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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Misterioso fundão

Na Alemanha hoje é dia dos pais. Então vai aí minha homenagem com o belíssimo texto roubado de Tuco Egg.

 

“Sentado na areia observo meus filhos brincando.

A praia, para eles, é lugar de mistério, fantasias espetaculares e emoções intensas. Pulando sobre ondas eles enfrentam monstros, gigantes e dragões. Cruzam oceanos sobre suas pequenas pranchas, vencendo piratas e lutando com tubarões. Castelos de areia são fortalezas intransponíveis. Muralhas erguem-se sobre eles e legiões de soldados atacam impiedosamente seus domínios como ondas. E, se as paredes são destruídas, eles mesmos se lançam sobre os vagalhões com coragem, distribuindo golpes, saltos, gritos e poses. E saem vitoriosos.

Vivi cada uma dessas aventuras um dia. E sei que nada no infinito horizonte de qualquer que seja o litoral se compara à ousadia insana de desvendar, nos braços do pai, os insondáveis mistérios do "fundão".

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Lembro-me de transpor ondas gigantescas sob o impacto violento da água. Da assustadora espuma branca, da força da corrente, do repucho traiçoeiro. A inóspita e apavorante arrebentação poderia ceifar a vida deTitãs. Por isso eu sabia que, mais do que tudo, teria que agarrar-me com todas as forças ao corpo daquele jovem herói. Ele vencia as ondas por mim. Dominava-as, feria suas cristas com o corpo esguio, sem recuar. Convicto, poderoso como Hércules, me agarrava e comprimia forte e carinhosamente em seu peito. De repente, a calmaria. Mar escuro, horizonte eterno, brisa. Ele podia agora me soltar, me jogar para cima, me ver nadando de volta. Eu estava, com ele, onde nenhuma outra criança poderia estar. Nos braços de meu pai eu havia vencido o mais impiedoso inimigo e encontrava-me agora no enigmático "fundão".
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Quando meus filhos saem das ondas correndo em minha direção, olhos fixos em mim, expectativa estampada no rosto, sei o que me espera. Conheço todas as suas emoções e sei que eles nada sabem sobre as minhas. Nem desconfiam que as gotas salgadas que escorrem dos meus olhos enquanto corto as ondas, com eles em meus braços, na direção mística do "fundão", não são água do mar.”

em A Trilha

Teologia Livre é isso, desvendar mistérios, agarrando-se aos braços do Pai, e deixar que Ele te leve para o fundão, ousada e insanamente.

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