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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Carregar saudades sem tamanho

image E a história que Madrinha mais gostava de me contar, é que ela me dava angu para comer pelo buraco da cerca, no quintal.

E quando eu vim para BH estudar, as palavras dela forma: "Olha aqui, minha filha, você pode estudar, ficar importante o quanto quiser, mas não fique "mitida" (mitida no dicionário serrense da época era orgulhosa, julgando-se melhor do que os outros) porque eu vou contar pra todo mundo que você de pequininha passava fome porque sua mãe pensava que tudo ia lhe fazer mal e eu lhe dava angu pelo buraco da cerca e você comia com satisfação!" (...)

Agora, eu entendo,quando fui ficar uns dias com D. Maria quando Zé Cária morreu e eu a encontrei tranqüila e serena; entendo também a serenidade de Guerrinha quando nos encontramos numa passeata de greve e ela me perguntou se eu sabia que ela havia perdido Mazzarello. Dalva quando pardeu os três filhos e uma netinha em acidente. E tantas outras pessoas amigas que perderam entes queridos e eu ficava me perguntando como podiam suportar com serenidade. Agora entendo; a serenidade é só por fora; uma espécie de "abobamento" . Por dentro, é dor só. Dor, dor e mais dor. O sentimento é de que arancaram um pedaço de mim que eu não sei qual, nem onde está. E junto com a saudade de Carminha, vem uma saudade danada de papai, mamãe, Doinha, Tarcísio, Tia Lili, Madrinha Tereza, Padrinho Nutinho, meus avós, todas as pessoas queridas que já se foram. Agora é que parece que eu tomei consciência da partida de todos eles, realmente. Agora também é que realmente eu tenho certeza que sou mortal. Antes eu tinha absoluta trnqüilidade que Carminha e eu viveríamos mais de 90 anos como mamãe e várias de nossas antepassadas. Certa vez, ela chegou a me dizer: "Eu nunca vou dar conta de morar junto com você. Mas eu tenho duas amigas que compraram apartamentos no mesmo prédio,um em frente ao outro e eu achei uma idéia ótima!" Pude perceber o que ela pensava para nosso futuro. Também eu tinha absoluta certeza que chegaria, pelo menos aos 80. Agora é que tomei consciência, apesar de ter convivido tanto com Doinha que repetia sempre que nunca sabia se estaria viva no dia seguinte, que posso partir a qualquer instante, que não tenho garantia nenhuma nem para amanhã, nem para esta noite...

O que me ocorre é que quando eu me encontrar no Céu com Madrinha Chiquinha poderei dizer a ela que segui seu conselho e não fiquei “mitida”. Posso afirmar isso com certeza, e dando como testemunho as inúmeras amizades que continuei conquistando no decorrer da vida. Amizades de todo o tipo: pessoas ricas, pobres, crianças, idosas, homens, mulheres e de todas as cores. E continuo carregando comigo saudades sem tamanho dos amigos...

Extraído do livro "Lembranças" - Rosarinha Brandão

Foto: Mamãe e Elisa em BH, sendo homenageada pela APPMG como Educadora Destaque

5 comentários:

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Oi Roger, belo texto. Há tanta gente que fica "mitida", por pouca coisa. Conheci pessoas que tinham muito para ser "mitido", e no entanto eram pessoas tao simples, mas tao simples, que ficava de queixo caído.

Eita, que eu e o meu amdo estamos lindos por aqui, rs.

Bom dia para vocês!!!

Agora que a blogagem passou terei um pouquinho mais de tempo...

Abracos

MamaNunes disse...

Então Roger..
Não querendo ser "mitida" (rs), tenho sim as manhas para colocar o tradutor caso vc mesmo não consiga pelo tutorial do Dicas da Mama.
Preciso de seu código e senha.
mamanunes@gmail.com
Beijos e boa semana a vocês!

Alice disse...

Roger querido.... vc sempre nos encantando com suas palavras...


abraços carinhosos pra vc

Alex Esteves da Rocha Sousa disse...

O texto é carregado de sentimento e sentido. Não posso ler muito essas coisas, a gente fica pensando calado... Estou por aqui, embora não tenha escrito tanto em meu blog ou neste teologia-livre. Mas, se posso guardar em meu coração algo precioso dessa nossa virtual e recente convivência, é a certeza de que o amigo Roger é uma pessoa muito sensível. Pelo menos é o que me parece ao ler suas palavras e citações. Algo como "entranháveis afetos". Um abraço.

bete p.silva disse...

Nó céu não há lugar pra "mitidez". Belíssimo texto.