Páginas

sábado, 18 de outubro de 2008

Pelado, peladinho, peladão isso sim ou isso não?

E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? (Gn 3:11)

MW20070818_01.jpg O Beto nos chamou a atenção essa semana para algo que aconteceu no Brasil esses dias: o discurso polêmico de Pedro Cardoso sobre a pornografia na TV brasileira.

Alguém comentou que o discurso de Pedro Cardoso foi exagerado, justamente para contrastar com o exagero que está por aí. Concordo.

Minha ilusão é que isso seja o início de uma nova era. Um discurso como esse que visa primordialmente conter a obrigatoriedade do nu, não intentou de forma alguma proibi-lo. E nisso há uma grande diferença.

O falso puritanismo

Esses dias, em que estou envolvido em decifrar alguns dos escritos de Francis Schaeffer, tido como um dos pais da direita evangélica americana me vem à mente esse exagero do pudor evangélico americano, com suas vertentes brasileiras. (Engraçado que normalmente nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, os católicos é que são vistos como pessoas que levam uma vida sexual mais regrada).

Todos nós sabemos graças à moderna psicanálise que a repressão de certos impulsos sexuais acabará causando efeitos colaterais indesejáveis. Dos piores deles é a própria vazão desses impulsos na hora errada, da forma errada e com a pessoa errada.

Como em um ambiente puritano sexo é tabu, tais situações são negadas, camufladas e tudo é varrido para debaixo do tapete. Esse é o problema.

O homem nu

Como na história do cronista mineiro, Fernando Sabino, por um simples descuido todo mundo, um dia, se vê nu, trancado fora de casa. Não há como fugir, como esconder. Deus nos vê como somos. E muitas pessoas enxergam aquilo que tentamos tampar.

Já ouvi um causo de uma família que no dia do batismo trocava de roupas atrás de um biombo, lá na frente da congregação, quando por descuido alguém esbarrou na armação, que caiu, e todo mundo viu o que não era pra ser visto. Após aquele abençoado culto, o casal teve que achar nas redondezas outra igreja para participar.

postei certa vez de como aqui na Alemanha a nudez é até certo ponto considerada algo normal pela sociedade. Uma amiga minha, casada com alemão, tinha que explicar pra ele que em Copacabana não se pode tirar a sunga na frente de todo mundo para vestir a calça. Aqui isso é normal.

O problema é que nossa cultura é nesse aspecto carregado de muita malícia. Nossos “melhores” palavrões, para xingarmos políticos safados, o martelo que acertou em cheio nosso dedo ou motoristas barbeiros, são os apelidos populares de nossos órgãos sexuais ou atividades sexuais lícitas ou ilícitas. Não sou de praguejar. Até acho bem pior quando ouço um alemão usando a palavra, crucifixo, para amaldiçoar algo. Mas por que damos uma conotação tão negativa ao nosso corpo e ao sexo?

No fundo acho que esses ativistas (que devem ser discípulos de Isaias - Is 20:3) prestam um serviço à sociedade ao usar a nudez como arma de protesto. É como se a essência de todo protesto fosse: olhe, somos contra esses abusos (ecológicos, bélicos, econômicos) e tiramos a roupa para mostrar que a humanidade (diante desses abusos) continua a mesma ao ser expulsa do Éden. Todos nós carecemos de ser vestidos de forma verdadeira e não colar máscaras e tamparmos nossa vergonha de forma hipócrita.

A liberdade

Mas uma coisa é castigar toda nudez e outra bem diferente é denunciar todo o abuso da nudez. E nisso Pedro Cardoso está certo. Muito do que acontece no cinema e TV é constrangedor para o público e para o artista (que como ele aponta, não pode dizer não). Ambos não têm opção de dizer não, sem que com isso seja penalizado. E tudo se torna mais imoral quando os interesses por trás não são nada artísticos, mas simplesmente atrair público, propagar certo produto, enfim, econômicos.

Voltamos então à questão de conservadorismo e liberalismo. Será que alguém deseja um retorno da censura? Como as liberdades individuais e coletivas poderiam achar um ponto de equilíbrio nessa área?

Queremos decência, mas não queremos repressão nem hipocrisia. Queremos arte e transparência, mas não queremos pornografia e banalização da sexualidade. Talvez o discurso de Pedro Cardoso pode está nos ajudando a caminhar nessa direção.

2 comentários:

Alice disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alice disse...

Só sei de uma coisa: temos muito a crescer, aprender e distorcer sobre esse tema...hhmmm


uma ótima semana pra vc !!