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quarta-feira, 25 de maio de 2016

O choro do abacateiro

Tem certas coisas que me emocionam. Uma vitamina de abacate, por exemplo.

Explico:

O abacate, o abacateiro, como se sabe, é uma árvore que não temos aqui na Alemanha. Mas tínhamos uma lá no quintal de casa. Na casa dos meus pais, em Belo Horizonte.

Naquele abacateiro papai improvisou uma gangorra. Nela eu e meus irmãos brincávamos de Tarzan e tantas outras coisas mais. Ali à sombra do abacateiro.

Parece que foi ontem que um menino negro batia a campainha lá de casa: “ô seu Augusto posso entrar prá pegar meu papagaio que caiu aí na árvore?” E enquanto meu pai pensava se dizia sim ou não, foi o tempo do menino subir no pé e despencar lá de cima e quebrar o pescoço. Talvez tenha sido essa uma das razões que levou o velho a um dia cortar a árvore.

Mas nossa vizinha do lado também tinha um pé de abacate. E eu adorava roubar os que pendiam para o nosso lote. Com aqueles abacates eu fazia no liquidificador vitaminas. Todo mundo lá de casa se deliciava com minhas “batidas” de abacate, como as chamávamos.

Mas os vizinhos daqui não têm abacateiros…

Tínhamos um sítio, onde também tinha um abacateiro. E quando ele florescia era um espetáculo, pois as abelhas juntavam na copa florida da árvore. Naquele sítio vivemos muitos inesquecíveis bons momentos.

Mas aqui não há abacateiros floridos.

Às vezes vou ao supermercado e compro um abacate importado (da África ou América do Sul). Claro que ele não se compara àqueles que eu roubava. Mas faço uma vitamina dele. Enquanto a bebo sinto meus olhos se umedecerem e começo a ver minha Belo Horizonte, meu bairro, vejo o Brasil. Vejo minha infância, minha família, meus amigos, tudo isso que já não vejo mais.

Então me vejo chorando, por causa de uma simples miserável batida de abacate.

Um comentário:

Denise disse...

E eu nao consigo tomar uma batida de abacate sem pensar em voce!! Obrigada por todos os abacates, roubados ou nao, e por todas as batidas de abacate!!