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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Plano ou Contingência?

O enfrentamento Nicodemus X Gondim teve mais um “round” no “ring” cibernético, graças novamente a uma tragédia de âmbito mundial, a queda do AF447.
À semelhança do primeiro embate, por ocasião da catástrofe do Suname, o teólogo reformado Augustus Nicodemus partiu para debater as idéias propostas por outro teólogo de destaque no meio evangélico brasileiro, Ricardo Gondim. O ataque desta vez foi mais sutil, mas não menos ofensivo, no que tange os conceitos debatidos. Não menos esperto, desta vez, ele se reportou a um pseudo amigo de nome Bonfim (troque B por G e f por d e temos Gondim).
Gondim, sempre na vanguarda, colocou em seu site na internet um texto para meditação de seus leitores. Com oito parágrafos, 13 interrogações e pelo menos 12 menções diretas à idéia de “plano”, “causa” ou “objetivo”, ele discorreu sobre aquilo que chamou de “Contingência”, relacionando-a ao acidente do AF447. Ou seja, a causa última do acidente é justamente o “não plano”, a inexistência de causa inteligente ou um objetivo específico e maior. Em suas próprias palavras “um avião cai porque o mundo é contingente, não porque tenha sido vítima do destino ou de um plano de Deus”.
A reação imediata de Nicodemus, como na ocasião anterior, foi escrever um texto em seu Blog refutando a tese do pastor da Betesda. Para o chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o qual valeu-se de 16 parágrafos, duas interrogações e pelo menos 14 menções direta à idéia de de “causa”, “plano” ou “objetivo”, a queda do avião, não somente estava nos planos de Deus, assim como foi determinada por Ele. Em um só parágrafo o blogueiro usou nove vezes a expressão, “foi Deus quem” (ou variações desta) intercaladas com vários versículos bíblicos, numa tentativa de demonstrar que a ira de Deus seria motivadora das tragédias, as quais teriam sua causa no pecado original. Retórica essa a matar de inveja qualquer dos amigos de Jó.
Por outro lado, com suas inquietantes perguntas, um dos nordestinos mostrou que as explicações piedosas não convencem nem consolam. Impossível seria que Deus usasse deste mecanismo cruel para despertar o homem para o arrependimento. (De fato, o texto bíblico sinaliza que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento).
Já o outro nordestino, em sua estratégia sofista, começou apontando supostas fraquezas do seu destinatário fictício, como a revolta e a aflição e se dispôs a ajudá-lo. Isso não somente é uma tentativa de vencer o debate já no ínicio, fora do plano das idéias, pela desmoralização do adversário, mas reflete infelizmente uma atitude comum em líderes evangélicos, que sempre se vêem no papel de paizão prontos a ajudar crianças imaturas e assim ocultam suas próprias fraquezas e dúvidas.
Finalmente Nicodemus aponta para o misterioso plano divino em sua totalidade, onde o objetivo da tragédia em foco estaria incluído como uma forma de “desapegar o homem das coisas desta vida e levá-lo a refletir sobre as coisas vindouras”. Essa, obviamente, é outra afronta direta à teoria de Gondim que apela para um viver intenso, uma vez que essa vida é imprecisa e efêmera.
Para esse autor, a contigência foi o caminho que o Criador achou para nos proporcionar liberdade e nos fazer humanos. Sem ela seríamos meros robôs, ou quem sabe deuses ou demônios.
Para mim, que sou administrador e não teólogo fica algo bem claro de todo esse debate e acontecimento: Na TGA – teoria geral da administração – a “teoria das contigências” absorveu todas as demais e mostrou-se preponderante pois é frente aos imprevistos que o bom administrador mostrará suas competências e versatilidade, não só em planejar, mas também para organizar, para dirigir e para controlar.
Pelo visto as contigências servem não somente para revelar um bom tomador de decisões, mas também um exímio mestre da Palavra.
Que o vento do Espírito, Ele mesmo, console os parentes das vítimas desse acidente, no Brasil e no mundo afora.

8 comentários:

O Tempo Passa disse...

Vários pensamentos me vem à mente:
Primeiro: cibernético, Roger, com "c"!!! He, he, he...
Segundo: uma imagem fala mais do que mil palavras. A tua é perfeita!!!
Terceiro: nascido em lar presbiteriano conservador, criado no ambiente questionar e intelectual da ABU, nunca senti incompatibilidade entre as duas posições apresentadas. Não entendo a raiva com que Nicodemus ataca quem não segue sua cartilha determinista... não sei porquê Gondim não aceita que Deus, maior do que tudo que possamos imaginar, está no controle de tudo, até mesmo das tragédias.
Para mim, Deus é soberano, e isso não quer dizer que tudo que acontece é da vontade dEle; tragédias acontecem, e isso não quer dizer que Deus não está no controle.
Contraditório??? Não!!! Paradoxal!!!
Um dia, o que vejo como em névoa me será claro como o sol. Essa é minha esperança.
Portanto, dialoguemos, troquemos impressões, intuições, sentimentos, reflexões, raciocínios. Na boa, sem raiva nem ressentimentos, sem ataques pessoais e acusações torpes. Somos todos pó... inclusive eu, você, eles...
Sobre o acidente: "meu coração fica com o coração dos familiares". Só isso.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Amigo Rubinho,
seu precioso comentário traz-me o tempero certo que faltou ao meu texto um tanto quanto apimentado. Como Alysson já me disse, gosto de uma polêmica.
Mas não pela polêmica em si mas como exercício de diálogo e esforço de compreenção e aceitação mútua, se não das idéias pelo menos das pessoas por trás delas.
Às vezes o problema na tônica da soberania de Deus é quando ela vem da boca de segundos ou terceiros. Jó não demorou muito para reconhecer, Deus dá, Deus tira, mas esse conhecimento saiu dos lábios do vitimado e não de outros, e isso, a meu ver, faz toda a diferença.

Um saudoso abraço,

Roger

Lou H. Mello disse...

Meu pseudônimo para Gondim é mais original, em minha opinião, lógico, é Gordim, ou seja só mudei uma letra. A intenção não foi menosprezar o nome dele, longe de mim tal pecado. Antes de mais nada, é só a prática da ofensa vertical criada pelo Brabo a fim de auferir audiência blogstica. Depois, devo a ele ter perdido meu emprego na Igreja Maná, justamente por concordar com o que ele escreveu sobre os neo-pentecostais em um livro ridículo de sua autoria, mas tá limpo. Quanto ao Tonicodemus, acho pura perda de tempo ficar lendo as tolices que escreve. Para mim, ele também vive fazendo ofensa vertical, pelos mesmos motivos que eu.
Como escreveu o Rubinho, nessa só dá para ficar enxugando as lágrimas dos familiares do vôo 447 e com todo o respeito que conseguir juntar.

jubis disse...

INfelizmente não se consegue aceitar as diferenças de pensamento. O sr. Nicodemus parte para o ataque pessoal em vez de debater idéias. Creio que a reflexão do Ricardo é muito mais coerente, exprebiteriana que sou. Livre Arbítrio, contingência, egoísmo humano, graça de Deus fazem muito mais sentido. Parabéns pelo seu texto muito bem escrito.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Amigo Lou,
concordo, concordo e concordo com suas palavras. Não para evitar a discussão, mas é isso aí mesmo.
Não escondo minha preferência pelo Gondim, um cara com idéias e inspirado. E que tenta se eximir do papel de paizão.
Do Augustus, ainda não consegui formar uma imagem mais clara ou positiva. É um outro mundo, outro background, outros valores.
Abração pra você,
Roger

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Jubis,

gracias!
Sua visão é correta o elemento pessoal é gritante no texto. Entendo que é um exercício quase impossível separarmos as idéias das pessoas que a expressam. Por isso todo cuidado é pouco...

Abrçs fraternos,

Roger

Humberto R. de Oliveira Jr disse...

Meu caro amigo Roger,

Seu texto foi fortemente criticado em uma lista xiita da qual faço parte (já tentei sair mas parece que o yahoo não quer me tirar dela, deve ser predestinação).

A propósito de discutir seu texto, a Ultimato também levou umas boas pancadas. Entrei no pleito e não admiti que a chamassem de lixo.

Conclusão, não vale a pena discutir com esses caras.

Não vale, não vale, não vale mesmo...

Entristeço-me profundamente a cada discussão...

Abraço, meu mano-amigo!

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Caríssimo Beto,

como você bem falou em seu inspirante Blog, sobre os palavrões (que seria a primeira saída nessas debates) é melhor economizá-los para os momentos apropriados. Embora que um xiita, grande ou pequeno, mereça ouvir certos adjetivos e mandado para certos endereços com todos os acentos e pontos.

Interessante é que o Augustus nem publicou meu comentário onde eu elogiava sua abertura para os comentários e fazia referência a este texto... o que põe um ponto final ao nosso conturbado "diálogo".

Valeu pela dica!

Abrçs,

Roger