Bacia, havia a Norma, uma fundamentalista séria e ferina com quem tentei dialogar um tempo, mas desisti. Não li os artigos, mas me pareceu a Braulia... tomara que eu esteja errado!

Anônimo disse...

"Mas antes de adentrarmos essa polêmica temos que, irremediavelmente, passar por Francis Schaeffer para melhor entendermos esses dois hemisférios da fé evangélica." (Brandão).

Se no lugar de Francis ele fosse de Agostinho, faria alguma diferença? Citar coisas antigas não é a mesma coisa. Francis entrou e sumiu da história evangélica e é ainda encontrado em alguma biblioteca pública em algum condado de West Virginia, talvez entre alguns membros evangélicos fossilizados. Agostinho é mais antigo ainda, mas tem a sua atualidade. Quem vai de Francis, aplica maromba, que apela a Agostinho finca raízes em fundamentos.

A propósito, Francis está para Bráulia como capim elefante para roedor de campo. Isto é, nada a ver. É como dizia Roberto Campos, conservadorismo sem rumo é como mamilo em homem: não tem utilidade alguma e ainda nem ornamental é.