O primeiro emprego
Joaquim sentou-se à mesa, enquanto tomava seu café, observava um menino que diligentemente limpava as mesas e colocava os talheres ao lado dos pratos. Isso transportou-o para a experiência de seu primeiro emprego - um dos acontecimentos mais relevantes de sua pacata vida. Lembrou-se de quando, em São Domingos, aos 12 anos de idade, foi substituir Zinho, seu irmão, e trabalhar como garçom num bar central da cidade. A emoção foi grande mas durou pouco pois mudaram logo depois para Maringá e não deu nem para viver intensamente aquela alegria. Não teve nem carteira assinada.
O seu verdadeiro primeiro emprego foi aos 14 anos, no Rio de Janeiro, com carteira assinada, quando foi contratado como office-boy para trabalhar no escritório de engenharia do Dr. Marcus Kaz, que ficava no 10 andar da Rua México, 11, na Esplanada do Castelo. Esta foi de fato a sua primeira experiência como empregado e que durou quase três anos. Fazia a faxina do escritório e os serviços de rua, exceto banco. Seu chefe era um paranaense, amigo da família, que era o contador da firma e no escritório só havia dois funcionários, ele e Joaquim. O Dr. Marcos Kaz era engenheiro e só ficava visitando suas obras. Não parava no escritório. Joaquim morava na baixada fluminense, distrito de Nova Iguaçu e levantava todos os dias às cinco da manhã para tomar o trem suburbano da Central do Brasil e ir para o centro do Rio. Era o final da década de sessenta e foi com este emprego que aprendeu a andar pelas ruas do Rio de Janeiro, a conhecer detalhadamente o centro do Rio e alguns de seus bairros, principalmente Vila Isabel onde morava seu chefe e Laranjeiras, onde morava o seu patrão e onde sempre tinha que ir a serviço de um deles. Foi um aprendizado riquíssimo para um jovem simples que chegava do interior do Paraná e que descobria os encantos, os perigos e os desafios da Cidade Maravilhosa, numa época menos perigosa do que hoje.
O primeiro emprego lhe veio à memória e o que isto representava para a vida de todos. Em sua alma essa experiência estava fortemente cunhada como primeiro e efetivo exercício de independência e cidadania. A conquista da autonomia tanto sonhada e dos primeiros trocados que ganhamos para com eles adquirir os primeiros objetos que desejava possuir sem ter que pedir dinheiro ou autorização a ninguém.
Nosso desempregado já estava ao volante quando ainda relembrava de tudo aquilo. Seu coração, contudo, se acelerou de verdade quando se viu obrigado a reduzir a velocidade e passar por uma blitz da polícia rodoviária. Sua vã cautela não ajudou em nada: o guarda fez sinal para ele encostar o veículo.
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