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sábado, 28 de março de 2009

O MAIS IMPORTANTE É A IGREJA

Dom Robinson Cavalcanti (Revista Ultimato)

A Igreja é o que de mais importante existe no mundo. Criada pela vontade de Cristo, ela é a agência da salvação, ensaio e vanguarda da nova humanidade. Deus havia chamado Israel (obediente “versus” desobediente), e no passado nos falou pelos profetas, guardiões da lei. A função e o “status” de Israel -- a antiga aliança -- cessaram quando o véu do templo se rasgou. Hoje o judaísmo e o islamismo são apenas religiões semíticas monoteístas. A Igreja é o novo Israel, a nova aliança, e, como nos ensina Pedro, herdeira dos títulos e atributos do primeiro Israel: geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de Deus. Entre o antigo e o atual Estado secular de Israel (formado por 90% de ateus e agnósticos) só há em comum a geografia e as mirabolantes teorias de alguns protestantes. Os judeus (e todos os povos) devem ser enxertados no novo povo, porque não há salvação em nenhum outro nome senão o de Jesus.

A crise da Igreja é resultado da sua baixa autoestima, da falta de autocompreensão e conhecimento não somente sobre sua missão, mas também sobre sua natureza e organização -- uma crise de identidade em razão de uma ruptura com sua história, suas raízes. Como povo-instituição de Deus, a Igreja é mais importante do que a família biológica ou adotiva, do que o mundo do trabalho e do lazer, do que o Estado ou qualquer expressão da sociedade civil. Ela é portadora única do sentido para as demais coisas -- o evangelho e o poder do Espírito Santo -- e é nela onde se convive não somente para o tempo, mas para a eternidade. A Igreja não é apenas suas expressões localizadas: as comunidades locais, as tabas religiosas com seus caciques ou as casas de shows para expressão das fogueiras da vaidade. A igreja vive hoje em pecado porque desobedece aos dois princípios basilares a ela destinados pelo seu fundador e Senhor: a unidade e a verdade. O cisma (divisão do corpo) deixou de ser considerado um grave pecado pelo desordenado denominacionalismo; a heresia deixou de ser considerado um grave pecado pela crescente e ilimitada “diversidade” e “inclusividade”. Os cismas são heresias, e as heresias são cismas. Essa tragédia se transformou em rotina ante a indiferença de todos.

“Denominação” é uma palavra que não se encontra nas Sagradas Escrituras nem na obra de nenhum autor relevante da história do pensamento cristão antes do século 18. Não é um termo teológico, eclesiológico, mas apenas sociológico, administrativo, jurídico, humano, corrente nos últimos duzentos anos a partir da realidade da “livre empresa” e do “‘self-service’ religioso” norte-americano. Quando a Igreja una, santa, católica, apostólica e reformada dá lugar a uma miríade de “denominações” ou “ministérios”, o evangelho é parcializado, a missão é mutilada e vivemos na carne, por mais piedoso e espiritualizado que seja o nosso discurso. Afirmar que “Deus me mandou criar um novo ministério” é uma blasfêmia.

A Reforma Protestante foi um dos capítulos mais importantes da história da Igreja, mas o seu desdobramento em correntes extremadas fez com que o bebê fosse jogado fora junto com a água do banho. Ela preocupou-se com a autoridade (das Escrituras) e com a salvação (pela graça mediante a fé em Jesus) e se descuidou da eclesiologia, do estudo da própria Igreja. A instituição que deveria garantir a preservação dessas verdades logo foi atropelada pelo racionalismo liberal ou pelo literalismo fundamentalista. O livre exame, de livre acesso e investigação, deu lugar à livre conclusão. Ao contrário da criação, a Igreja se tornou sem forma e vazia. A releitura das Escrituras pela burguesia europeia, 1600 anos depois, fez os congregacionais tomarem o embrião e os presbiterianos tomarem o feto como se já fosse o ser nascido (institucionalizado) -- fato que a história atesta ter acontecido (muito cedo) somente com a consolidação do episcopado. Por sua vez, a pretensão da Igreja de Roma (e de alguns ramos da ortodoxia oriental) de ser “a” Igreja, em uma visão monocêntrica da história, não faz justiça à verdade policêntrica das sés e dos patriarcados deixados pelos apóstolos em diversas regiões. Foi no Oriente que viveu a maioria dos Pais da Igreja e onde aconteceram todos os Concílios da Igreja indivisa (responsáveis pelo consenso dos fiéis); ainda assim, 1.200 anos de história da Igreja no Oriente (períodos bizantino, pré-calcedônio, pré-efesiano ou uniata) representam apenas algumas notas de rodapé ou algumas linhas nas obras dos historiadores católicos romanos ou protestantes (“anabatistizados”). Ficamos vulneráveis com essa lacuna, em uma época de desprezo pelo passado e de arrogância individualista e imediatista. A universalidade da Igreja, com a multiforme manifestação da graça de Deus em todo o mundo, é mutilada pela hipervalorização (quase exclusiva) do que nos vem do império do momento. Como foi mesmo a definição do cânon bíblico, das doutrinas dos credos, dos sacramentos e do governo episcopal?

3 comentários:

zwinglio rodrigues disse...

Paz!

"Igreja una, santa, católica, apostólica e reformada."

=

UMA NOVA DENOMINAÇÃO.

Veja como ela lembra uma outra:

// IUSCAR <--> ICAR //

Se preferir ela pode nos levar a

//IURD?//

Que tiro no pé!!!

Não gosto das coisas que escreve esse tal DOM

[designação que não é nem um pouco bíblica assim como não são as denominações, mas que é admitida desavergonhadamente, sem nenhuma crítica pessoal... sem nenhum despojamento... coisa da carne... pretensão[faço uso de algumas palavras dele]]

Qual mesmo o valor de DOM?

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Em parte, parte. Nós evangélicos daremos um passo enorme quando adimitirmos que em parte somos só parte da igreja.
Ótima reflexão, caminha nesta direção.

zwinglio rodrigues disse...

"Quando a Igreja una, santa, católica, apostólica e reformada dá lugar a uma miríade de “denominações” ou “ministérios”, o evangelho é parcializado, a missão é mutilada e vivemos na carne, por mais piedoso e espiritualizado que seja o nosso discurso. Afirmar que “DEUS ME MANDOU CRIAR UM NOVO MINISTÉRIO ” é uma blasfêmia."
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O senhor DOM não fala apenas sobre reconhecimentos do ser parte e não do ser o todo...

Essa é a leitura que faço também... subjazem outras coisas nas palavras desse senhor...

Eu conheço muito bem as críticas dele aos NEOS-PENTECOSTAIS... aliás, aos que ele maldosamente chama de PSEUDO-PENTECOSTAIS...

Em um artigo desse senhor, ele afirma que chamar Macedo de protestante faz os ossos de Lutero tremer...

Bom, eu não estou de acordo com o Macedo... seus erros são grosseiros e gritantes... principalmente os morais [relacionados ao dinheiro]...

Mas o que dizer de Lutero? Sei... um anti-semita; quando Zwinglio, o original, morreu, ele disse que tinha morrido um cão, um ladrão [extremamente cristão, piedoso, esse Lutero]... Franz Lau disse que Lutero foi extremamente injusto com Zwinglio... ele era exercitado na teologia tão celebrada pelo DOM, mas extremamente vacilante quanto a piedade... matou... era um taberneiro de primeira linha...

Bom, pela lógica do senhor DOM, meus ossos irão se mexer no túmulo se um dia disserem de mim que eu era luterano...

Calvino mandou matar Miguel Servet... só porque esse não concordava com a teologia dele...

Reconhecer o que é parte e não todo para esse senhor, descansa naquilo que ele considera ser parte... portanto, a entrevista dele não é digna de aceitação final e pelna, isso para mim, é claro, porque ela é segragcionista... e, pior, ela se estabelece na péssima prática do "dois pesos e duas medidas"...

Macedo [NEO-PENTECOSTAIS] são indivíduos abjetos, não são evangélicos/protestantes por causa de suas distorções... mas Lutero [REFORMADOS, PENTECOSTAIS] são, apesar de suas muitas e extremas mazelas...

Eu não perdi o foco do que ele quis dizer... apenas o "ridicularizei"... porque ele é tendencioso e já estabeleceu quem são os certos e quem são errados...

Pra mim, os dircursos dele, às vezes, tem cara de santidade, mas essência dibólica...

Coisa de filhos do Pai que ainda encontram-se em um processo de santificação e de correção...

Abraços!!!