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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Terroristas: vítimas ou réus

Sou vingativo, confesso. Se não chego a concretizar meus rancores, pelo menos, tenho essa forte tendência em mim. Não vejo dificuldades em aceitar a ideia popular que afirma ser a vingança doce. Perdoem-me a franqueza… Não era de se esperar isso de um cristão, eu sei. O Mestre me ensina a revidar o mal com o bem. Na Bíblia também leio que a vingança pertence a Deus.

No velho testamento, de certa forma, a lei do “olho por olho, dente por dente” era o esperado. Mas com a vinda de Jesus e sua maravilhosa graça, a lei perde seu status para a misericórdia. A cruz de Cristo e sua “não violência” nos ensina um caminho mais nobre. No fundo e na prática sabemos que só por esse caminho vencemos os dramas de uma sociedade sanguinária.

Mas falamos de terroristas, sobre o terror islamista. Especialmente o terror macabro do chamado estado islâmico. Pessoas que não são discípulas de Cristo.

Todos sabemos que o estado islâmico ganhou um impulso criador enorme quando “nós cristãos” fizemos uma guerra contra o Iraque, com o pretexto falso de que ali haveria armas de extermínio de massas e mentores do atentado de 11 de setembro. Novo impulso ganharam os radicais quando a primavera árabe rompeu naquele mundo, derrubando outros ditadores, em nome da democracia e desestabilizando aquela sociedade. A primavera virou rapidamente inverno quando a revolução chegou na Síria, aliada russa. Temos aqui um brevíssimo resumo do desastre político da estratégia militarista, imperialista da polícia do mundo, USA.

Pelo lado econômico, infelizmente, não há também muitas glórias. A indústria bélica do ocidente alimenta gananciosamente os conflitos regionais, sob a lei, se eles querem se matar problemas deles, as armas nós fornecemos, desde que nos paguem. O petróleo, principal fonte de renda é cobiçado e lubrifica as engrenagens de qualquer sistema que se imponha ali.

Só quero dizer com isso que, aparentemente, aqueles povos teriam razões de sobra por clamarem por vingança. No meu entender.

Apesar das muitas ações humanitárias e esforços pacificadores pouco se avança no mundo árabe. (Se não tivéssemos tão altos índices de criminalidade e assassinatos em uma América Latina cristã, e se não tivéssemos tido no século passado duas guerras mundiais como palco principal em solo de uma Europa cristã, diria que esse problema seria típico dos mulçumanos… Mas violência não é patente do islã).

Então num primeiro momento eles estariam sentados no banco de vítimas. Os povos. O povo. Não é acaso que muitos, nesse momento, se refugiam. Jovens que não querem lutar do lado do governo, não querem lutar ao lado dos rebeldes, e não querem lutar ao lado dos radicais islâmicos. São vítimas de no mínimo três forças bélicas que se enfrentam na região. Cada uma dessas forças possuem um colorido diferenciado de visão política, visão econômica e religiosa.

Aqueles que vitimados fogem, não são evidentemente acusados de atos terroristas na Europa.

Quando um descendente de mulçumano que vive, não raramente, marginalizado na Europa se torna um terrorista é uma questão difícil de explicar. Sem dúvida porém, é uma atitude que surge e é alimentada por pregações de radicais religiosos que aqui vivem. Uma pregação que querem despertar povos vitimados a assumirem o papel vingativo. Uma vingança em nome de Deus, e galardoada pelos céus!

Nesse ponto a provável vítima começa a se tornar em réu, em assassino.

Sem dúvida é um tema mais complexo que essas humildes linhas poderiam embarcar. Creio que o entendimento dele passa por duas dimensões, a do indivíduo e a da sociedade. E a solução do problema também segue duas linhas, a individual e a social.

Como indivíduo (vingativo que sou) não irei pegar em armas para me “defender”, defender os que amo, ou garantir a justiça em nosso país. Para isso temos exército e polícia. E é nesse plano que a guerra contra o terror deve ser tocada. E creio que ela é legítima, desde que atente para as verdadeiras razões e causas do terror, e saiba como atacá-las.

Mas no campo individual resta, não outra alternativa, a não ser a de amar o inimigo. Signifique isso o que significar. É o caminho apontado por Jesus de Nazaré.

Um comentário:

O Tempo Passa disse...

Terroristas: Vítimas E Réus...