Páginas

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Pinta Brava

x27045781[1] Pinta Brava era um menino malvado e mal criado. Por qualquer coisinha a ira já sobia-lhe à cabeça.

Por não ter conhecido o pai, Pinta Brava cresceu com um forte complexo de Édipo.

Após receber uma palavra "profética" de uma tia, ele resolveu dedicar-se à religião. Virou pastor.

Seu complexo de Édipo impedia-lhe de submeter-se a qualquer autoridade. Não demorou muito fundou sua própria igreja.

Seu ministério quase fracassou, quando a esposa o abandonou por longo período. Nessa época pinta brava jejuou 40 dias e perdeu 20 Kilos. Não se sabe ao certo se por resposta às orações ou se por medo de que o marido morresse por desnutrição, o fato é que a mulher voltou para casa.

Juntado seu temperamento ao seu complexo de Édipo, Pinta Brava tornou-se uma espécie de coronel evangélico. É verdade, após sua conversão, tratou de começar a reprimir sua marca natural de braveza. Evidentemente não foi bem sucedido na tarefa: quando mostrava mansidão era logo tido como (ou se sentia) um frouxo, mas assim cativava aqueles que careciam da figura de um pai "bonzinho" ou simplesmente amoroso.

Por outro lado, a demanda da garotada que ele mentoreava era grande. E Pinta Brava acabava tendo seus surtos de ira, mostrando sua verdadeira (ou pelo menos, mais antiga) face.

Sua carreira era um verdadeiro vai e vem entre Mr. Hyde envolto em ira, a controlar, disciplinar e comandar a vida alheia dos que tinha "sob sua autoridade" e as aparições de Dr. Jekyll, o papai bonzinho, a querer adotar a todos órfãos que como ele não possuíram um pai de verdade.

Um dos hábitos mais comuns de Pinta Brava era esbravejar em seus sermões os versos mais ameaçadores da Bíblia para apavorar sua platéia. Logo, logo aquilo que para uns no início era entendido como respeito, aos poucos ia sendo traduzido simplesmente como medo.

De todas as suas armas, a favorita era fustigar o sentimento de culpa, para a qual encontrava munições de sobra na literatura evangélica (principalmente do século passado).

Claro que aquele garoto também não era o capeta, ele levou para a idade adulta uma série de qualidades que o fizeram destacar em sua posição. Possuía senso de honestidade e não era avarento. Ele era também um bom músico.

Certa vez Pinta Brava estava em sua casa, no interior do país, tocando piano, quando teve um ataque cardíaco e faleceu.

No seu velório, seus prováveis sucessores ainda brigavam para saber quem iria fazer a pregação de despedida, quando a viúva apareceu com um primo padre para fazer uma celebração ecumênica. Alguns juram que viram nessa hora Pinta Brava revirar no caixão.

Esta obra é uma ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos é mera coincidência.

Leia também: O complexo de Mr. Love (quando o senhor amor vira o senhor ódio)

Nenhum comentário: